Após os comentários da promotora de Justiça do DF Fernanda Molyna gerarem indignação entre advogadas, ela publicou vídeo de retratação
atualizado 16/02/2023 18:36
Reprodução/Instagram
Uma declaração da promotora de Justiça do Distrito Federal Fernanda Molyna gerou indignação entre advogadas desde a noite de quarta-feira (15/2). Ao comentar casos de violência doméstica em que atua, Fernanda, que é lotada em uma promotoria especializada em violência contra a mulher, disse que “basta alterar sua vibração para mudar o que se atrai”.
“Mais um dia de audiências de violência doméstica. Quanto mais observo os casos que chegam à promotoria, mais eu vejo que há um padrão de funcionamento das relações que viram processos. As pessoas são atraídas por vibrações semelhantes, ainda que em polos diferentes”, escreveu Fernanda no Instagram, na quarta-feira.
Segundo a promotora de Justiça, “para sanar uma repetição vivida é simples, embora não seja fácil”. Em seguida, ela tenta explicar: “Simples porque basta alterar sua vibração para mudar o que se atrai. Não é tão fácil porque exige sua decisão e comprometimento com a mudança da sua mente”.
Fernanda atua na 1ª Promotoria de Justiça Especial Criminal e de Defesa da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar de Samambaia (DF).
A presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada, conselheira federal da OAB Cristiane Damasceno, disse à coluna que o caso da promotora de Justiça, em tese, poderia configurar uma infração ética. A OAB-DF está avaliando quais providências tomará sobre o caso.
“O que me causou mais estranheza é que ela é conhecedora da regra jurídica. Com essa opinião, ela quer dizer que, quando perceber que a vítima está com o chacra desalinhado, não vai concordar com a prisão de agressor. Isso é grave. Todos os envolvidos nos processos que envolvem violência doméstica têm de prestar atenção no Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero, do Conselho Nacional de Justiça”, disse Cristiane.
A presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-DF, Nildete Santana, disse que a Seccional recebeu reclamações de advogadas indignadas com o comentário e está analisando o caso. Nildete ressaltou que há uma violência crescente contra mulheres no Brasil e as ações que devem ser feitas são de políticas públicas de estados para acolher e proteger a mulher, e não o contrário.
“Muitas vezes, esse tipo de comentário faz exatamente o oposto: revitimiza e coloca a culpa da violência na mulher. Não é a ausência de vibração que traz violência e não será a presença dela que irá tirar a mulher do ciclo de agressão”, afirmou.
A vice-presidente da OAB-DF, Lenda Tariana, declarou que “é importante quebrar o mito que existia de que a culpa da violência é da mulher”: “Uma opinião dessa faz um desserviço a muitas mulheres.”
Após o início da apuração da reportagem, Fernanda publicou um vídeo, na tarde desta quinta-feira (16/2), no qual pede “desculpas” e chora.
“A minha ideia não é que a vítima, em uma situação de sofrimento, ainda merece ser responsabilizada. A vítima merece ser acolhida. E a responsabilidade criminal do ofensor vai ser perseguida. Na minha postura profissional, eu não sou leve”, disse.
A promotora de Justiça disse que o mestrado dela foi pautado no feminismo. “Se eu puder ajudar mulheres a se tornarem protagonistas das suas vidas, as estrelas que chamo, para mim, já valeu”, afirmou.
Assista ao vídeo na íntegra:
O Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) informou que “trata-se de uma manifestação pessoal em rede social não institucional, razão pela qual não vai se manifestar.”
Procurada pela coluna para comentar a repercussão negativa do comentário, a promotora de Justiça enviou o vídeo que publicou nas redes sociais.