Quase lá: Bispa anglicana diz que papa assumiu um “risco” ao convidá-la para reunião de cardeais

Uma bispa anglicana que se dirigiu ao Papa Francisco e a seu Conselho de Cardeais diz acreditar que o pontífice assumiu um “risco” ao lhe estender um convite para falar ao grupo e espera que a Igreja Católica continue explorando o tema da liderança feminina com “coragem”.

A reportagem é de Christopher White, publicada em National Catholic Reporter, 26-02-2024. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

“Estou ciente – principalmente pelas várias reações que se seguiram – que para muitos essa oportunidade parece rara, senão até histórica. Estou grata pelo privilégio e quero igualmente honrar o risco que o Papa Francisco certamente correu ao me acolher”, disse a bispa Jo Bailey Wells, vice-secretária-geral da Comunhão Anglicana, em uma entrevista por e-mail ao National Catholic Reporter após sua visita a Roma.

Wells foi uma das três mulheres que, no dia 5 de fevereiro, se reuniu com o papa e com aquele que é frequentemente chamado de “C9”, o grupo de nove cardeais que se reúne trimestralmente em Roma para aconselhar Francisco sobre a governança da Igreja.

Embora o grupo tenha historicamente centrado suas reuniões na reforma da burocracia vaticana, durante suas duas últimas reuniões o órgão discutiu o papel das mulheres na Igreja.

“Isso sugere que ele vê o valor do envolvimento ecumênico não apenas para a colaboração entre as Igrejas, mas também para escutar e aprender uns com os outros”, disse Wells sobre a decisão do papa de incluir mulheres, uma delas anglicana, pela primeira vez na reunião geralmente masculina.

Segundo Wells, a irmã salesiana Linda Pocher, professora de Cristologia e Mariologia na Pontifícia Faculdade de Ciências da Educação Auxilium”, de Roma, organizou a sessão a pedido do papa.

O convite à própria Wells chegou inesperadamente no fim do ano passado. Pocher pediu-lhe “que falasse sobre a história da ordenação de mulheres na Igreja da Inglaterra e na Comunhão Anglicana, oferecendo uma perspectiva pessoal, assim como uma jornada eclesial mais ampla”, disse Wells.

Em sua carta apostólica Ordinatio sacerdotalis de 1994, o Papa João Paulo II escreveu que a Igreja Católica “não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres” – uma posição que Francisco tem defendido repetidamente.

Mas, ao longo de seu papado de uma década, Francisco também expandiu o diálogo da Igreja Católica tanto com a Comunhão Anglicana quanto com os ministérios femininos.

Wells disse que, durante a manhã que passou com o papa e seus principais conselheiros, ela contou a história de Li Tim Oi, que em 1944 se tornou a primeira mulher a ser ordenada ao presbiterado anglicano. Naquele tempo, era impossível aos padres do sexo masculino visitarem a congregação chinesa de Tim Oi em Macau, o que levou à sua ordenação em circunstâncias excepcionais.

Quase meio século depois, em 1992, o Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra votou pela ordenação das mulheres, embora a legislação subsequente permitisse que certas paróquias não aceitassem mulheres ordenadas como padres.

Entre as mulheres ordenadas padres logo depois estava Wells, que em 2016 foi nomeada bispa. Além de ter lecionado na Duke University e em Cambridge, Wells é agora a bispa do ministério episcopal com sede no escritório central da Comunhão Anglicana, que ajuda a fornecer recursos e promover a conexão entre os bispos anglicanos.

Em Roma, disse Wells, ela discutiu os “níveis de tomada de decisão em relação às mulheres nas três ordens, diaconal, presbiteral e episcopal” com o papa e os cardeais.

“Embora eu esteja totalmente convencida de que Deus chama as mulheres ao ministério sacramental por meio da ordenação das mulheres às três ordens – até porque eu experimentei o desafio e o privilégio desse chamado – meu maior desejo pela Igreja Católica é que cada membro possa ser confirmado e capacitado no ministério, assim como no discipulado, à maneira e no tempo de Deus", disse ela ao NCR.

Wells disse que o papa e os cardeais “ouviram atentamente, como evidenciado pelas suas perguntas e pela discussão que se seguiu”.

Além disso, ela afirmou que ficou impressionada com o Sínodo sobre a Sinodalidade em curso no Vaticano, onde, pela primeira vez, Francisco estendeu o direito a voto aos leigos, incluindo as mulheres, na sessão de outubro passado. Entre os temas discutidos nas deliberações do Sínodo, estavam questões sobre a ordenação de mulheres ao diaconato assim como ao presbiterado.

A “necessidade urgente” de papéis ampliados ao ministério femininos, como descreveu o relatório de síntese do Sínodo, deverá estar no topo da agenda quando os delegados do Sínodo se reunirem novamente em Roma, em outubro próximo.

“Podemos esperar que, seja qual for o caminho a seguir em termos de mulheres e de ordenação, o Espírito estará trabalhando para afirmar e aproveitar os dons e as graças investidos nas mulheres para o bem de todo o corpo de Cristo”, disse Wells sobre o Sínodo.

Após a conclusão do encontro do papa e seus cardeais com as três mulheres, Pocher – a salesiana espanhola que organizou o encontro – disse acreditar que Francisco é “muito favorável ao diaconato feminino”, mas que a ordenação de mulheres permanece fora de questão para ele.

Mesmo assim, Wells disse estar impressionada e esperançosa depois de sua passagem pelo Vaticano e que espera que seu encontro com as principais lideranças da Igreja encoraje a continuidade dos debates.

“Espero que o dom da tradição possa ser visto como algo potencializador, em vez de dificultador, para as possibilidades de inovação”, disse ela. “Espero que o debate sobre o lugar específico das mulheres ajude a construir um modelo de ministério no qual cada membro – homem e mulher – desempenhe um papel ativo. Espero que a Igreja continue explorando o tema específico do papel das mulheres com coragem, ouvindo as vozes das mulheres e também dos homens enquanto delibera teológica e canonicamente, na expectativa de que (sempre) tenhamos muito a aprender.”

E Wells acrescentou: “Espero que a Igreja possa acolher e crescer a partir das diferentes vozes nesse debate e, assim, apreciar como a própria diversidade pode ser um dom para expandir nossos horizontes e enriquecer a vida da Igreja. Não apenas a diversidade em termos de homem e mulher, mas também a diversidade em termos de pontos de vista”.

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fonte: https://www.ihu.unisinos.br/636868-bispa-anglicana-diz-que-papa-assumiu-um-risco-ao-convida-la-para-reuniao-de-cardeais

 


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