Número de pais e responsáveis por estudantes negros com medo de que os filhos desistam da escola é maior em relação às famílias brancas
No mês da consciência negra a 10ª edição da pesquisa Educação na perspectiva dos estudantes e suas famílias, encomendada ao Datafolha por Itaú Social, Fundação Lemann e BID, com apoio da Rede Conhecimento Social, mostra que o medo de que os estudantes dos Anos Finais (6º ao 9º ano) desistam da escola por falta de interesse pelos estudos é recorrente para 26% dos pais e responsáveis por estudantes negros. Já nas famílias brancas, o índice é de 23%
A pesquisa contou com a participação de 3.329 dirigentes de ensino, que concentram 3,4 milhões de alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano).
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Além da falta de interesse, existem outros motivos que poderiam levar à desistência da escola: 25% dos responsáveis por estudantes negros afirmam que seria por medo de serem reprovados contra 18% das famílias de estudantes brancos. Mais uma questão apontada pelos familiares que justificam a evasão escolar, de acordo com a pesquisa, é o fato de não conseguirem acompanhar as atividades, conforme apontado por 17% dos responsáveis por esses estudantes. A porcentagem de famílias brancas é de 16%.
Segundo as famílias entrevistadas, ainda há o receio de que 13% dos estudantes negros deixem a escola diante da necessidade de trabalhar ou de ajudar nas questões financeiras e 11% estudantes negros podem abrir mão dos estudos por não se sentirem acolhidos.
Com base nas discrepâncias sociais, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), revelou que a aprendizagem dos estudantes brancos dos Anos Finais do Ensino Fundamental para Língua Portuguesa era de 46% do esperado, ante 27% para os estudantes pretos. Em matemática, os índices retratavam 25% para os brancos e apenas 11,9% para os pretos. Ou seja, o aprendizado para os alunos pretos era 1,6 vezes menor em língua portuguesa e duas vezes menor em Matemática.
Além desses conteúdos, a implementação de conteúdos de ensino de história e cultura africana e afro-brasileira é listada como um desafio para 19,8% dos gestores municipais, ouvidos na pesquisa Percepções e desafios dos Anos Finais do Ensino Fundamental nas redes municipais, realizado pelo Itaú Social em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Em comunicado, a coordenadora de educação infantil do Itaú Social, Juliana Yade, avalia que o cenário educacional reflete o desafio de se construir um currículo sob a perspectiva antirracista. "Ressaltar a contribuição da população africana e afrodescendente para as diversas áreas do conhecimento é um ponto central para a missão de engajar estudantes negros. Além disso, é uma forma viável e justa de expandir o repertório de narrativas e valorizar a ancestralidade", comenta a coordenadora.
"As escolas têm oportunidade de apoiar na construção de uma sociedade antirracista, que valorize a diversidade e se opõe à naturalização das desigualdades e violências destinada no espaço escolar às crianças, adolescentes e jovens negros. Desta forma, ficará mais evidente o quanto ainda precisamos caminhar para diminuir as diversas lacunas de acesso de aprendizado adequado e de trajetórias irregulares, oferecendo a todos um ambiente afirmativo e conteúdos que considerem a equidade racial", conclui Yade.