"Assim como Dilma, é possível que a presidente eleita do México tenha que enfrentar desafios relacionados à questão de gênero"
Crédito, Reprodução/Twitter - Claudia Sheinbaum concedeu o título de Hóspede Distinta da Cidade do México a Dilma Rousseff em 2021
- Julia Braun
- Da BBC Brasil em Londres
- Twitter,
BBC - 3 junho 2024
Um presidente popular que não pode disputar a reeleição indica uma aliada de confiança e com perfil técnico para concorrer como sua sucessora e se tornar a primeira mulher presidente do país.
Esse quadro descreve a chegada ao poder da ex-presidente Dilma Rousseff no Brasil, em 2010, após os dois primeiro mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
É também um retrato do caminho percorrido pela presidente recém-eleita do México, Claudia Sheinbaum.
Candidata aliada do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, a ex-prefeita da Cidade do México, de 61 anos, obteve ampla vitória nas eleições presidenciais deste domingo (2/6), segundo as projeções do resultado oficial feitas pelo Instituto Nacional Eleitoral (INE) com base em contagem rápida de amostras.
As comparações entre Claudia Sheinbaum e Dilma Rousseff são baseadas principalmente nas coincidências em relação aos seus padrinhos políticos.
Para Christopher Sabatini, do instituto independente de política Chatham House, ambas seguem os "grandes passos" de seus sucessores, que atuaram na fundação de seus respectivos partidos: Partido dos Trabalhadores (PT), no caso de Lula, e Movimento Regeneração Nacional (Morena, na sigla em espanhol), no de López Obrador.
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O líder mexicano, conhecido por suas iniciais AMLO, foi muito comparado a Lula após sua eleição, especialmente por sua agenda política voltada às classes trabalhadoras e baseada em políticas sociais.
Ambos também já foram vistos com ceticismo pelo mercado financeiro e pela comunidade empresarial de seus países, mas se tornaram líderes extremamente populares entre os eleitores.
AMLO chega ao fim do seu mandato com uma aprovação próxima dos 60%, enquanto Lula deixou o poder em 2011 com 83% dos brasileiros adultos avaliando sua gestão de oito anos como ótima ou boa, segundo pesquisa Datafolha.
Mas o líder mexicano também é alvo de críticas, muitas delas sobre seu perfil supostamente autoritário, com a concentração de poder nas mãos do Executivo e o enfraquecimento da autonomia dos outros poderes.
López Obrador não pôde concorrer na disputa de domingo porque o México não tem reeleição.
No Brasil, a Constituição permite reeleição para um único mandato consecutivo, com possibilidade de nova candidatura após quatro ou mais anos.
"[Dilma como Sheinbaum] são mulheres que foram cultivadas por líderes homens muito populares e carismáticos", diz Sabatini, que é pesquisador do Programa para a América Latina, EUA e Américas do think tank sediado em Londres.
Crédito, Getty Images - AMLO e Sheinbaum durante a pandemia: muito se falou sobre um possível distanciamento dos dois devido às diferenças em relação ao vírus
Ambas também quebraram paradigmas ao serem eleitas as primeiras mulheres presidentes de seus países. Enquanto Dilma foi apenas a 6ª mulher eleita presidente na América Latina, Sheinbaum ocupa o 8º lugar da lista.
Para a cientista política e diretora do Instituto King's Brazil, da King's College London, Andreza Aruska de Souza Santos, o sucesso eleitoral das duas latino-americanas representa "uma ruptura" em uma região dominada por lideranças masculinas.
"Mas assim como Dilma, é possível que a presidente eleita do México tenha que enfrentar desafios relacionados à questão de gênero", diz. "Mulheres em cargos de liderança normalmente precisam que se provar muito mais e entregar muito mais resultados [do que os homens]".
Para Souza Santos, a própria comparação entre as duas pode ser vista como fruto da desigualdade de gênero, especialmente quando se baseia apenas em seus antecessores políticos.
Segundo a especialista, o "apadrinhamento" de Lula ou de AMLO ganhou mais destaque nas campanhas de Dilma e Sheinbaum do que em outras eleições em que o candidato em questão era homem.
"Líderes políticos que herdam mandados e momentos políticos não são tão incomuns", diz. "Mas nesse caso as circunstâncias foram muito mais evidenciadas e apontadas como essenciais para a eleição delas."
Mas a cientista política acredita que o peso da popularidade de seu antecessor pode ter sido maior no governo de Dilma Rousseff do que será para Claudia Sheinbaum.
"Dilma era muito questionada por nunca ter ocupado um cargo eletivo [antes de 2011], mas a presidente eleita do México foi prefeita da Cidade no México e inclusive enfrentou uma pandemia durante sua liderança."
Antes de comandar o governo da capital mexicana por um mandato até junho do ano passado, Sheinbaum ganhou em 2015 a prefeitura de Tlalpan, o distrito da Cidade do México onde cresceu.
Ela também comandou a Secretaria de Meio Ambiente da metrópole de mais de 9 milhões de habitantes entre 2000 e 2006. Aliás, foi assim que a física de formação se aproximou de AMLO, que era o prefeito da capital na época.
Crédito, Getty Images - Lula e Dilma em evento em 2013
Após a divulgação dos primeiros resultados no domingo, Sheinbaum prometeu continuar o legado de López Obrador, mas com "sua própria marca" para mitigar a violência ligada ao crime organizado, estimular a economia, promover energias renováveis e combater a corrupção.
Ao longo da campanha, as pesquisas de intenção de voto deram a ela uma ampla vantagem sobre sua adversária mais forte, Xóchitl Gálvez, uma empresária de 61 anos que concorreu por uma coligação de oposição.
Perfil técnico e ativismo de esquerda
Crédito, Getty Images - Claudia Sheinbaum e Dilma Rousseff têm perfis aparentemente parecidos
Mas segundo os especialistas consultados pela BBC Brasil, características únicas que as duas políticas carregam em seus currículos também as aproximam e vão muito além de seus sucessores políticos.
Seus perfis mais tecnocráticos e trajetórias acadêmicas são uma delas. Enquanto Dilma é economista com mestrado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Sheinbaum é cientista climática e doutora em Engenharia Energética e Ambiental.
"As duas são administradoras públicas, diferente dos seus antecessores, que eram conhecidos como bons políticos, mas não por suas proezas como formuladores de políticas públicas", diz Christopher Sabatini.
Claudia Sheinbaum estudou Física na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e foi a primeira mulher a concluir um doutorado em Engenharia Energética na universidade, se tornando posteriormente professora e pesquisadora da instituição.
Publicou mais de 100 artigos científicos e dois livros, além de assessorar organizações públicas mexicanas em questões energéticas. Ao lado de cerca de 600 acadêmicos, ela integrou o Painel Intergovernamental da ONU para mudanças climáticas, o IPCC.
Dilma e Sheinbaum também têm em comum um passado na militância política.
A história de Sheinbaum com o ativismo começa na sua infância. Ela tinha só seis anos, em 2 de outubro de 1968, quando o México foi palco de uma repressão brutal das forças de segurança a estudantes que protestavam contra a injustiça social no país.
O episódio, que ficou conhecido como o Massacre de Tlatelolco, resultou na morte de centenas de estudantes e marcou profundamente a história mexicana – e também a agora futura presidente.
Os pais de Sheinbaum se envolveram com o ativismo de esquerda e com protestos estudantis.
Em 1978, aos 15 anos, ela mesma participou de uma greve de fome liderada por Rosario Ibarra de Piedra, conhecida defensora dos direitos humanos e primeira candidata mulher à Presidência do México.
Depois, nos anos 1980, Sheinbaum virou líder estudantil e defensora da universidade pública. Foi o ativismo estudantil que fez com que Claudia Sheinbaum criasse desde cedo laços próximos com a esquerda mexicana.
Já a ex-presidente brasileira integrou o Comando de Libertação Nacional (Colina), grupo que defendia a luta armada para combater a ditadura no Brasil. Em 1970, aos 23 anos, foi presa por subversão e torturada pelo regime militar.
Dilma Rousseff também teve uma grande influência da própria família, uma vez que seu pai havia sido membro do Partido Comunista da Bulgária.
Esse, aliás, é outro fator anedótico que aproxima a brasileira da presidente eleita do México: ambas têm ascendência búlgara.
Pedro Rousseff, o pai de Dilma, deixou o país do leste europeu em 1929 e se instalou no Brasil em meados da década de 1940, depois de viver na França e na Argentina.
Sheinbaum, por sua vez, é neta de avós que migraram da Lituânia e da Bulgária para escapar da discriminação e da perseguição nazista.
A mexicana será a primeira presidente de origem judaica no México, um dos países com maior porcentagem de católicos do mundo.
Lições do governo Dilma
Dilma Rousseff deixou o cargo de presidente em 2016 após sofrer um processo de impeachment.
Para Andreza Aruska de Souza Santos, da King's College, a inabilidade da ex-presidente ao lidar com a oposição no Congresso Nacional foi central para a abertura do processo de afastamento.
Segundo a especialista, esse deve ser um ponto de alerta para Claudia Sheinbaum e seu governo.
"A relação com o Congresso é muito importante e políticos com perfil mais técnico tem uma tendência a colocar execução do trabalho como prioridade diante da relação política", diz.
Mas o contexto legislativo enfrentado pelas duas líderes é totalmente diferente.
Enquanto o Brasil de Dilma tinha um Congresso mais polarizado, que exigia muitas negociações, o partido criado por AMLO, Morena, é dominante na política mexicana.
Christopher Sabatini afirma ainda que, apesar de ter um perfil técnico, Sheinbaum tem mais "olfato político", uma expressão em espanhol usada para indicar a experiência no jogo da política.
A mexicana foi eleita a prefeita mulher da Cidade do México em 2018 — em um mandato que coincidiu com a pandemia de covid-19, de efeitos devastadores no país.
Sheinbaum encampou a campanha de vacinação na capital mexicana, cujo sucesso ela atribuiu ao esforço para educar a população.
Ela também defende ter reduzido a taxa de homicídios da cidade com iniciativas em conjunto com o Ministério Público e a inclusão social de jovens.
Mas sua gestão também foi alvo de críticas — por exemplo, quando um acidente no metrô da cidade deixou 26 mortos e mais de cem feridos por supostas falhas de construção e manutenção. Sheinbaum prometeu investigar o caso.
Ainda assim, ela deixou a prefeitura em 2023 com alta popularidade para se dedicar à campanha eleitoral.
Crédito, Getty Images - Dilma Rousseff deixou o cargo de presidente em 2016 após sofrer um processo de impeachment
Para o pesquisador da Chatham House, o grande desafio de Claudia Sheinbaum será se diferenciar de AMLO e criar uma história própria na Presidência — dificuldade também enfrentada por Dilma.
"Se há uma lição do governo Dilma [para Sheinbaum] é não apenas surfar na onda do seu antecessor. Tentar ser uma política por conta própria", avalia Sabatini.
Em uma entrevista à BBC em maio, Sheinbaum afirmou que se sente "segura" de si mesma e que não se importa que a oposição a trate como uma continuidade de López Obrador.
Segundo Christopher Sabatini, a presidente eleita do México tem potencial de fazer muito mais em termos de direitos das mulheres do que AMLO — e isso pode ajudá-la a solidificar sua posição.
E por sua formação, também pode alavancar os temas ambientais durante seu governo.
Mas Andreza Aruska de Souza Santos lembra que, diferente de Dilma, Claudia Sheinbaum não terá a possibilidade de se reeleger e, por isso, seu foco pode estar mais em arrecadar aliados dentro da política mexicana do que se provar aos eleitores.
"É importante manter uma interlocução com os cidadãos, mas creio que a maior preocupação dela no momento esteja em formar um governo, estabelecer uma interlocução com outros políticos e garantir que possa passar preposições no Legislativo", avalia.
fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c8005888qeko
A vitória de Claudia Sheinbaum é um triunfo para o México
Sofia Schurig
JACOBIN
Claudia Sheinbaum venceu a eleição presidencial do México por uma margem esmagadora. Em seu discurso de vitória, ela prestou homenagem aos movimentos sociais do passado e prometeu continuar o impressionante histórico de progresso social do MORENA.
A liderança do MORENA, isolada no Hilton Hotel na Cidade do México, estava em estado de choque silencioso: eles sabiam que iam ganhar a eleição presidencial do México, mas não por essa margem. À medida que os resultados começaram a chegar na noite de ontem, ficou claro que a vitória esperada há tanto tempo foi esmagadora.
Até agora, Claudia Sheinbaum tem uma vantagem de trinta pontos sobre sua rival conservadora, Xóchitl Gálvez, 58,3% a 28,7%, com o candidato de terceiro partido, Jorge Álvarez Maynez, alcançando 10,5%. De acordo com as projeções feitas pelo Instituto Nacional Eleitoral, o total final de Sheinbaum deve ficar entre 58,3% e 60,7%, superando todas, exceto duas, das últimas pesquisas pré-eleitorais.
Segundo o conteo rápido — a contagem rápida — do instituto, a vitória esmagadora deve se refletir também no Congresso, com o MORENA e seus aliados ganhando até 380 das 500 cadeiras na câmara baixa, a Câmara dos Deputados, e até 88 das 128 cadeiras no Senado. Isso colocaria a coalizão de centro-esquerda dentro do alcance de seu ambicioso objetivo de alcançar uma maioria qualificada de dois terços, o que permitiria aprovar reformas constitucionais por conta própria (juntamente com as legislaturas estaduais que controla). Não só o MORENA ganhou a importantíssima prefeitura da Cidade do México com a candidata Clara Brugada, a coalizão do MORENA também está prestes a conquistar pelo menos seis das oito disputas para governador em jogo.
Para colocar a vitória do MORENA em perspectiva, Sheinbaum está a caminho de superar a vitória esmagadora de Andrés Manuel López Obrador (AMLO) em 2018 de 53% por cerca de cinco a sete pontos. Onde AMLO recebeu um total histórico de trinta milhões de votos, Sheinbaum terá recebido cerca de trinta e cinco milhões.
Da mesma forma, Gálvez está cerca de dez a doze pontos atrás do total do partido conservador naquela eleição. Em 2018, os partidos conservadores Partido Revolucionário Institucional (PRI) e Partido Ação Nacional (PAN) concorreram separadamente; este ano, concorreram em coalizão. Mas, em vez de somar números, a coalizão acabou subtraindo.
Uma recusa a ser provocada
Fiel ao seu histórico científico, Sheinbaum conduziu uma campanha disciplinada e metódica. Não dando nada como garantido, apesar de manter uma liderança praticamente inalterada desde o anúncio de sua candidatura, Sheinbaum percorreu muitos quilômetros, realizando três vezes mais comícios do que Gálvez.
Enquanto Gálvez oscilava de uma proposta política sem custos para outra, Sheinbaum apresentou um programa de cem pontos que incluía a ampliação de programas sociais e bolsas de estudo, continuando os aumentos anuais do salário mínimo, consolidando a investida do México em direção à saúde pública, construindo um milhão de casas acessíveis em um plano de aluguel com opção de compra, estabelecendo sete linhas ferroviárias de longa distância, evitando a experiência das maquiladoras dos anos 1990 ao exigir que as empresas que investem no fenômeno do “nearshoring” proporcionem salários e benefícios mais altos e — algo que certamente continuará a levantar a desconfiança dos interesses energéticos multinacionais — uma transição energética liderada pelo setor público, baseada nas empresas estatais de petróleo, eletricidade e lítio do México.
Ao longo da campanha e no decorrer de três debates, Sheinbaum recusou-se a ser provocada pela série dispersa de ataques da candidata da oposição, Gálvez, que se tornaram mais agressivos com o tempo. Gálvez, seguindo à risca uma estratégia de campanha negativa, atacou tudo, desde o caráter de Sheinbaum até sua família e seu histórico como prefeita da Cidade do México, terminando com uma série de insinuações veladas sobre a herança judaica de Sheinbaum.
Sheinbaum também recusou-se a ser provocada por aqueles que repetiam que ela seria um fantoche do presidente em fim de mandato, AMLO: sempre que alguém tentava insistir na necessidade de criar uma imagem mais individualista — como se ela estivesse vendendo uma nova marca de cereal ou detergente — Sheinbaum explicava calmamente que ela representa um movimento social e que sua administração será com orgulho o segundo piso da Quarta Transformação do México. E ela fez tudo isso com a persona de poker-face que a serviu bem como prefeita da Cidade do México — uma que, evitando a tentativa de forçar um estilo oratório elevado, afirmou sua autoridade com consistência discreta tanto em entrevistas quanto em discursos. Os eleitores aprovaram.
A vitória de Sheinbaum também veio apesar de uma campanha internacional coordenada de mídia e bots que tentou pintar AMLO e MORENA como estando em conluio com cartéis de drogas. Este é apenas um capítulo em um ataque incessante da mídia que zombou e difamou durante a administração de AMLO sem se dignar a aprender algo sobre o que estava acontecendo além de seu radar muito limitado.
Para a eleição, uma multidão de jornalistas estrangeiros desembarcou na Cidade do México, maravilhados que um país tão “machista” pudesse eleger uma mulher presidente — e tão confortavelmente. Mais uma vez, todos os clichês confortáveis — eleição de estado, eleitores comprados por programas sociais, uma população religiosa dominada pela “sucessora escolhida” de um líder messiânico — foram apresentados, qualquer coisa para evitar conceder autonomia aos eleitores mexicanos ou ver o que estava acontecendo no terreno: um processo de realinhamento partidário impulsionado por políticas em que os eleitores da classe trabalhadora, dispersos entre partidos na eleição de 2018, se concentraram no MORENA, mantendo a coalizão transversal do partido amplamente intacta.
Após um reconhecimento da vitória no Hilton, Sheinbaum dirigiu-se à praça principal da Cidade do México, o Zócalo. Lá, ela prestou homenagem aos movimentos sociais do passado, de trabalhadores a estudantes, professores a agricultores, e leu os nomes de mulheres que desempenharam papéis fundamentais na história do México. Como o mais novo membro dessa lista, Sheinbaum terá um mandato eleitoral enorme, ainda maior que o de AMLO. A partir de 1º de outubro, o presidente agora será a presidenta.
Sobre o autore
é escritor, dramaturgo, jornalista freelance e cofundador do projeto de mídia independente “MexElects”. Atualmente, ele é co-autor de um livro sobre as eleições mexicanas de 2018.
fonte: https://jacobin.com.br/2024/06/a-vitoria-de-claudia-sheinbaum-e-um-triunfo-para-o-mexico/