O crime aconteceu no acampamento Quilombo do Livramento, no último sábado (11/11), por volta das 15h30. Caso é investigado pela Polícia Civil
Dois trabalhadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do sertão da Paraíba foram assassinados a tiros no último sábado (11/11). A denúncia foi realizada pelo MST neste domingo (12/11). Segundo o movimento, Ana Paula Costa Silva, 29 anos, e Aldecy Viturino Barros, 44, foram assassinados a tiros no acampamento Quilombo do Livramento, Sítio Rancho Dantas, no município de Princesa Isabel, por volta das 15h30.
Ana Paula Costa Silva era acampada, casada e tinha três filhos. Já Aldecy Viturino Barros era o coordenador do acampamento que está no local desde 2008 e abriga 22 famílias. Segundo testemunhas presentes na hora do crime, eles foram assassinados a tiros por dois homens que chegaram em uma moto dizendo que Aldecy precisava assinar um documento que estava sob posse dos assassinos.
No momento, Aldecy se encontrava consertando o telhado do barraco do pai de Ana Paula, em cima de uma escada. Na ocasião estavam também o pai de Ana Paula, seu companheiro e dois amigos da família. Ao começar a descer a escada para atender aos homens que o procuravam, Aldecy teria sido surpreendido com vários tiros, aos quais também acertaram Ana Paula.
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O caso é investigado pela Polícia Civil e, em nota, o MST cobra apuração do crime e identificação dos assassinos, para que possam responder pelo crime. “Enquanto movimento, reafirmamos nossa luta contra toda forma de violência. Aos nossos mortos, nenhum segundo de silêncio, mas uma vida toda de luta”, declarou o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra da Paraíba (MST).
Acampado do MST em Pernambuco é executado com tiros na nuca e nas costas
Josimar da Silva Pereira, de 30 anos, foi assassinado na manhã deste domingo (5) no município de Vitória de Santo Antão
Gabriela Moncau
Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 06 de Novembro de 2023 às 15:51 - Brasil de Fato
Militante do MST, Josimar Pereira integrava o setor de produção do Acampamento Francisco de Assis e trabalhava na irrigação manual do arroz - Reprodução
Por volta das 4h30 da manhã do último domingo (5), o agricultor, acampado e integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Josimar da Silva Pereira foi assassinado na cidade de Vitória de Santo Antão (PE), onde morava. O camponês de 30 anos foi alvejado na nuca e nas costas enquanto se locomovia de moto para o Acampamento Francisco de Assis, onde trabalharia na irrigação do plantio de arroz orgânico. Ainda não se sabe a autoria e a motivação do assassinato.
Josimar atuava na luta pela desapropriação do Engenho São Francisco, onde está localizado o acampamento há 29 anos, uma das ocupações mais antigas do MST no estado pernambucano. Por conta dos conflitos e ameaças envolvendo a disputa pela área, que tem uma ação de reintegração de posse impetrada pela Usina Alcooquímica JB, integrantes da coordenação do acampamento estão no Programa Estadual de Proteção e Defesa de Defensores dos Direitos Humanos. Josimar, no entanto, não estava.
Nesta segunda-feira (6) já estava marcada uma visita do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no território. Na quarta-feira (8) uma audiência no Ministério Público Estadual de Pernambuco está prevista entre o MST e a Usina JB, de propriedade da família Beltrão.
“Neste momento de dor, o MST estende toda solidariedade à família, aos filhos e amigos e exige que os órgãos competentes possam acelerar as investigações e encontrar os culpados desse crime”, afirma nota do movimento. “E que essa área histórica cumpra a sua função social se tornando um assentamento da reforma agrária”, complementa.
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Entre sexta-feira (3) e sábado (4) houve um incêndio em uma área de cana-de-açúcar que beira o acampamento. “As coordenadoras tentaram sem sucesso gerar um boletim de ocorrência para denunciar o ocorrido, de modo a preservar de possíveis acusações e retaliações”, informou o MST. De acordo com a coordenação regional do movimento, a delegacia se recusou a fazer o registro.
Acampamento Francisco de Assis
Ao longo das quase três décadas de existência, o Acampamento Francisco de Assis sofreu 16 reintegrações de posse. Em agosto de 2022 houve uma nova ocupação do território, onde vivem atualmente 108 famílias.
A disputa em torno da área fez com que o caso entrasse na Comissão de Conflitos Agrários do estado de Pernambuco. O terreno entrou como prioridade para vistoria e desapropriação por parte do Incra, que há cerca de um mês classificou o engenho como improdutivo. “Mas sabíamos que a usina ia recorrer”, relata Samuel Drummond Scarponi, da direção estadual do MST em Pernambuco.
“A sensação de insegurança para as famílias do acampamento é enorme. Já houve ameaças de pistoleiros e casos de drones jogando veneno em cima das pessoas, inclusive de crianças. Todo dia ali o cenário é de disputa”, resume Scarponi.
Ainda assim, o território é produtivo. Ali as famílias sem-terra cultivam, entre outros produtos, arroz orgânico, banana, macaxeira, inhame, hortaliças, maracujá, côco, além de um viveiro da reforma agrária. Existe também o roçado das mulheres, uma experiência auto-organizativa do setor de gênero da regional Galileia do MST.
O Brasil de Fato pediu informações sobre a morte de Josimar Pereira para a Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco, do governo de Raquel Lyra (PSDB), mas não teve retorno até o fechamento desta matéria. Caso haja a resposta, o texto será atualizado.
Samuel Scarponi conversou com Josimar pela última vez na sexta-feira (3). Trabalhando como moto-taxista, o camponês lhe contou que pretendia juntar dinheiro para começar a trabalhar com a criação orgânica de galinhas. O velório e o enterro de Josimar estão marcados para esta terça (7).
Edição: Rodrigo Durão Coelho