66% dos profissionais nascidos entre 1960 até 1979 sentem que os mais novos duvidam de seu profissionalismo. Mas os 60+ estão cada vez mais produtivos
O termo etarismo nunca esteve sendo tão em pauta. Episódios mais recentes vão desde momentos de glória, quando vibramos com a sexagenária Michelle Yeoh ganhadora do Oscar, ao fazer um discurso inspirador antietarista, até momentos de indignação com o preconceito contra uma estudante de 45 anos. E que bom.
Como pedagoga e psicanalista, com profundo respeito pelos meus 62 anos, me esperanço ao ver um tema como esse sendo varrido para fora do tapete. Acredito que tudo que levanta debate gera crescimento, novas oportunidades e leituras para a nossa visão de mundo. Finalmente estamos popularizando um termo que, segundo a Academia Brasileira de Letras, trata da 'discriminação e preconceito baseados na idade, geralmente das gerações mais novas em relação às mais velhas'.
É claro o etarismo permeia a nossa cultura faz muito tempo. No mercado de trabalho ele aparece com certa frequência. A última versão da Global Learner Survey, pesquisa realizada pela Pearson com a Morning Consult em 2022, mostrou ao ouvir 6 mil mulheres em diferentes países, Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, México e índia. Nela, 74% das mulheres afirmaram que a discriminação ainda é um ponto forte na hora de participar de processos seletivos. Já 65% acreditam que o preconceito em relação a idade deve ser combatido.
A pesquisa do site de empregos Infojobs vai ao encontro dessa estatística ao mostrar que 66% dos profissionais da geração X (nascidos entre meados da década de 1960 até 1979) sentem que os mais novos duvidam de seu profissionalismo. O preconceito baseado na idade está inserido no discurso da maioria dos empregadores, acionando os mais variados tipos de opressão, desrespeito e desvalorização das soft e hard skills do idoso. Acontece em qualquer segmento, biografia e currículo das vítimas. A popstar Madonna acaba de ser vítima do etarismo no Grammy por sua aparência. A influenciadora Sandy já se disse 'velha pra ser jovem'. E ela só tem 40 anos.
De acordo com o último relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050 o número de pessoas com mais de 60 anos irá duplicar no mundo e triplicar no Brasil. Mas o que, para muitos, pode ser um momento de decadência, eu costumo enxergar como vida, tempo de criar e, mais do que nunca, de aprender! Os 60 estão cada vez mais produtivos e ávidos por conhecimento. E em um mundo em constante transformação, aprender é ao longo de toda a vida mesmo. As possibilidades são infinitas - inclusive de estudar um novo idioma, seja para viajar a passeio, realizar um intercâmbio ou aprender a tão sonhada cultura que ainda não teve chance.
Segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), os viajantes com mais de 65 anos representam cerca de 15% das vendas dos pacotes turísticos vendidos no Brasil para destinos nacionais e internacionais. O aumento da expectativa de vida e a estabilidade financeira tardia podem estar entre as razões pelas quais muitos deixem para realizar seus sonhos mais tarde. Estudar outra língua é uma delas.
Acompanho com entusiasmo os mais velhos retornando à sala de aula nas universidades, aos cursos técnicos, aos supletivos, cursos de inglês, sendo autodidatas e quebrando preconceitos. É importante não ter medo de experimentar, de mexer no desconhecido e encarar o novo com naturalidade. A geração 40 foi educada em um tempo em que errar era proibido, sendo que o processo de aprendizagem passa pela tentativa e erro.
Ocupar espaços da educação por alunos da terceira idade é fundamental para combater o etarismo e construir uma sociedade mais justa. Espero, sinceramente, não precisar afirmar o óbvio: que somos plenamente capazes de nos desenvolver em qualquer etapa da vida. O etarismo precisa sim ser discutido e que nossas respostas tragam novas oportunidades para quem se sentia abandonado pela vitalidade e colágeno de outrora. Podemos tudo e queremos mais. Why not?
*É pedagoga, psicanalista, psicóloga e Bacharel em Direito, Mestre em Educação e doutora em Psicologia. Já atuou no Ensino Básico e em universidades e atualmente é Gerente Pedagógica na área de Governo da Pearson.