Quase lá: Juristas negros(as) propõem educação antirracista para combate à discriminação racial

Encontro do Centro Observatório das Instituições Brasileiras ocorre na Faculdade de Direito da USP, reunindo magistrados de diferentes instituições de ensino jurídico

Publicado: 12/04/2024 - JORNAL DA USP
Por

Encontro reunirá docentes de diferentes Estados do Brasil de forma remota e presencial - Fotomotangem de Jornal da USP com imagens de Reprodução/Museu Paulista e rawpixel.com/Freepik
 

No próximo dia 16 de abril (terça-feira), a Faculdade de Direito (FD) da USP realizará o seminário Direito, Relações Raciais e Democracia no Brasil Contemporâneo. O evento acontece das 9 às 20 horas na Sala da Congregação da tradicional faculdade no Largo de São Francisco, centro de São Paulo. Coordenado pela professora de Direitos Humanos e Direito do Estado, Eunice Prudente, e pela pós-doutoranda da FD Vanessa do Canto, o evento reunirá docentes de diferentes Estados do Brasil de forma remota e presencial. 

Para participar, é necessário se inscrever gratuitamente pelo formulário on-line.

O encontro do Centro Observatório das Instituições Brasileiras promoverá debates e discussões sobre as relações entre o direito, educação e antirracismo. Além de discutir os desafios e perspectivas da democracia para pessoas negras na América Latina.

“Em uma sociedade miscigenada com uma cultura tão rica como a brasileira, que tem fundamento em todos os povos do mundo, nos impressiona a existência de violências discriminatórias de natureza étnica. É muito importante que, pela via da educação, os brasileiros se conheçam e tenham acesso às contribuições de todos os povos, inclusive as etnias africanas, para a formação do Brasil” aponta Eunice Prudente, coordenadora do seminário, em entrevista ao Jornal da USP.

Doutora em Direito e primeira mulher negra docente da FD, Eunice é um símbolo da luta antirracista no Brasil há décadas. Em sua dissertação de mestrado ela foi a primeira jurista a propor a criminalização da discriminação racial no Brasil, em 1980. Como destaca Eunice, o evento foi proposto pela doutora Vanessa Santos do Canto, pós-doutoranda sob sua supervisão. 

A pesquisadora conta que o evento surge a partir de algumas reflexões realizadas no âmbito da pesquisa de pós-doutorado intitulada Educação jurídica antirracista e a formação de docentes e pesquisadores em Direito e relações raciais: Uma análise da produção acadêmica no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de São Paulo, Largo de São Francisco, de 1980 a 2021. “O objetivo geral do seminário é problematizar as ligações entre direito, relações raciais e democracia no Brasil contemporâneo, para estabelecer um debate sobre estes temas a partir dos olhares de juristas negras e negros de diferentes instituições de ensino jurídico do País“ afirma Vanessa, organizadora do seminário. 

Vanessa Santos do Canto - Foto: Arquivo pessoal

De acordo com a pós-doutoranda, a pequena quantidade de juristas negros não é um problema atual, mas reflete a forma com que os cursos de Direito foram formados no País, e se relaciona com a história do Brasil. “Os cursos de Direito no País apresentam, enquanto características fundantes, o bacharelismo, o legalismo e o formalismo, que foram utilizados para delinear instituições racistas, elitistas e fortemente hierarquizadas. Isto porque o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão no ano de 1888 e proibiu, durante todo o período imperial, que os escravos se matriculassem nas escolas e faculdades brasileiras”, aponta Vanessa.

Para Eunice, além de uma educação antirracista, é necessário que a população discuta como os órgãos jurídicos têm lidado com a discriminação racial no País. “ No âmbito do Direito é preciso, sim, discutir e conhecer como as instituições políticas, em especial do Poder Judiciário, Ministério Público e outros órgãos, estão efetivando a criminalização da discriminação racial. E através da educação, com a contribuição deste seminário, vamos descortinar algumas relações sociais ainda muito nebulosas entre nós, que ocasionam sem dúvida as violências raciais”, afirma.

A professora também destaca a importância de trazer à tona a contribuição do movimento negro na legislação brasileira. “As ideias preconceituosas expressam, além da violência, a ignorância, então são urgentes as contribuições para o esclarecimento e para a igualdade entre todos os brasileiros, como determinado pela nossa Constituição atual. Nesse seminário relembraremos as contribuições do movimento negro para o avanço do direito e da legislação, alcançando as violências raciais.”

Eunice Aparecida de Jesus Prudente, docente da Faculdade de Direito da USP - Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

Além das discussões, o seminário contará com conferências sobre temas como Mulheres Negras e Direito Constitucionalismo Latino-Americano, todas ministradas por juristas negros.

O evento será transmitido ao vivo em duas lives pelo canal do YouTube da Faculdade de Direito da USP, uma para a parte da manhã e outra para a noite.

Programação:

9h00: Mesa institucional de abertura – Direito, Relações Raciais e Democracia no Brasil Contemporâneo

9h30: Conferência de abertura 

10h30: Mesa 1 – Mulheres e Direito: Olhares sobre a pesquisa jurídica no Brasil

12h00: Intervalo

13h30 às 17h30: Grupos de trabalho

17h30: Intervalo

18h00: Mesa 2 – Relações entre Direito, educação, antirracismo e democracia: perspectivas e contribuições para uma nova cultura jurídica no Brasil

20h00: Conferência de encerramento – Constitucionalismo latino-americano e sua agenda pendente: Perspectivas e desafios para a democracia




Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Logomarca NPNM

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...