É inadmissível que o percentual de representatividade das mulheres na política brasileira seja tão insignificante, quando comparado com países como a Bolívia e Nicarágua, na América Latina, e vários outros países africanos.
José Rodrigues Filho - julho 14, 2024
Fonte: Ministério das Mulheres
As recentes eleições na França e Inglaterra deram uma resposta ao sofrimento e violência praticados contra a sociedade, principalmente contra as mulheres, que no Brasil sofrem uma descarada violência política, evitando-se a participação delas na política, no Judiciário e outras importantes posições de destaque no âmbito governamental.
O Primeiro-Ministro da Inglaterra, Keir Starmer, antes de ser eleito, disse que a política se tornou algo como dividir as pessoas, e não o caminho de encontrar pontos em comum. Para ele, a política chegou a um ponto tóxico e de divisão, contrariando o que eles são na Inglaterra em termos de união.
Infelizmente, estamos vivenciando os mesmos sintomas, com uma política de divisão tóxica. Ao longo de dezenas de anos a elite política brasileira não fez da política uma força para bem, mas uma força para o mal, intensificando a violência política e o sofrimento do povo, principalmente das mulheres e negros.
Acreditamos que a participação das mulheres na política poderá recuperar o conceito de política como uma força para o bem comum, muito bem enfatizada na Filosofia por Hannah Arendt, depois dos horrores da Segunda Guerra Mundial.
Infelizmente, o conceito que o povo tem de política é de que se trata de uma força para o mal. É sinônimo de enganação, picaretagem e corrupção. Neste caso, acreditamos que as mulheres poderão começar o combate à violência política contra elas, participando urgente e intensivamente da vida política, com a promessa de mudar o conceito de política como uma força para o bem, numa batalha em favor da melhoria de qualidade de vida de nosso povo e contra as desigualdades sociais.
É lamentável a representatividade de candidatas mulheres nas eleições municipais deste ano nas capitais brasileiras. Isto é um sinal da violência política praticada contra elas. Não acredito que seja mais possível corrigir isto, aumentando o número de candidatas em todos os municípios brasileiros.
Contudo, as mulheres devem reagir a isto de forma intensa, só votando em candidatos a prefeitos que se comprometam com mudanças drásticas na lei eleitoral, de modo que seja permitido uma cota de 30% a 40% de mulheres na formação do próximo Congresso Nacional.
A mesma cota deve ser exigida para posição de mulheres na cúpula das Cortes de Justiça, incluindo o Supremo Tribunal Federal, que já deveria ter uma mulher negra como ministra. Espera-se, também, que o exemplo do atual Primeiro-Ministro da Inglaterra seja seguido pelo atual governo, indicando pelos menos 40% de mulheres para os ministérios.
É inadmissível que o percentual de representatividade das mulheres na política brasileira seja tão insignificante, quando comparado com países como a Bolívia e Nicarágua, na América Latina, e vários outros países africanos. Por conta disto, as mulheres são severamente atacadas, a exemplo da Lei do Estupro, apresentada de forma teatral no Senado Nacional.
Como falar em democracia, com tamanha violência política contra as mulheres? As eleições da Inglaterra e França nos mostraram que nem os conservadores de direita e nem os liberais de centro trouxeram benefícios para a sociedade. Além disto, o temor da extrema direita e da antipolítica foi intenso, sendo os partidos de esquerda vitoriosos.
Foram eleições que mostraram ao mundo que o Estado tem que proteger o povo, reduzindo as desigualdades sociais e eliminando o enriquecimento exagerado de meia dúzia de bilionários. No caso da Inglaterra, o único partido político com credibilidade de recuperar o Serviço Nacional de Saúde, chamado de NHS, foi o Labour Party (Partido dos Trabalhadores). Enfim, o sofrimento do povo pesou muito nas decisões dos eleitores.
Esperamos que o mundo caminhe para uma redução do sofrimento humano e a política voltada para o bem com certeza alcançará isto. O sofrimento das mulheres ao longo de séculos poderá levá-las a provocar mudanças que tanto desejamos, a exemplo do combate às mudanças climáticas, melhorias na educação e saúde, contemplando o aborto, moradia e, acima de tudo, confiança na política.
A reação das mulheres à violência política e a participação delas na política irritam a elite política dominante, ao saber que a luta delas é por democracia, liberdade e cidadania. Ademais, elas insistem na responsabilização, que não agrada aos acostumados aos orçamentos secretos e outras imoralidades, a exemplo da ação abominável dos parlamentares esta semana, anulando os crimes de seus próprios partidos.
Esta imunidade ao crime pelo Legislativo ou Judiciário não é uma prática da democracia. A violência política contra as mulheres nos impede de alcançar a democracia e a luta delas por uma política do bem será a maior revolução deste século.