Em sessão especial na Câmara dos Deputados, mulheres indígenas criticaram lei do marco temporal
A expressiva presença das mulheres indígenas no 20o Acampamento Terra Livre (ATL) , em Brasília, chama atenção pela diversidade e protagonismo político. Elas estão em todas as plenárias de debate no ATL, na marcha pelas ruas da capital federal, nas barracas de artesanato e pintura corporal, nas apresentações culturais com cânticos e danças e na sessão especial na Câmara Federal.
A crítica à atuação da bancada ruralista no Congresso Nacional, contrária aos direitos indígenas, e a onda de violência que vitima lideranças em todo o país marcaram os discursos.
A presidente da Funai defendeu a união dos poderes para fortalecer o órgão. “A responsabilidade deve ser partilhada, o Parlamento tem que contribuir para aprovar o nosso orçamento, e o Judiciário precisa assegurar nossos direitos”, declarou.
Com o tema “Nosso Marco é ancestral. Sempre estivemos aqui”, à tarde, o encontro debateu a educação indígena, saúde mental nas comunidades indígenas, demandas para a preservação ambiental na COP 30, o marco temporal e a atuação da juventude indígena.
A primeira defensora pública estadual do país, a baiana Alessia elogiou a articulação histórica do movimento indígena contra o marco temporal e a resistência de 524 anos contra os invasores de seus territórios. A cacica Ivonete Amaral, a Fia Tupinambá, de Olivença Bahia, reivindicou a demarcação do território tradicionalmente ocupado por seu povo, ainda sem a carta declaratória.
A coordenadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), Jozi Kaingang, homenageou durante a sessão na Câmara, a pajé Nega Pataxó, assassinada em janeiro em conflitos de terra na Bahia. “Represento no Parlamento as mulheres indígenas de todos os biomas, algumas de nós tombaram na luta, tivemos nossos corpos violentados pelos colonizadores e nossas terras estupradas pelo garimpo ilegal”, afirmou. Ela enfatizou que a história dos povos indígenas não começa em 1500 e defendeu a continuidade da luta contra o marco temporal para construir um país que amplie os direitos conquistados.
Em nome da APIB, Elisa Pankararu reafirmou as denúncias de violência e de racismo contra a população indígena e elogiou a resistência através das práticas tradicionais de cura e o sistema de educação.
Fonte: BdF Bahia
Edição: Gabriela Amorim