Quase lá: Desafios persistentes para mulheres e meninas negras no Brasil: Um olhar sobre a realidade atual

Apesar dos avanços sociais e econômicos no Brasil nas últimas décadas, as mulheres negras ainda enfrentam uma série de desafios que comprometem sua plena participação na sociedade, impedem seu empoderamento econômico e segue perpetuando um histórico ciclo de pobreza.

 

Maria Sylvia de Oliveira

maria sylvia geledes

Foto: Natália Carneiro

 

Em 25 de julho celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Como sabemos a data foi instituída em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado na República Dominicana. No Brasil é também o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em homenagem à líder do quilombo Quariterê, que lutou contra a escravidão, no século XVIII.

A data nos traz a oportunidade de reconhecer e celebrar a contribuição das mulheres negras para a sociedade brasileira, além de refletir sobre os desafios ainda presentes na busca por igualdade e justiça. A luta e a resistência das mulheres negras têm raízes profundas e significativas, essas mulheres sempre foram presença fundamental e inconteste no movimento de emancipação da população afrodescendente, pautando as condições específicas de ser mulher e negra numa sociedade estruturada pelo sexismo e pelo racismo patriarcal.

Apesar dos avanços sociais e econômicos no Brasil nas últimas décadas, as mulheres negras ainda enfrentam uma série de desafios que comprometem sua plena participação na sociedade, impedem seu empoderamento econômico e segue perpetuando um histórico ciclo de pobreza. A interseção de gênero e raça coloca mulheres e meninas negras em extrema vulnerabilidade e sujeitas as mais diversas formas de violência, que se manifestam em todas as áreas, a discriminação: no mercado de trabalho, sub-representação política; acesso limitado a oportunidades educacionais, etc.

A educação é uma ferramenta fundamental para a transformação social, mas o acesso a oportunidades educacionais de qualidade ainda é restrito para a maioria das mulheres e meninas negras no Brasil. O sistema de cotas é uma política afirmativa importante e alçou à universidade muitas pessoas negras, porém, a discriminação racial é um importante obstáculos a impedir que mulheres e meninas negras alcancem níveis mais altos de escolaridade.

No mercado de trabalho, a desigualdade de gênero é uma realidade. No entanto, quando se considera a raça, a disparidade se torna ainda mais acentuada. Mulheres negras em idade laboral, em sua maioria estão na informalidade, ganham significativamente menos do que homens brancos e, frequentemente, estão relegadas a posições de menor prestígio e remuneração. Esta desigualdade não está relacionada apenas a questão de discriminação direta, mas também ao acesso restrito as oportunidades de qualificação e avanço profissional, afetando, assim, a qualidade de vida de mulheres negras.

A sub-representação de mulheres negras na política brasileira é outro reflexo da desigualdade estrutural. Apesar de constituírem o maior grupo populacional no país (cerca de 60 milhões de pessoas), sua presença em cargos eletivos é mínima. A ausência de mulheres negras em posições de poder impede que suas necessidades e perspectivas sejam adequadamente tratadas nas políticas públicas. Isso perpetua um ciclo de exclusão e marginalização difícil de romper sem ações afirmativas e políticas inclusivas.

O aumento alarmante da violência contra mulheres e meninas negras no Brasil reflete o racismo sistêmico presente na sociedade. Os dados mostram que as mulheres negras são as principais vítimas de feminicídios, violência sexual, mortalidade materna, violência obstétrica. A combinação de machismo e racismo agrava a situação, resultando em uma maior exposição à violência física, psicológica e sexual. Essa violência é muitas vezes invisibilizada e subnotificada pelas autoridades, dificultando a criação de políticas públicas eficazes para enfrentá-la.

Embora tenhamos avançado em diversas áreas sociais, os desafios enfrentados por mulheres e meninas negras continuam a ser profundos e multifacetados. A violência de gênero e racial, a discriminação no mercado de trabalho, a falta de representação política e o acesso limitado a oportunidades educacionais são problemas interligados que necessitam de abordagens integradas e interseccionais. Somente com um compromisso coletivo e políticas públicas direcionadas será possível criar um ambiente verdadeiramente igualitário para mulheres e meninas negras, na sociedade brasileira.

A luta por igualdade e justiça para essas mulheres e meninas no Brasil é contínua e exige o envolvimento de toda a sociedade. É essencial reconhecer e combater as raízes históricas e estruturais da discriminação para construir um futuro mais justo e equitativo para nós mulheres e meninas negras.


Maria Sylvia de Oliveira
Advogada; diretora e coord. da área de Gênero, Raça e Equidade de Geledés-Instituto da Mulher Negra

fonte: https://www.geledes.org.br/desafios-persistentes-para-mulheres-e-meninas-negras-no-brasil-um-olhar-sobre-a-realidade-atual/

 


Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Logomarca NPNM

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...