Quase lá: Mulheres protestam contra PEC da Anistia Partidária, tramitando na Câmara

Parlamentares e especialista consideram a proposta de emenda à Constituição, que teve a votação adiada pela terceira vez consecutiva em meio à pressões, racista e misógina; PEC busca livrar legendas de pagar multas por não respeitar cotas de recursos para candidaturas de mulheres e negros

 

Representantes de movimentos negros exibiram cartazes de protesto contra o texto do relator, o deputado federal Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP) -  (crédito: Evandro Éboli/CB/D.A Press)
Representantes de movimentos negros exibiram cartazes de protesto contra o texto do relator, o deputado federal Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP) - (crédito: Evandro Éboli/CB/D.A Press)
Foto de perfil do autor(a) Ândrea Malcher
Ândrea Malcher - Correio Braziliense
postado em 02/10/2023 12:52

A proposta de emenda à Constituição (PEC) que trata da anistia aos partidos de não pagarem multas por não cumprimento das cotas às candidaturas de mulheres e pessoas negras e, que, flexibiliza as sanções às legendas que apresentaram irregularidades nas prestações de contas (9/2023), teve sua votação adiada pela terceira vez consecutiva na Câmara na última semana. A proposta é controversa e reúne entre seus defensores dois rivais políticos: o PT e o PL.

Em meio aos pedidos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que indique uma jurista negra para a vaga aberta pela aposentadoria da ministra Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF), se amplia o debate da misoginia e racismo no poder.

“Isso tem a ver com a própria estrutura do patriarcado, a misoginia e o machismo, como a gente tanto critica”, observa, ao Correio Braziliense, Jolúzia Batista, articuladora política do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), um dos coletivos que compõe a Frente Parlamentar Feminista Antirracista com Participação Popular.

Para ela, o machismo é onde “reside a aliança de todos os partidos, de direita à esquerda”. “O feminismo sempre tem falado sobre isso e uma das questões mais difíceis, há 10 anos pelo menos, que existe uma movimentação muito grande para a reforma do sistema político e uma das questões da proposta feminista era a lista alternada de sexo”.

“Isso nunca passa dentro dos partidos porque, na verdade, o eixo central da estrutura partidária é machista. (...) E é aí onde reside a aliança de todos os partidos. Da direita à esquerda, é não mexer numa estrutura em que os homens ganham”, explica Jolúzia.

A articuladora política do Cfemea avalia, ainda, que a própria forma como a estrutura política eleitoral se organiza é uma evidência do machismo e racismo presentes nos espaços de poder. “Os homens brancos e os proprietários, se não proprietários, os aliançados com a estrutura do poder econômico que também é uma grande marca de todo o nosso processo político eleitoral, no financiamento privado nas campanhas, por exemplo, por mais que a gente tenha feito alguns movimentos tentando mudar essa estrutura. É uma estrutura política que realmente exclui as chamadas ‘populações minoritárias’”.

“As mulheres dentro dos partidos, sobretudo no campo de centro e à esquerda, travam uma luta muito grande contra o sistema partidário”, completa.

A PEC da Anistia foi defendida, ainda na análise de mérito na Comissão de Constituição Justiça e Cidadania (CCJC), pela presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR). “A multa deve ser para corrigir, não pode ser uma multa que realmente inviabiliza os partidos políticos, porque nesse caso se está contra a democracia, contra os instrumentos que são representativos da democracia. (…) Os órgãos de controle não podem sair aplicando multas de qualquer jeito e inexequíveis”, afirmou a parlamentar em maio.

Porém, a pressão ao governo por mais representatividade ganha corpo no Congresso. O Psol, que contou com um curioso alinhamento com Kim Kataguiri (União-SP), é contrário à medida. Na última terça, Guilherme Boulos (Psol-SP) pediu por um “debate mais amplo” sobre o tema e pontou que “essa anistia é péssima para a democratização dos espaços de Poder e, particularmente, do Parlamento do Brasil”.

Jilmar Tatto (PT-SP) reforçou o pedido e, segundo ele, a bancada petista está interessada em negociar outra porcentagem dos recursos destinados às candidaturas de pessoas negras dos partidos. Na PEC em tramitação, o mínimo previsto é de 20% do fundo partidário e o PT sugere que seja 30%.

O STF estabelece que os recursos das legendas devem ser destinados proporcionalmente a quantidade de candidatos negros ou pardos em ano eleitoral. Se o relatório da PEC for aprovado, seguirá para votação em plenário e precisará de pelo menos 308 votos para ser aprovado. O coordenador da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep) e advogado especialista em direito eleitoral, Renato Ribeiro de Almeida, avalia que a aprovação poderia indicar um grande retrocesso.

"A aprovação dessas PEC implica involução no sistema legal que confere o necessário espaço para as candidaturas femininas e de pessoas pretas. As sanções atuais, especialmente as multas, denotam um caráter pedagógico aos partidos. Caso aprovada a PEC, sem sanções severas, penso que muitos partidos não cumprirão o compromisso de incentivar efetivamente as candidaturas das mulheres e das pessoas pretas", alerta.

A deputada Dandara Tonantzin (PT-MG), relatora da atualização da Lei de Cotas, avaliou como “contraditório” o apoio do PT à PEC, “uma vez que afeta diretamente candidaturas de mulheres e pessoas negras”. “É inadmissível que essa PEC queira impor um retrocesso ao pouco que a gente conseguiu avançar sobre a participação das mulheres e negros na política. Mulheres negras são maioria na sociedade, mas subrepresentadas nos Parlamentos”, critica a parlamentar.

“Como Bancada Negra, a coalização de parlamentares negros de diferentes partidos políticos da qual faço parte, conseguimos transformar em piso os 20% de recursos públicos para o financiamento de candidaturas de pessoas pretas e pardas. E não teto, como a direita e extrema-direita queriam. Essa foi uma articulação da deputada Benedita da Silva”, finaliza.

 

fonte: 


Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Logomarca NPNM

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...