Pesquisas apontam que as mulheres são maioria nas universidades, mas costumam ocupar mais vagas em cursos caracterizados como femininos, como as licenciaturas, por exemplo.
Pesquisas apontam que as mulheres são maioria nas universidades, mas costumam ocupar mais vagas em cursos caracterizados como femininos, como as licenciaturas, por exemplo. Considerando estas informações e também os mais de 10 anos de implantação da Lei 12.711/2012, que estabeleceu a reserva de vagas para pessoas oriundas de escolas públicas, autodeclarados pretos, pardos e indígenas e pessoas com deficiência; a professora
A professora da Faculdade de Educação, Eugenia Portela, decidiu investigar como tem sido o acesso de mulheres negras, por meio de cotas raciais, aos cursos de graduação das universidades públicas de Mato Grosso do Sul. Além de apontar em quais cursos existe maior e menor representatividade, o intuito é também analisar os programas de permanência e fortalecimento identitário ofertados a essas estudantes, de maneira a socializar ações exitosas e contribuir com o aperfeiçoamento dos programas existentes.
A pesquisa foi aprovada no edital Mulheres na Ciência Sul-mato-grossense da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect) e deve iniciar no segundo semestre deste ano. As instituições estudadas serão as universidades Federal e Estadual de Mato Grosso do Sul (UFMS e UEMS) e Federal da Grande Dourados (UFGD).
De acordo com a professora, a presença de mulheres negras na educação superior é recente e resultado de anos de luta por visibilidade e pelo direito à educação. Não está relacionada apenas ao pertencimento étnico-racial, mas também ao nível econômico, à pobreza e à origem familiar. “Historicamente as mulheres negras não ocuparam esse espaço significativo na academia pois, por muito tempo, ela foi majoritariamente branca. E é justamente a partir da universidade que espera-se uma ascensão social, um trabalho remunerado ou acesso aos concursos públicos, por isso é tão importante nos voltarmos a esse tema”, afirmou. “Algumas pesquisas mostram já o impacto do ingresso na Universidade na vida de quem a acessa por meio da reserva de vagas, porque a partir dele é possível participar dos programas de permanência que oferecem bolsas que possibilitam modificar sua realidade”, acrescentou.
Além da professora Eugenia, outras 15 pessoas irão participar da pesquisa atuando como pesquisadores, no apoio técnico ou apoio administrativo. Da UFMS serão: Aline Benvinda Figueiredo, Aparecida Queiroz Zacarias, Ana Paula Oliveira dos Santos, Átila Maria do Nascimento Corrêa, Bruna da Conceição Ximenes e Silvana Ferreira Gomes Maciel. Da UFGD serão: Aline Anjos da Rosa, Angelita da Cruz Espínola, Ana Paula Moreira de Sousa, Edicleia Lima de Oliveira e Fabiana Corrêa Garcia Pereira de Oliveira. Da UEMS serão: Ana Maria da Trindade Rodrigues Rauber, Irení Aparecida Moreira Brito e Wilker Solidade da Silva. E da Secretaria Municipal de Educação de Corumbá: Eduardo Henrique de Oliveira da Silva.
O recorte temporal do projeto será de 2017 a 2021. Os pesquisadores já possuem alguns dados quantitativos sobre o ingresso, registrados nos sistemas de seleção de cada instituição e também levantados em pesquisas de mestrado e doutorado orientadas pela professora Eugenia. O próximo passo é fazer a revisão bibliográfica para embasamento do estudo, analisar os dados quantitativos e documentais já obtidos e entrevistar as cinco estudantes negras que serão selecionadas dos cursos mais e menos concorridos de cada instituição. “A partir dos teóricos que discutem as relações étnico-raciais vamos analisar de que forma ocorre essa presença da mulher negra no ensino superior e o elemento ‘fortalecimento de identidade’. Então vamos trabalhar com: política da educação superior, política afirmativa, gênero feminino e identidade negra”, disse.
Os resultados da pesquisa devem compor o panorama nacional de estudos sobre os impactos das políticas afirmativas no ensino superior. “É muito significativo contribuirmos com esse cenário e para mim especificamente, que sou mulher negra, é mais significativo ainda conseguir mapear e saber qual o impacto dessa política na vida dessas graduandas”, finalizou a professora.
Texto: Ariane Comineti