Quando celebramos esse dia, reconhecemos que ainda temos uma longa caminhada e o caminho é a luta cotidiana pelo fim do racismo patriarcal, para que nenhuma mãe negra continue a derramar lágrimas de dor pel@ seu/sua filh@, sua/seu irmã/irmão, seu/sua parente vitimad@ pelo extermínio das juventudes negras periféricas.
Cfemea - 25 de julho de 2024.
“Suas raízes
Um horizonte ancestral
Toca o fio desse espaço
Tecendo a vida do povo quilombola”.
Rosane Jovelino
Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, 25 de julho. É um dia de visibilidade das lutas e este ano a data completa 30 anos de sua criação. Trata-se da luta pelos direitos e por Bem-Viver. Quando celebramos esse dia, reconhecemos que ainda temos uma longa caminhada e o caminho é a luta cotidiana pelo fim do racismo patriarcal, para que nenhuma mãe negra continue a derramar lágrimas de dor pelo seu filho, seu irmão, ou seu parente vitimado pelo extermínio das juventudes negras periféricas. Para que nenhuma mulher negra sofra porque o sistema de saúde, público ou não, use do adjetivo de “mulher forte” para diminuir a quantidade de anestesias nos momentos de dor no corpo físico. As mulheres negras, são a base da pirâmide quando se trata das desigualdades sobrepostas. São as donas dos piores salários e são maioria das pessoas em situação de desemprego. São as meninas negras que deixam de estudar para cuidar de irmãos pequenos ou de pessoas idosas e doentes.
Por outro lado, são as mulheres negras que nos guiam na longa marcha pelo Bem-viver, e trilham cada centímetro das lutas pelos Direitos Humanos, construindo as alianças necessárias para chegar aos espaços de poder e decisão, aquilombando a política e fazendo a resistência em todos os cantos do Brasil e na imensa América Latina e Caribe. São elas que gritam pela Amazônia: “querem te acabar, as mulheres não vão deixar”.
Na jornada de 2024 temos caminhado na fortaleza das alianças feministas antirracistas entre mulheres negras, quilombolas e indígenas e mulheres brancas desejosas de fazer acontecer com determinação, por meio de alternativas de proteção, luta, preservação, autodefesa, resistência e cuidado para os territórios corpos, natureza, terra comunitária e vida. Caminhamos no cuidado, na luta por sustentação da vida dos territórios, vida das mulheres nos territórios.
Percorremos muitas estradas, longos tempos para a chegada no quilombo, lugar ancestral de vida e resistência contra as formas de opressão colonial. Auto organização comunitária contra colonial. Com mãos, coração e corpo, território político que alimenta sonhos de liberdade, cultura e legados, atemporal de pesca e banho de rio, farinha de tapioca, açaí e mandioca forte são preparos de sustentação do convívio coletivo, da harmonia com a diversidade com a natureza, outros mundos vividos no passado, no agora e por vir. Devir Bem Viver, agora! Uma delícia de força e partilha generosa.
“Dentro do capitalismo não há solução para a vida;
Fora do capitalismo há incerteza, mas tudo é possibilidade.
Nada pode ser pior que a certeza da extinção.
É tempo de inventar, é tempo de ser livre, é tempo de viver bem”. Ana Esther Ceceña
Um tempo para chegar, pisar, conviver e sentir o território. Escutar a vida das mulheres, o que elas fazem, como se organizam, quais os desafios e necessidades, quais os sonhos, os desejos e as vontades para sustentar a vida no quilombo.
A organização vem da união das mulheres no quilombo. Suas costuras de vida se dão através das máquinas, tecidos africanos, bem coloridos e linhas diversas. Fazem joias naturais, sustentáveis com as sementes das árvores, pinturas e grafismos. A partir da confecção das roupas tentam participar das feiras negras para vender e compartilhar os ganhos da criação de modelitos afro-amazônicos. Enfrentam diversas dificuldades e desigualdades dentro e fora do quilombo. No cuidado com o corpo, com a escuta e acolhimento traçamos novas rotas de refino das parcerias/irmandades para o agora e o futuro com diálogos, reflexões e projetos que movem nossos desejos determinados por liberdade, autonomia e direitos.