Filho de Maria Bernadete foi assassinado há quase seis anos
Publicado em 18/08/2023 - 00:07 Por Juliana Cézar Nunes - Da Agência Brasil - Brasília
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A líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, Yalorixá e ex-secretária de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho (BA), Maria Bernadete Pacífico, foi assassinada na noite desta quinta-feira (17). Criminosos teriam invadido o terreiro da comunidade, feito familiares reféns e executado Mãe Bernadete a tiros. Ela é mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, mais conhecido como Binho do Quilombo, assassinado há quase seis anos, no dia 19 de setembro de 2017. O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, determinou que as polícias Militar e Civil sejam firmes na investigação.
Para Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Bernadete foi assassinada pelo mesmo grupo responsável pela execução de Binho. "Ela sabia e a Justiça sabia que quem mandou matar Binho tava lá, perto da comunidade. Só que não deu nada. Ela nunca ficou quieta. Agora foi silenciada. Muito triste para nós", lamentou Denildo.
De acordo com ele, as lideranças das comunidades quilombolas e terreiros de Simões Filho são ameaçadas permanentemente por grupos ligados à especulação imobiliária, interessados em ocupar os territórios. O município fica na região metropolitana de Salvador. A capital da Bahia foi identificada pelo Censo Quilombola do IBGE como a capital com a maior população quilombola do país. São quase 16 mil quilombolas e cinco quilombos oficialmente registrados.
Em nota divulgada na noite desta quinta-feira, a Conaq exige que o Estado brasileiro tome medidas imediatas para a proteção das lideranças do Quilombo de Pitanga de Palmares. "A família Conaq sente profundamente a perda de uma mulher tão sábia e de uma verdadeira liderança. Sua partida prematura é uma perda irreparável não apenas para a comunidade quilombola, mas para todo o movimento de defesa dos direitos humanos", ressalta a entidade.
"É dever do Estado garantir que haja uma investigação célere e eficaz e que os responsáveis pelos crimes que têm vitimado as lideranças desse Quilombo sejam devidamente responsabilizados. É crucial que a Justiça seja feita, que a verdade seja conhecida e que os autores sejam punidos. Queremos Justiça para honrar a memória de nossa liderança perdida, mas também para que possamos afirmar que, no Brasil, atos de violência contra quilombolas não serão tolerados."
Uma comitiva liderada pelos ministérios da Igualdade Racial, Justiça e Direitos Humanos será enviada nesta sexta-feira (18) para realizar reuniões presenciais junto a órgãos do estado da Bahia e prestar atendimentos às vitimas e familiares para que seja garantida proteção e defesa do território. O Ministério da Igualdade Racial irá convocar reunião extraordinária do grupo de trabalho de enfrentamento ao racismo religioso.
O Quilombo Pitanga dos Palmares, liderado por Bernadete, é formado por cerca de 289 famílias e tem 854,2 hectares, reconhecidos em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A comunidade já foi certificada pela Fundação Palmares, mas o processo de titulação do quilombo ainda não foi concluído.
Levantamento da Rede de Observatórios de Segurança, realizado com apoio das secretarias de segurança pública estaduais e divulgado em junho deste ano, já apontava a Bahia como o segundo estado do Brasil com mais ocorrências de violência contra povos e comunidades tradicionais. Atrás apenas do Pará, a Bahia registrou 428 vítimas de violência no intervalo de 2017 a 2022.
Edição: Carolina Pimentel
Luta e luto pelo assassinato da liderança quilombola Bernadete Pacífico
- NOTA do Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos - 18 de agosto de 2023
Binho, filho de Mãe Bernadete foi assassinado há quase seis anos
O Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos, rede formada por 48 organizações e movimentos sociais – dentre elas a CONAQ -, manifesta profundo pesar, tristeza e indignação e repúdio pelo assassinato de Bernadete Pacífico, de 72 anos, liderança quilombola do território de Pitanga dos Palmares, e coordenadora nacional da CONAQ. Sobretudo, nos solidarizamos com as famílias, amigos e comunidade nesta hora de dor e luto e reafirmamos nosso compromisso com a luta!
Dona Bernadete Pacífico, mãe de santo e líder da comunidade Quilombola de Pitanga dos Palmares, em Simões Filho (BA), foi assassinada a tiros na noite desta quinta-feira (17), dentro do terreiro que comandava em Simões Filho, localizado na Região Metropolitana de Salvador. De acordo com as primeiras informações, ela estava sentada no sofá quando dois homens armados invadiram o local. Os assassinos teriam fugido em seguida.
A ialorixá e defensora de direitos humanos vivia sob ameaças desde que passou a cobrar justiça pelo assassinato do filho. Por isso, ela foi incluída no Programa Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), em 2017.
As ameaças à vida de Mãe Bernadete voltaram a ganhar força a partir de um encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, em julho. O evento ocorreu na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, localizado também na Região Metropolitana de Salvador. Na ocasião, ela destacou a luta por justiça pela morte do filho, Flávio Gabriel Pacífico, o Binho do Quilombo, que foi assassinado em 2017, por homens armados também na área do quilombo. A morte de Binho não foi elucidada mesmo após seis anos do assassinato.
A Comunidade Pitanga dos Palmares luta há anos pela regularização fundiária, mas até agora o processo não foi concluído pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), deixando o território vulnerável a invasões e as pessoas sujeitas a violações do direito à terra, à água e à vida por grupos ligados à especulação imobiliária, interessados em ocupar a área. Vivem na comunidade cerca de 289 famílias e tem 854,2 hectares, reconhecidos em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Em nota, a CONAQ repudiou o crime. “Sua dedicação incansável à preservação da cultura, da espiritualidade e da história de seu povo será sempre lembrada por nós”, diz o texto. “Sua ausência será profundamente sentida. Seu espírito inspirador, sua história de vida, suas palavras de guia continuarão a orientar-nos e às gerações futuras”. A entidade é uma das 48 organizações membros do Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH).
Em conjunto com a CONAQ, o Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos, cobra do governo medidas imediatas para a proteção dos outros líderes do quilombo de Pitanga de Palmares e uma investigação rápida para encontrar os responsáveis pelo crime. “Enquanto lamentamos a perda dessa corajosa liderança, também devemos nos unir em solidariedade e determinação para continuar o legado que ela deixou”, diz em nota a CONAQ.
O CBDDH manifesta a toda a Comunidade Quilombola e da defesa de direitos humanos profundo pesar, e reafirma a solidariedade e compromisso na luta por justiça. Seguiremos incansavelmente para que não se repita.
O fortalecimento do PPDDH e a elaboração da Política Nacional devem estar definitivamente nas prioridades do governo. Não podemos mais aceitar mortes defensoras e defensores de direitos humanos que estavam no radar do programa devido à falta de estrutura básica de proteção e recursos adequados. É urgente que o estado brasileiro cumpra sentença judicial e elabore o Plano Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas.
Mãe Bernadete Presente!
ERRATA (19/8/2023): Na última sexta-feira (18/08), informamos incorretamente que o Programa Estadual [da Bahia] teve o recebimento de repasse de verbas interrompido pelo governo federal. Porém, esta informação está errada. Não houve descontinuidade de repasses de recursos ao Programa Estadual pelo governo federal. Pedimos desculpas aos nossos leitores e a toda e qualquer pessoa, veículo ou órgão público que possam ter sido prejudicados pela publicação da informação equivocada
A Conaq repudia o assassinato da Coordenadora Nacional Bernadete Pacífico
É com profundo pesar que lamentamos o falecimento de Maria Bernadete Pacífico, a popular Mãe Bernadete, como era carinhosamente conhecida por todas as pessoas. Mãe Bernadete era Coordenadora Nacional da CONAQ e liderança quilombola do Quilombo Pitanga dos Palmares, localizada no município de Simões Filho, estado da Bahia. Sua dedicação incansável à preservação da cultura, da espiritualidade e da história de seu povo será sempre lembrada por nós. Nos apoiaremos no seu exemplo e no seu legado na luta por justiça. Nossos sentimentos estão com o Quilombo Pitanga dos Palmares, com suas amigas e amigos, e com sua família, da qual fazemos parte enquanto quilombolas. Sua ausência será profundamente sentida. Seu espírito inspirador, sua história de vida, suas palavras de guia continuarão a orientar-nos e às gerações futuras.
A família Conaq sente profundamente a perda de uma mulher tão sábia e de uma verdadeira liderança. Sua partida prematura é uma perda irreparável não apenas para a comunidade quilombola, mas para todo o movimento de defesa dos direitos humanos.
Mãe Bernadete foi insidiosamente executada na noite desta quinta-feira (17/08). Era mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos (Binho do Quilombo), liderança quilombola da comunidade Pitanga dos Palmares, também assassinado há 6 anos. O assassinato de Binho, como o de tantas outras lideranças quilombolas, continua sem resposta e sem justiça. Junta-se à injustiça mais uma vítima da violência enfrentada por aqueles que ousam levantar suas vozes na defesa dos nossos direitos ancestrais. Mãe Bernadete, agora silenciada, era uma luz brilhante na luta contra a discriminação, o racismo e a marginalização. Atuava na linha de frente para solucionar o caso do assassinato do seu filho Binho e bravamente enfrentou todas adversidades que uma mãe preta pode enfrentar na busca por justiça e na defesa da memória e da dignidade de seu filho. Nessa luta, com coragem, desafiou o sistema e, como tantas mulheres, colocou seu corpo e sua voz na defesa de uma causa com a qual tinha um compromisso inabalável. Sua voz ressoava não apenas nas reuniões e eventos, mas também nos corações daqueles que acreditavam na mudança.
Este acontecimento trágico evidencia a crueldade das barreiras que se colocam no caminho de quem luta. Enquanto lamentamos a perda dessa corajosa liderança, também devemos nos unir em solidariedade e determinação para continuar o legado que ela deixou. Que sua memória inspire novas gerações a continuar a luta por um mundo onde todas as vozes sejam ouvidas, todas as culturas e religiões sejam respeitadas e todos os direitos sejam protegidos.
A Conaq exige que o Estado brasileiro tome medidas imediatas para a proteção das lideranças do Quilombo de Pitanga de Palmares. É dever do Estado garantir que haja uma investigação célere e eficaz e que os responsáveis pelos crimes que têm vitimado as lideranças desse Quilombo sejam devidamente responsabilizados. É crucial que a justiça seja feita, que a verdade seja conhecida e que os autores sejam punidos. Queremos justiça para honrar a memória de nossa liderança perdida, mas também para que possamos afirmar que, no Brasil, atos de violência contra quilombolas não serão tolerados.
Bernadete Pacífico, liderança quilombola da Bahia, é assassinada
Segundo a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, terreiro onde liderança estava foi invadido por criminosos, na região de Salvador. Filho dela também foi assassinado há 6 anos.
Por Wesley Bischoff, g1 — São Paulo
Bernadete Pacífico, liderança quilombola da Bahia, é assassinada
Bernadete Pacífico, de 72 anos, liderança quilombola baiana e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), foi assassinada a tiros dentro da associação do Quilombo Pitanga dos Palmares, na noite desta quinta-feira (17).
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia, dois homens, usando capacetes, entraram no imóvel onde estava Bernadete na cidade de Simões Filho, e efetuaram disparos com arma de fogo.
Segundo o filho de Bernadete, Wellington dos Santos, em entrevista à TV Bahia, na manhã desta sexta-feira (18), a mãe foi assassinada com tiros no rosto.
Bernadete Pacífico foi assassinada com 12 tiros no rosto, diz filho
"Minha família está sendo perseguida, meu irmão foi morto da mesma forma. Não vamos parar, quilombo sempre será resistência", disse o filho da líder assassinada.
A SSP disse ainda que as polícias Militar, Civil e Técnica, após tomarem conhecimento do fato, iniciaram de imediato as diligências e a perícia no local para identificar os autores do crime. A secretaria ainda repudiou o crime.
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O quilombo Pitanga dos Palmares, que era liderado por Bernadete, também é responsável por uma associação onde mais de 120 agricultores produzem e vendem farinha para vatapá, além de frutas e verduras como abacaxi, banana da terra, inhame e maracujá. Cerca de 290 famílias vivem no local de 854 hectares. O quilombo foi certificado em 2004, mas ainda não teve o processo de titulação concluído.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), disse que recebeu "com pesar e indignação" a notícia da morte de Mãe Bernadete, a quem chamou de "amiga e grande liderança quilombola da Bahia". Ele ainda afirmou que determinou o deslocamento imediato das forças de segurança para o local e que elas sejam firmes na investigação.
Bernadete Pacífico, líder quilombola, foi assassinada na Bahia — Foto: Conaq
Mãe Bernadete, como era conhecida, é ex-secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da cidade de Simões Filho, durante a gestão do prefeito Eduardo Alencar (PSD), entre 2009 e 2016, e líder da comunidade quilombola do mesmo município.
Segundo a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, criminosos invadiram o terreiro onde Bernadete estava. "O racismo religioso mata e produz violências reais", escreveu a ministra.
"O ataque contra terreiros e o assassinato de lideranças religiosas de matriz africana não é pontual. O racismo religioso é mais uma faceta da conformação racista que estrutura o país e precisa ser combatido por meio de políticas públicas", diz a nota de Anielle Franco.
Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, também determinou o envio de uma equipe da pasta até o local do assassinato.
Segundo a Conaq, Bernadete era mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo. Ele era líder da comunidade Pitanga dos Palmares e foi assassinado há 6 anos.
"Mãe Bernadete, agora silenciada, era uma luz brilhante na luta contra a discriminação, o racismo e a marginalização", afirma o comunicado do órgão.
"Atuava na linha de frente para solucionar o caso do assassinato do seu filho Binho e bravamente enfrentou todas adversidades que uma mãe preta pode enfrentar na busca por justiça e na defesa da memória e da dignidade de seu filho."
Morta a tiros na Bahia, Bernadete Pacífico falou sobre violência contra quilombolas em encontro com presidente do STF em julho
Liderança foi morta por dois homens na noite de quinta-feira; Filho dela também foi assassinado há 6 anos. No mês passado, ela falou sobre o caso do filho com a ministra Rosa Weber.
Por g1 BA — São Paulo
Encontro da presidente do STF, Rosa Weber, com a liderança quilombola Bernadete Pacífico
Assassinada a tiros na noite de quinta-feira (17), na Região Metropolitana de Salvador, a liderança quilombola Bernadete Pacífico, de 72 anos, participou, em julho, ao lado de outras lideranças quilombolas da Bahia, de um encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber.
O evento ocorreu na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, também na Região Metropolitana de Salvador. Na ocasião, Bernadete denunciou ameaças e violências contra a comunidade quilombola. O encontro aconteceu um dia antes da divulgação do Censo do IBGE com dados das comunidades quilombolas.
Ela destacou a luta por justiça pela morte do filho, Flávio Gabriel dos Santos, o Binho do Quilombo, que foi assassinado em 2017, por homens armados também na área do quilombo.
Em julho, Bernadete Pacífico, criticou o descaso das autoridades com os quilombos
"Para a senhora ter uma ideia, até hoje não sei o resultado do assassinato de meu filho. Abalou todo mundo. Foi no mesmo período em que aconteceu a morte de Marielle (Franco). Inclusive, eu fui em diversos encontros com a mãe de Marielle. É injusto. Recentemente perdi outro amigo e uma amiga em um quilombo. É o que nós recebemos: ameaças, principalmente de fazendeiros, de pessoas da região", disse em trecho do discurso durante o evento com Weber.
"Hoje eu vivo assim, que eu não posso sair, que estou sendo revistada, minha casa toda cheia de câmeras, me sinto até mal, mas é o que acontece", disse Bernadete.
Em julho, Bernadete encontrou a presidente do STF em um encontro com quilombolas — Foto: Acervo pessoal
Em outras imagens, é possível ver o momento em que Rosa Weber e Mãe Bernadete, como era conhecida, posam para fotos.
Bernadete foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Simões Filho, onde fica o terreiro, durante a gestão do prefeito Eduardo Alencar (PSD) (2009-2016). 'Sambadeira', Bernadete também era conhecida por sua defesa da cultura popular quilombola.
Rosa Weber e Mãe Bernadete conversaram rapidamente em evento em julho — Foto: Acervo pessoal
Bernadete Pacífico, líder quilombola, foi assassinada na Bahia — Foto: Conaq
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, Bernadete foi morta por dois homens, usando capacetes, que entraram no imóvel da associação quilombola onde estava a vítima e efetuaram disparos com arma de fogo.
Quilombo Pitanga dos Palmares fica na Região Metropolitana de Salvador — Foto: TV Bahia
O quilombo Pitanga dos Palmares, que era liderado por Bernadete, também é responsável por uma associação onde mais de 120 agricultores produzem e vendem farinha para vatapá, além de frutas e verduras como abacaxi, banana da terra, inhame e maracujá. Cerca de 290 famílias vivem no local de 854 hectares. O quilombo foi certificado em 2004, mas ainda não teve o processo de titulação concluído.
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Familiar detalha ação que culminou na morte de Mãe Bernadete; confira
"Tanto tiro que achei que eu seria o próximo", contou a pessoa que não quis ser identificada
Um dos familiares de Bernadete Pacífico, a Mãe Bernadete, relatou com detalhes sobre os momentos de angústia que precederam o assassinato da líder religiósa, ocorrido na noite de quinta-feira, 17.
Em conversa exclusiva para o Portal A TARDE, a pessoa, que preferiu não se identificar, revelou que toda a ação dos criminosos começaram por volta de 20h40, quando eles estavam em casa.
"Eu estava com notebook no meu quarto e bateram na porta de casa. Uma das crianças pensou que pudesse ser meu tio e foram abrir. Neste momento, eu escutei os passos. Um deles fechou a porta do meu quarto, comigo ainda usando o notebook e fiquei sem saber o que fazer. Completamente atônito. Perguntaram se era assalto e eles não responderam", contou.
A pessoa ainda contou que, antes da execução, os criminosos ainda deram indícios de se tratar de um assalto. Na ação, celulares de todos que estavam na casa foram roubados.
"Eles estavam com capacete e capa de chuva de motoqueiro. Eles pegam o celular dela, pede para ela desbloquear e depois recolhem os das crianças. Em seguida, eles entram novamente no meu quarto, apontam a arma e dizem para eu deitar no chão. Ele passou por cima de mim, pegou meu celular e fechou a porta. Neste momento que escutei os disparos", complementou.
Durante o relato, a pessoa explicou que não foi possível saber ao certo quantos tiros foram disparados. No entanto, ao escutar os estampidos, ele torceu para que não tivesse sido direcionado às crianças.
"Quando vi que acabou, saí do quarto e encontrei minha avó naquela situação. Fui correndo para ver as crianças e fiquei aliviado por terem sido poupados", finalizou.
O assassinato da líder quilombola será investigado por uma força-tarefa, por determinação da delegada-geral da Polícia Civil, Heloisa Campos de Brito. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), o crime foi cometido por dois homens.