No DF, que tem maior média de tempo da população na escola, diferença entre etnias ainda é de 1,3 anos
A lei nº 10.639, que institui a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileiras nas escolas, foi criada em 2003 e ainda encontra entraves para ser completa implementada no Distrito Federal. - Agência Brasil
A jovem Fabiana Andrade interrompeu seus estudos no 1º ano do ensino médio para trabalhar e só agora, em 2024, conseguiu voltar a estudar, depois de quatro anos fora da sala de aula.
Andrade é uma jovem negra e seu caso contribui com a estatística de que, no Distrito Federal, pessoas pretas e pardas (negras) estudam em média 11,5 anos, enquanto as brancas 12,8 anos. Os dados foram retirados da educação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua sobre 2023.
A pesquisa começou a ser feita em 2016 e nesses sete anos houve uma diminuição entre a diferença de anos nas escolas de pessoas brancas e negras (pretas e pardas). No primeiro ano da pesquisa, pessoas brancas estudavam em média 2,2 anos a mais que as negras no DF. Atualmente essa média caiu para 1,3 anos.
O Distrito Federal é a unidade da federação, com o maior média de anos de pessoas negras na escola (11,5 anos), sendo a média nacional de apenas 9,5 anos. No entanto, enquanto a média nacional de pessoas brancas na escola é de 10,9 anos, no DF esse índice chega a 12,8 anos – o maior da pesquisa.
“Eu tive que sair da escola basicamente porque o dinheiro da minha mãe, que é sozinha, não estava dando para manter a casa e todo lugar que eu procurava trabalho queriam o dia todo. Então tive que sair”, narrou Andrade.
“Eu sei que o estudo é o melhor caminho e quero fazer faculdade de enfermagem”, afirmou a jovem que, aos 23 anos, cursa atualmente o 3º ano do ensino médio.
Para a diretora de Assuntos de Raça e Sexualidade do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), Márcia Gilda, a explicação para esta realidade, em que pessoas negras estudam menos que brancas, vem de um conjunto de fatores, que vão desde uma maior disponibilidade de escolas no centro de Brasília até os fatores sociais e históricos.
“Devido às diferenças de renda, existe uma grande pressão para que os jovens negros adentrem mais cedo no mercado de trabalho. Olhando todos esses elementos podemos chamar esse fenômeno de racismo estrutural, ou seja, esse conjunto de barreiras que atrapalham o progresso da vida escolar dos jovens negros”, explicou Gilda.
Na avaliação da sindicalista, o poder público precisa primeiramente compreender que estamos tratando de um fenômeno estrutural e então apontar medidas estruturais como a construção de mais escolas públicas e valorização do magistério para atuação nas periferias.
“Programas como o 'Pé-de-meia', recém-lançado pelo governo federal, também são bem-vindos, pois geram um incentivo econômico para que os jovens permaneçam na escola”, lembrou Gilda, destacando que também são necessárias mais ações sociais que combatam as desigualdades que empurram esses jovens para a evasão escolar.
“Essa realidade além de ajudar a perpetuar o racismo, também é resultado do próprio racismo e quebrar esse ciclo contribui para diminuir a desigualdade racial em nosso país”, analisou a diretora do Sinpro, acrescentando: “Entender que as raízes desse problema tem a ver com a histórica segregação da população negra nos ajuda a lutar por medidas reparatórias em todos os campos, não apenas na educação”.
Educação antirracista
A lei nº 10.639, que institui a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileiras nas escolas, foi criada em 2003 e ainda encontra entraves para ser completa implementada, conforme destacou a professora Neliane Maria, integrante da Frente das Mulheres Negras do DF e do Fórum Distrital de Educação (FDE).
"Sua aplicabilidade exige pensar e fazer uma educação para todas e todos, do financiamento ao currículo, da gestão escolar à formação continuada, fazendo com que as escolas sejam acolhedoras e transformadoras", afirmou Neliane, destacando a importância da medida no combate ao racismo e evasão escolar da população negra.
"Os dados apontam a desigualdade racial e o racismo estrutural da sociedade, não só na educação, mas também no acesso e permanência ao emprego, saúde, moradia e direitos básicos", analisou a militante da Frente Mulheres Negras ao falar dos dados da Pnad Continua.
Secretaria de Educação
Em nota, a Secretaria de Educação do DF (SEEDF) afirmou que está comprometida com a erradicação do analfabetismo das pessoas a partir dos 15 anos, por meio de “abordagens amplas e inclusivas”, como a Educação de Jovens e Adultos (EJA). “A Secretaria busca atender a população de maior vulnerabilidade, com a oferta descentralizada de EJA e com a possibilidade de matrícula a qualquer tempo, nas 99 unidades escolares de EJA, distribuídas nas 14 Coordenações Regionais de Ensino”.
“A SEEDF espera que suas políticas e iniciativas contribuam para a redução do analfabetismo de forma geral. Isso sugere uma visão holística que visa abordar as causas subjacentes do analfabetismo e promover a inclusão educacional em toda a comunidade”, acrescentou a Pasta destacando que tem como um compromisso com a educação inclusiva e o combate ao analfabetismo, para toda a população do DF.
O Brasil de Fato Distrito Federal também encontrou em contato a Secretaria de Justiça e Cidadania (que tem na estrutura a Subsecretaria de Igualdade Racial) para comentar os dados e apontar políticas públicas para reduzir essa desigualdade raciais no DF, mas a Pasta não respondeu.
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Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Márcia Silva