Em novembro de 2021, o coletivo Mães e Familiares do Curió lançou a versão física do livro Onze, com versão em áudio na voz delas no Spotify, contando a história da vida das 11 vítimas da Chacina do Curió. Com excelente edição, design e acabamento, o livro surgiu com o objetivo honrar a memória das vítimas e não deixar o caso cair nem no esquecimento nem nas narrativas racistas e preconceituosas, por se tratar de pessoas que moravam na periferia da cidade.
Chacina do Curió: réus recebem maior pena para policiais na história do Ceará
Na prática, acusados só podem cumprir até 30 anos de pena. Como o crime ocorreu em 2015, tempo de pena máxima é menor do que os 40 anos previstos na legislação atual
Autor Catalina Leite
A primeira parte do julgamento da Chacina do Curió chegou ao fim com a condenação e prisão imediata dos ex-policiais militares Antônio José de Abreu Vidal Filho, Marcus Vinícius Sousa da Costa, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio. Cada um deles recebeu, individualmente, a pena de 275 anos e 11 meses de prisão em regime inicialmente fechado; somados, são 1.103 anos e oito meses de sentença. Esta é a maior pena já aplicada a policiais do Ceará, confirma o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).
Todos foram considerados culpados pelo cometimento de 11 homicídios (contra nove adolescentes e dois adultos), três tentativas de homicídios, três crimes de tortura física e um de tortura mental. Os quatro perderam o cargo de policiais militares e, pela pena exceder 15 anos, foram sentenciados a cumprimento em regime fechado. As defesas irão apelar à decisão.
Três dos réus foram encaminhados a presídio militar, enquanto Antônio José de Abreu Vidal Filho teve nome encaminhado para a lista vermelha da Interpol. A defesa do policial argumenta que ele só voltará ao Brasil caso a condenação transite em julgado.
Também é o maior julgamento da história do Estado: apenas no primeiro júri, foram mais de 60 horas de processo. Ainda ocorrerão dois julgamentos envolvendo 30 outros réus, todos policiais militares, nos dias 29 de agosto de 2023 (com 15 réus denunciados e oito já confirmados para julgamento) e 12 de setembro de 2023 (com oito réus confirmados).
O promotor de Justiça Luis Bezerra Lima Neto diz que o Ministério Público do Estado (MPCE) encarou com naturalidade a sentença. “Já esperávamos esse resultado. Claro, com humildade, sabendo que a decisão é do Tribunal Popular, mas o MP fala em nome da verdade, da lei e da Justiça”, ponderou.
“O processo já estava carregado de provas que davam conta do envolvimento dos quatro policiais acusados, lastreados com provas técnicas e provas periciais, além de contar com fatos comprovados de, inclusive, testemunhas que faltaram com a verdade com o juiz”, revela Luis.
Sobre o pedido de apelo por parte da defesa, ele considera uma reação já esperada. “Nós continuaremos fazendo acusação responsável e pedir condenação daqueles que estão com provas já documentadas nos laudos”.
O promotor também explicou como será o tempo de pena: “Como os fatos aconteceram em 2015, só permite que a pessoa fique, no máximo, 30 anos encarcerada. Esse total de pena aplicada (hoje, 40 anos) só acontece em casos de progressão de regime. Devido a época do fato, eles ficarão, no máximo, 30 anos.”
Os nomes de réus confirmados para o próximos julgamento, em agosto, são: Thiago Aurélio de Souza Augusto, Thiago Veríssimo Andrade Batista Carvalho, Gerson Vitoriano Carvalho, Gaudioso Menezes de Matos Brito Goês, Josiel Silveira Gomes, José Haroldo Uchoa Gomes, Ronaldo da Silva Lima e Francinildo José da Silva Nascimento.
Para setembro: Antonio Flauber de Melo Brazil, Clênio Silva da Costa, Antonio Carlos Matos Marçal, Maria Bárbara Moreira, José Oliveira do Nascimento, Igor Bethoven Sousa Oliveira, Francisco Hélder de Souza Filho e José Wagner Silva de Souza.
(com informações de Lucas Barbosa. Colaboraram Alexia Vieira, Gabriel Gago, Marcela Tosi e Jéssika Sisnando)
Chacina do Curió: mães de vítimas fazem ato enquanto aguardam fim da votação do júri
Familiares dos réus também se reuniram em oração nesta manhã
Autor Alexia Vieira
Mães, familiares e amigos de vítimas da Chacina do Curió, ocorrida há oito anos na Grande Messejana, em Fortaleza, fazem um ato na frente do Fórum Clóvis Beviláqua na manhã deste sábado, 24. Dentro do Fórum, os jurados votam secretamente pela condenação ou absolvição dos réus julgados pelo crime.
Chacina do Curió: acompanhe o que aconteceu em quatro dias de júri
De mãos dadas, em círculo, os familiares pediram pelo fim da violência policial e por justiça pelo Curió. Todos os nomes das vítimas foram falados. Por fim, o grupo fez uma oração.
Do outro lado do pátio que fica em frente à entrada do Fórum, familiares de um dos réus também se reuniram para rezar pela absolvição.
A sessão foi retomada neste sábado às 10h. Depois do colegiado de juízes decidir sobre as modificações solicitadas pela defesa nos quesitos, todos saíram do salão. Às 10h35, somente os juízes, servidores, jurados, acusação e defesa continuaram no recinto para dar início à votação.
De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), a votação dos jurados pode levar horas. Todos os sete que compõem o júri devem responder os quesitos com "sim" ou "não" de forma secreta. São 360 quesitos a serem respondidos.
“São tantos porque é preciso delinear a autoria e a materialidade do crime. São muitos fatos a serem indagados. Então, cada fato desse vai ser relacionado a perguntas. Esses quesitos são perguntas feitas aos jurados, cujas respostas vão indicar se houve o crime, se foi o réu. Todas as perguntas são para que se tenha uma relação ou não dos réus com o crime”, explicou Elizabete Chagas, defensora pública geral.
Relembre as etapas do primeiro julgamento do Caso Curió
No primeiro dia de julgamento, na terça-feira, 20, os jurados foram sorteados e as primeiras testemunhas foram ouvidas. Ao todo, 19 pessoas fizeram depoimentos, incluindo vítimas sobreviventes, testemunhas de acusação e defesa. A oitiva continuou durante todo o segundo dia de julgamento, na quarta-feira, 21.
A quinta-feira, 22, foi marcada pelo depoimento dos quatro réus: Marcus Vinícius Sousa da Costa, António José de Abreu Vidal Filho, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio.
Os policiais militares acusados negaram envolvimento na chacina e questionaram provas apresentadas no processo pelo Ministério Público do Ceará (MPCE), que atuou como acusação.
No quarto dia de júri, nessa sexta-feira, 23, a defesa e acusação debateram, apontando provas, trechos de depoimentos e do processo para os jurados. Às 20h20, a sessão foi suspensa e voltou a ocorrer a partir das 10h deste sábado.
Com informações de Jéssika Sisnando
Leia mais em: https://www.opovo.com.br/noticias/fortaleza/2023/06/24/chacina-do-curio-maes-de-vitimas-fazem-ato-enquanto-aguardam-fim-da-votacao-do-juri.html
Júri da chacina do Curió está reunido e inicia votação para decidir se PMs são culpados ou inocentes
A sessão foi retomada às 10 horas deste sábado (24)
Escrito por Messias Borges, Igor Cavalcante, Emanoela Campelo e Nícolas Paulino,
No sexto dia consecutivo, o júri da Chacina do Curió foi retomado por volta das 10 horas já com os jurados reunidos para iniciar a votação que irá condenar ou absolver os quatro policiais militares réus no caso. A expectativa é de que o julgamento, na 1ª Vara do Júri de Fortaleza, se encerre ainda neste sábado (24), logo após a divulgação da sentença.
“O salão irá virar uma sala secreta”, anunciou o juiz presidente do colegiado. Enquanto os jurados decidem, do lado de fora, vários órgãos dos direitos humanos e familiares das vítimas do crime se reuniram, deram as mãos e homenagearam os adolescentes e jovens mortos.
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A defensora pública geral do Ceará Elizabeth Chagas acompanhou o ato e comentou sobre a expectativa para o julgamento. A Defensoria Pública do Ceará atuou como assistente da acusação, ao lado do Ministério Público do Ceará (MPCE).
"É com tristeza que vemos toda essa situação, as mães têm um sentimento ainda de impunidade, um luto que não termina nunca e é tão necessário que se tenha respostas. Espero que hoje seja dada uma das respostas, mas ainda há muitos outros júris e também há muitas questões como a reparação necessária a essas famílias com a dor tamanha, que nada vai aplacar essa dor, mas é necessário uma responsabilização, que o Estado se responsabilize por um ato que foi ocasionado por policiais"ELIZABETH CHAGASDefensora pública geral do Ceará
Pouco antes da votação dos jurados, o colegiado de juízes indeferiu os pedidos de impugnação das defesas dos réus. Eles tentavam retificar quesitos a serem votados pelos jurados. Entre os pedidos da defesa, estava retirar o termo “concorreu para o crime” e utilizar o verbo “participou”.
Em contrapartida, os magistrados deferiram o pedido da acusação de incluir um quesito, na votação, para os jurados decidirem se uma testemunha de defesa prestou falso testemunho ao contar uma história diferente do que disse em audiência na Vara.
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Primeiro, ele teria dito que não viu o PM Ideraldo Amâncio em casa no dia da Chacina. Mas, no julgamento, afirmou que viu.
DECISÃO
Ao todo, o júri irá responder a 365 perguntas sobre os quatro réus, que foram acusados de 18 crimes. Não há previsão de horário para a conclusão da votação.
"Hoje é a fase da quesitação, que são mais de trezentos quesitos que são indagados aos jurados. São tantos porque é preciso delinear a autoria e a materialidade do crime. São quatro réus, são muitos fatos a serem indagados, então cada fato desse vai se relacionar com perguntas. Esse esquisito são perguntas que são feitas e cuja resposta vai indicar se houve o crime, começa por aí, se houve as mortes, se foi o réu, todas as perguntas são para que se tenha uma relação ou não dos réus com o crime", explicou a defensora pública geral Elizabeth Chagas.
Chacina do Curió: mãe de vítima parou de trabalhar e ficou refugiada em casa por conta de ameaça
Catarina é mãe de Pedro Alcântara Barroso, jovem de 18 anos que foi uma das 11 vítimas que perderam a vida durante o massacre, ocorrido em novembro de 2015
O julgamento de quatro réus da Chacina da Grande Messejana, conhecida como Chacina do Curió, teve início nesta terça-feira, 20. A quinta e última testemunha de hoje foi a mãe de uma das vítimas. Em relato, ela contou que após o crime deixou de trabalhar e se "refugiou" em casa devido a ameaças recebidas.
Catarina é mãe de Pedro Alcântara Barroso, jovem de 18 anos que foi uma das 11 vítimas que perderam a vida durante o massacre, ocorrido em novembro de 2015. Antes de falar, a mulher pediu para testemunhar na frente dos réus, que até então não estavam presenciando os depoimentos realizados.
Dois outros julgamentos vão acontecer ao longo deste ano. Pelo menos mais 16 acusados pelo crime devem, até o momento, ser julgado sem sessões marcadas para acontecer em agosto e em setembro.
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Relato de Catarina
Catarina contou que no dia do crime escutou os tiros, mas ficou em dúvida se o barulho se tratava de disparo de arma de fogo. Foi quando a mulher ouviu o filho falar "Mãe, me ajuda, eu levei um tiro". Em seguida, ele teria se agarrado a uma grade e desmaiado, mas antes falou para ela: "Eu te amo".
A mulher disse ter tentado manter o filho acordado, mas não conseguiu. O jovem foi socorrido pelo pai de Cícero, uma das vítimas sobreviventes do crime. Além de Pedro e de Cícero, o homem também socorreu Aléf, levando todos ao hospital dentro de um carro.
Quando eles já estavam indo em direção ao Frotinha, viram a rua lotada por pessoas que usavam, em grande maioria, balaclava— uma espécie de gorro. O carro conseguiu passar porque, instintivamente, ele fez um pisca alerta, sem saber que era o sinal dos policias militares para quem fosse até a região.
No entanto, os agentes passaram a perseguir o veículo depois, ordenando aos ocupantes que parassem. Quando conseguiram abordar o veículo, perguntaram ao outro filho da Catarina, que também estava no carro, se ele respondia algo e passaram a puxá-lo. A mãe segurou ele enquanto segurava também o Pedro.
O Aléf, que já estava desacordado na carroceria do carro, teria levado um murro de um dos PMs. Ao motorista, um dos criminosos teria mostrado a carteira de PM. No hospital, havia mais policiais, sendo que um deles tirou fotos dos corpos, que foram publicadas em redes sociais com a legenda "bandido bom é bandido morto".
O relato também aponta que um vídeo foi feito no momento pelos policiais, onde é possível escutar um dos agentes chamando Catarina de "bandida-chefe". Nenhum dos PMs teria perguntado quem tinha sido os assassinos. Outro PM teria dito, referindo-se ao outro filho de Catarina: "Daqui a pouco é esse aí, porque vagabundo é só na bala".
Uma testemunha disse que Pedro foi baleado quando os meninos foram abordados na calçada, mas também foi alvejado por disparos quando tentou entrar em casa, após correr do local. Teriam sido dois tiros nas costa. O jovem trabalhava e era da banda da escola.
Catarina relatou que, tempos após a chacina, quando ela saía do trabalho e se preparava para esperar o ônibus, uma viatura parou no sinal e um dos PMs disse "tá bem rasinha", em direção a ela, fazendo gesto de uma arma. Por causa disso, ela parou de trabalhar e escolheu ficar refugiada em casa.
Com informações do reportér Lucas Barbosa
fonte: https://www.opovo.com.br/noticias/fortaleza/2023/06/20/chacina-do-curio-mae-de-vitima-parou-de-trabalhar-e-ficou-refugiada-em-casa-por-conta-de-ameacas.html
"Nossa luta é para que não aconteça com outros jovens", diz mãe de vítima da Chacina do Curió
Movimento de familiares está presente no primeiro julgamento de réus do crime, que é iniciado nesta terça-feira, 20
Mães e familiares de vítimas da Chacina do Curió, ocorrida em novembro de 2015, fizeram vigília na frente do Fórum Clóvis Beviláqua nesta terça-feira, 20, onde ocorre o primeiro julgamento de quatro réus do crime. “Nossa luta é para que não aconteça com outros jovens”, disse Suderli Pereira, mãe de Jardel Lima dos Santos, assassinado aos 17 anos.
Relembre a cronologia da Chacina do Curió
“Nossos filhos não morreram à toa. A vida deles pra eles [réus] não tem importância, mas pra nós tem. Meu filho morreu com 17 anos, não foi à toa”, afirmou Suderli em coletiva de imprensa antes do início do júri.
A expectativa das mães, segundo Sílvia Helena Pereira, mãe de um sobrevivente, é de justiça. “Hoje vai ser mais do que provado que eles foram brutalmente assassinados. Os assassinos vão ser mostrados, as pessoas vão conhecê-los, e a justiça será feita”, espera Sílvia.
“Eu estou aqui pela minha filha, pelas mães que fazem parte do movimento Mães e Familiares do Curió, pelo meu Ceará, pela minha periferia, pelos jovens”, afirmou Ana Costa, companheira de José Gilvan Pinto Barbosa, um dos únicos adultos mortos na chacina.
Julgamento de réus da Chacina do Curió
Começa nesta terça-feira, 20, o julgamento de quatro réus acusados pela morte de 11 pessoas no crime que ficou conhecido como Chacina do Curió, ocorrido em 12 de novembro de 2015.
Quem são os réus?
Serão julgados os soldados Marcus Vinícius Sousa da Costa, António José de Abreu Vidal Filho, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio. Eles são quatro dos 33 policiais réus do crime.
Quanto tempo deve durar o julgamento?
Julgamentos com mais de um réu e diversas testemunhas tendem a durar mais de um dia. A estimativa é que o julgamento da Chacina do Curió dure até sexta-feira, 23.
Como acompanhar ao vivo?
O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) também preparou um expediente especial para o Júri Popular. Um site (https://juri-curio.tjce.jus.br/) foi criado com informações sobre o caso. Há ainda um link para a transmissão ao vivo da sessão. Para acessar, é preciso clicar no botão "Acompanhe ao vivo". Nesta página, é necessário clicar na data 20/06/23.
Com informações da repórter Jéssika Sisnando
Chacina do Curió: acompanhe ao vivo julgamento de PMs
O julgamento tinha horário de início marcado para às 9 horas. Não há previsão do horário de finalização
Começa na manhã desta terça-feira, 20, uma série de julgamentos dos réus da Chacina do Curió, que deixou 11 pessoas mortas na madrugada do dia 12 de novembro de 2015. O julgamento ocorre no Fórum Clóvis Beviláqua e iniciou por volta das 9h50.
Até as 11h15, os jurados foram escolhidos por sorteio. Duas mulheres e cinco homens compõem o júri popular. Os celulares dos jurados foram recolhidos, pois precisam ficar incomunicáveis durante o julgamento.
A leitura da sentença de pronúncia, que é a decisão que submete um acusado de crime contra a vida ao júri popular, também foi feita pelos jurados.
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AssineComo vai ocorrer o julgamento da Chacina do Curió?
Após a instalação da sessão, os jurados que farão parte do júri popular serão sorteados. Depois, 20 testemunhas, sendo sete vítimas sobreviventes, quatro de acusação e nove de defesa. Na sequência, os quatro réus serão interrogados, haverá o debate entre a acusação e a defesa, a leitura dos quesitos e a votação. A sentença do júri deve ser dada logo depois.
Quem são os réus?
Serão julgados os soldados Marcus Vinícius Sousa da Costa, António José de Abreu Vidal Filho, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio. Eles são quatro dos 33 policiais réus do crime.
Quando serão os próximos julgamentos?
Outros dois julgamentos da Chacina do Curió já estão marcados. No próximo dia 29 de agosto, está previsto que mais oito acusados venham a julgamento. Já em 12 de setembro, serão mais oito. Os demais réus aguardam que recursos em tribunais superiores sejam apreciados.
Quanto tempo deve durar o julgamento?
Julgamentos com mais de um réu e diversas testemunhas tendem a durar mais de um dia. A estimativa é que o julgamento da Chacina do Curió dure até sexta-feira, 23.
Como acompanhar ao vivo?
O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) também preparou um expediente especial para o Júri Popular. Um site (https://juri-curio.tjce.jus.br/) foi criado com informações sobre o caso.
Há ainda um link para acompanhar relatos das etapas do julgamento.
Atualizada às 11h18
‘Nossos filhos não morreram à toa’: mães do Curió pedem Justiça antes de júri
Começa nesta terça (20) o primeiro julgamento de policiais militares acusados de participar das mortes de 11 pessoas, em 2015
Escrito por Messias Borges e Nícolas Paulino,
Integrantes do coletivo Mães e Familiares do Curió pediram que “a Justiça seja feita” no Fórum Clóvis Beviláqua, onde nesta terça-feira (20) começa o primeiro julgamento do episódio conhecido como ‘Chacina do Curió’. Em novembro de 2015, na Grande Messejana, em Fortaleza, 11 pessoas foram assassinadas. Hoje, quatro policiais militares sentam no banco dos réus.
Maria Suderli, mãe de Jardel Lima do Santos, morto aos 17 anos, explica que a luta do coletivo nos últimos 8 anos foi para manter viva a memória dos parentes que partiram e evitar que outros casos voltem a ocorrer.
“Nossos filhos não morreram à toa. A vida para eles (os acusados) não foi importante, mas para nós é. Meu filho morreu com 17 anos e não foi à toa”, disse em entrevista coletiva.
Edna Souza, mãe de Alef Souza, relatou “noites mal dormidas ou nem dormidas” durante todo o tempo de espera pelo início dos julgamentos, mas considera que “chegou o dia de a gente fazer Justiça”.
A memória de José Gilvan Pinto Barbosa, de 41 anos, é mantida pela esposa Ana Lúcia Costa Santos, que agradeceu todo o apoio recebido pelos familiares atingidos pela tragédia. “Estamos confiantes de que vai dar tudo certo. Estou aqui pela minha filha, pelas mães e familiares do Curió, pelo meu Ceará, pela minha periferia”, afirma.
Uma das entidades que acompanha a luta das mães e o julgamento é o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca). A diretora Mara Carneiro percebe a data como “histórica” e “fundamental”.
“A expectativa das organizações que apoiam essas mães e familiares é que saia de verdade a responsabilização dos autores. Não haverá julgamento no país dessa natureza. É uma esperança para colocar nas páginas do Estado do Ceará um não à violência policial”, relata.
“Nossa posição é muito firme em relação à busca pela Justiça. Confiamos no Judiciário e entendemos que a prática do justiçamento não é condizente com a democracia”, complementa Bruno Renato Teixeira, ouvidor nacional do Ministério dos Direitos Humanos, também presente no Fórum. Para o representante federal, a violência policial é uma prática que deve acabar.
“O Estado Brasileiro não pode mais permitir que os próprios agentes do Estado sejam os violadores dos direitos humanos. É grave o que aconteceu no Ceará. Queremos que seja um divisor de águas para a posição das forças de segurança pública em relação às comunidades e periferias de todo o Brasil”, defende.
Integrantes do movimento Justiça Pro Curió também participam das atividades externas. Faixas com fotos e nomes das vítimas foram estendidas, e há falas de protesto sobre o impacto da tragédia para comunidades periféricas de Fortaleza.
LINHAS DE DEFESA
Em entrevista antes do início da sessão, a banca de seis advogados dos réus também relatou que linhas de defesa deve seguir durante o julgamento.
O advogado Valmir Medeiros, membro da defesa do PM Marcus Vinícius Sousa da Costa, considera a chacina uma “tragédia” e uma “injustiça inominável” com as vítimas. No entanto, alega que não há provas suficientes quanto à autoria das mortes.
“Não há provas de quem fez o quê. Não tem imagem nem reconhecimento de ninguém que tenha feito alguma coisa, nem foram feitas as perícias que deveriam ter sido feitas”, expõe.
Talvane Moura, advogado criminalista do PM Ideraldo Amâncio, por sua vez, pretende defender a tese de negativa de autoria. “Ele estava em casa no dia do ocorrido e nada fez. Quem praticou esse delito merece reprovação adequada e justa, mas não é o caso dele”, garante.
Segundo o advogado, Ideraldo já foi considerado inocente em apuração realizada pela A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD).
COMO SERÁ O JULGAMENTO?
A previsão é que o júri, de alta complexidade, possa se estender até a próxima sexta-feira (23). O rito da sessão contará com o sorteio dos jurados, todos eles populares, sem relação pessoal com o caso. Durante a sessão, estão previstos 24 depoimentos, sendo sete de vítimas sobreviventes, 13 de testemunhas, além do interrogatório dos quatro réus, conforme o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).
Vão ao 1º Salão do Júri na condição de réus os PMs:
- Marcus Vinícius Sousa da Costa
- António José de Abreu Vidal Filho
- Wellington Veras Chagas
- Ideraldo Amâncio
Além deles, devem estar presentes advogados de defesa, representantes do Ministério Público do Ceará (MPCE) na acusação; membros da Defensoria Pública do Ceará; a coordenadora geral de Combate à Tortura e Graves Violações aos Direitos humanos do Governo Federal, Fernanda Vieira de Oliveira; o Cedeca e familiares das vítimas.
Chacina do Curió: 34 pms vão a júri popular mais de sete anos após crime em Fortaleza
Está marcado para o dia 20 de junho o primeiro julgamento dos 34 policiais acusados da Chacina do Curió, ocorrida madrugada entre os dias 11 e 12 de novembro de 2015, em Fortaleza. Onze pessoas foram assassinadas por dezenas de homens armados nos bairros Messejana, Curió, São Miguel e Lagoa Redonda. As vítimas foram adolescentes, jovens e adultos escolhidos aleatoriamente. Apenas dois deles tinha antecedentes por infração de trânsito e pensão alimentícia. O crime ocorreu um dia após a morte de um policial vítima de latrocínio na região, ocorrência na qual nenhuma das vítimas da chacina teve participação.
Esse é um dos maiores julgamentos de militares em um mesmo caso na história do Brasil e o maior do país esse ano. Sete dos 34 acusados devem ir a júri em junho e outros em setembro.
OUÇA O PODCAST ONZE VIDAS
Movimento de Mães
Mães e familiares de vítimas da Chacina do Curió ( @movmaesdocurio )
começaram uma militância por justiça e organizadas lançaram em 2021 um livro que conta em 160 páginas a história de vida de cada uma das vítimas. Em 2022 foi relançado na Bienal do Livro do Ceará.
Ele pode ser baixado aqui: https://cedecaceara.org.br/wp-content/uploads/2021/11/Livro-ONZE-Site.pdf
Também tem a versão audiolivro, disponível no spotify:
Governo só recebeu mães sete anos depois
Apenas em maio desse ano elas foram recebidas pelo governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), após anos de governo Camilo Santana (PT) e Izolda Cela (PDT). O encontro foi mediado por instituições como Anistia Internacional e CEDECA Ceará, por exemplo.
Intervenção Policial no Ceará
No Ceará, por exemplo, 1.229 mil pessoas foram mortas durante intervenções policiais entre 2013 e 2022, de acordo com dados do governo estadual
A Semana Cada Vida Importa
A Lei 16.482/17, que estabelece a Semana, busca sobretudo sensibilizar a população sobre as elevadas taxas de mortes no Estado do Ceará e formular políticas públicas que enfrentam essa situação e em memória à Chacina do Curió. Há um Comitê ligado à Assembleia Legislativa do Estado do Ceará monitorando homicídios no Ceará https://cadavidaimporta.com.br/.
Perfil sobre o Caso Curió: @11docurio
Especial do OPOVO com cronologia do crime https://especiais.opovo.com.br/chacinadagrandemessejana/
Para baixar a versão pdf do livro:
https://cedecaceara.org.br/wp-content/uploads/2021/11/Livro-ONZE-Site.pdf
Para ouvir no spotify:
https://open.spotify.com/show/0BpCq1aCmY3WBhUZgonmHL
Para seguir o instagram:
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