Um outro dado que chamou a atenção é a subnotificação da informação racial: das 4.219 ocorrências, um em cada quatro não tinha a declaração sobre cor
De 4.219 pessoas mortas pelas polícias de oito estados brasileiros em 2022, 2.700 eram negros (pretos e pardos), o que representa 65,7% das mortes. Considerando apenas as pessoas que tiveram cor/raça declarada, a proporção de negros mortos sobe para 87,4%. Os dados são do estudo Pele Alvo: a Bala não Erra o Negro, realizado pela Rede de Observatórios da Segurança, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), e divulgado nesta quinta-feira (16/11).
O levantamento é baseado em estatísticas fornecidas pelas polícias do Rio de Janeiro, de São Paulo, da Bahia, de Pernambuco e do Ceará, Piauí, Maranhão e Pará. A pesquisa constatou que a polícia baiana foi a mais letal no ano passado, com 1.465 mortos (1.183 tinham cor/raça informada). Desse montante, 1.121 eram negros. Além disso, 74,21% das pessoas mortas na Bahia tinham entre 18 e 29 anos.
- Deputada quer criar Dia Nacional de Combate à Violência Policial
- 83% dos mortos pela polícia são negros, aponta relatório
- Estudo diz que negros têm maior chance de sofrerem abordagem policial
O segundo estado com mais letalidade policial contra negros é o Rio de Janeiro, com 1.042 mortos. Em seguida aparece Pernambuco, com 631 mortes. Segundo o coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), Pablo Nunes, a maior incidência de mortes de negros em abordagens policiais é influenciada pelo racismo estrutural.
CLIQUE AQUI PARA TER ACESSO AO RELATÓRIO
“Os negros são a grande parcela dos mortos pelos policiais. Quando se comparam essas cifras com o perfil da população, vê-se que tem muito mais negros entre os mortos pela polícia do que existe na população. Esse fator é facilmente explicado pelo racismo estrutural e pela anuência que a sociedade tem em relação à violência que é praticada contra o povo negro”, disse Pablo, à Agência Brasil.
Um outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores do estudo é a subnotificação da informação racial, pois das 4.219 ocorrências policiais do período analisado, um em cada quatro não tinha a declaração sobre cor. Esse cenário foi observado principalmente no Maranhão, no Ceará e no Pará. Nesse sentido, segundo a pesquisa, o número de mortes de pessoas negras por violência policial pode ser maior que o divulgado, por causa da falta ou escassez de informações de raça/cor em muitos estados.
“A dificuldade de ser transparente com esses dados também revela outra face do racismo, que é a face de não ser tratado com a devida preocupação que deveria. Se a gente não tem dados para demonstrar o problema, a gente ‘não tem’ o problema e, se ‘não há’ problema, políticas públicas não precisam ser desenhadas", avalia o coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC).