'Vontade de chorar', escreveu a professora nas redes sociais. O CNPq admitiu que errou e disse que a justificativa é 'expressar juízo de valor preconceituoso'.
Por g1
Página inicial do CNPq — Foto: Reprodução
A professora da Universidade Federal do ABC (UFABC) Maria Caramez Carlotto usou as redes sociais na terça-feira (26) para dizer que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a reprovou em um edital por não ter pós-doutorado no exterior e por ficar grávida.
"Resultado preliminar da bolsa produtividade @CNPq_Oficial reconhece minha carreira, mas aponta que não fiz pós-doc fora preliminar da bolsa produtividade [....] 'provavelmente suas gestações atrapalharam essas iniciativas, o que poderá ser compensado no futuro. 'Vontade de chorar", escreveu no X (ex-Twitter).
Em nota, o CNPq admitiu o erro e disse que ter realizado pós-doutorado no exterior não é requisito para concorrer ao edital e que usar a gravidez como justificativa para a reprovação é "expressar juízo de valor preconceituoso".
"Não é, portanto, compatível com os princípios que regem as políticas desta agência de fomento. A agência tem em suas normas, inclusive extensões de períodos de bolsa e de avaliação em decorrência de maternidade", informou a nota também.
Além disso, a agência informou que o juízo foi formulado em "parecer ad hoc", quando são emitidos por especialistas. E que pode não ser corroborado pelo comitê assessor responsável pelo julgamento do edital.
Dessa forma, a Diretoria Científica informou que levará o caso à Diretoria Executiva do CNPq "para o exame das providências cabíveis".
"O CNPq tem como valores a busca de maior inclusão considerando dimensões de gênero, étnico-raciais e assimetrias regionais e não tolera atitudes que expressem preconceitos de qualquer natureza, sejam eles de gênero, raça, orientação sexual, religião ou credo político", informou a nota ainda.
Vale destacar que a professora — assim como qualquer outro proponente — pode entrar com recurso após o julgamento do edital. A medida serve para outra banca julgar o pedido de bolsa.
O CNPq ainda não informou se a pesquisadora ganhou a bolsa ou não.
"Me submeteu, depois, a uma violência de gênero"
Após o posicionamento do CNPq, a professora usou as redes sociais para que dizer que o principal incômodo não foi a reprovação em si, mas a área de pesquisa dela, a sociologia, ter um incentivo para mães submeterem projetos.
"Nesse sentido, foi, sim, um erro do parecerista ad hoc, mas foi também do CNPq que deveria ter interditado o parecer como um todo. Na prática, o CNPq me incentivou a submeter um projeto pós-licença maternidade e me submeteu, depois, a uma violência de gênero".
"[O] absurdo desse parecer é tão grande que ele diz que o fato de eu não ter feito pós-doc fora do país, assim como a falta de projetos financiados, seria por "culpa" das minhas duas gestações (as mesmas que o edital incentivava a declarar)", escreveu ainda.
fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/12/27/cnpq-usa-gravidez-como-justificativa-para-reprovar-professora-da-ufabc-em-edital-de-pesquisa.ghtml
Parecer ao CNPq diz que gravidez atrapalha carreira
Professora da UFABC relatou o caso nas redes sociais. Universidade e conselho federal se manifestaram em repúdio ao ocorrido
A professora e pesquisadora Maria Carlotto, da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Paulo, expôs nas redes sociais, na terça-feira, um parecer preconceituoso recebido em um processo seletivo de bolsa de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
De acordo com ela, entre as justificativas para a avaliação negativa, foi dito que as 'gestações atrapalharam' algumas iniciativas da carreira. O CNPq repudiou o ocorrido após a repercussão do relato. No entanto, embora a própria agência tenha classificado a avaliação como preconceituosa, ela foi o ponto principal para o resultado final preliminar - que cabe recurso - da bolsa, de acordo com Maria.
A UFABC se disse 'perplexa' e 'indignada' com o parecer. 'Resultado preliminar da bolsa produtividade do CNPq: reconhece minha carreira, mas aponta que não fiz pós-doutorado fora. Pandemia? Governo Bolsonaro? Não... Provavelmente suas gestações atrapalharam essas iniciativas, o que poderá ser compensado no futuro. Vontade de chorar', escreveu no X, antigo Twitter. Segundo ela, o pós-doutoramento não era critério para o benefício. Com esse parecer, veio outro, que foi 'muito favorável', conta.
Conforme o currículo disponível na plataforma Lattes, ela é formada em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo em 2005. Concluiu um mestrado em Sociologia, também na USP, sobre a nova Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e seus efeitos sobre o sistema nacional de pesquisa e inovação em 2008. Entre 2010 e 2011, realizou um estágio na Université de Paris IV-Sorbonne, na área de sociologia do conhecimento. Em 2014, defendeu o doutorado no Programa de Pós-graduação em Sociologia da USP.
Atualmente, é professora do Bacharelado em Ciências e Humanidades, do Bacharelado em Relações Internacionais (BRI) e do Programa de Pós-graduação em Economia Política Mundial da Universidade Federal do ABC (UFABC). O CNPq disse estar ciente do ocorrido e afirmou que o juízo é 'inadequado', tanto porque um estágio no exterior não é requisito para o edital, quanto por ser 'preconceituoso com as circunstâncias associadas à gestação'. E informou que 'a agência instruirá seu corpo de pareceristas para maior atenção na emissão de seus pareceres'.