A organização exige que os governos e o setor privado promovam iniciativas que acelerem a conquista da igualdade de gênero.
Os avanços foram enormes, mas para as mulheres a igualdade ainda é um sonho ilusório. A Organização das Nações Unidas para a Mulher (ONU Mulheres) alertou nesta segunda-feira na Cidade do México que, no ritmo atual das reformas, as mulheres alcançarão a igualdade com seus pares masculinos em 300 anos, pelo que a organização exigiu que os governos e o setor privado implementem medidas que permitem reduzir mais rapidamente as brechas econômicas e a violência que as alimenta. “A hora da igualdade é hoje. Vamos fazer da igualdade não apenas uma aspiração, mas uma realidade palpável”, disse Belén Sanz Luque, representante da ONU Mulheres no México, durante a apresentação de um relatório sobre equidade elaborado por aquela organização.
A reportagem é de Carlos S. Maldonado, publicada por El País, 27-06-2023.
A ONU adverte que os desafios continuam enormes. Por exemplo, que entre as 500 grandes empresas do mundo, apenas 52 são comandadas por mulheres. Ou que uma em cada três mulheres é alvo de violência no mundo. E em países como o México, onde 10 mulheres são assassinadas todos os dias em média, os desafios são como enormes obstáculos em uma pista de obstáculos. O relatório mostra que neste país norte-americano a percentagem de mulheres que vivem na pobreza aumentou no ano passado a tal ponto que quatro em cada dez se encontram nesta situação de privação. As mulheres indígenas carregam o peso dessas estatísticas em vermelho, já que sete em cada dez vivem nessa condição. “As mulheres indígenas apresentam um percentual maior (29,8%) de extrema pobreza em relação aos dados nacionais (8,5%)”, alerta a ONU.
Além disso, continuam submersas na economia informal, realizando tarefas domésticas e de cuidado, sem acesso a benefícios trabalhistas, como previdência social, salário mínimo ou benefícios. Mais de 90% dos dois milhões de trabalhadores domésticos não têm esses benefícios. “O México ainda enfrenta desafios em termos de pobreza, economia informal, feminicídios e violência contra mulheres e meninas, problemas agravados em parte pelos efeitos da pandemia de Covid-19 e pelo processo de recuperação econômica”, alertou Sanz Luque.
A ONU Mulheres apresentou seu relatório em evento organizado na noite desta segunda-feira na sede do Museu Interativo de Economia (MIDE), na capital mexicana, um imponente palácio do vice-reinado, construído em 1766 e que inicialmente foi um convento da ordem do Betlamitas. No pátio do local, representantes do governo, empresas e entidades demonstraram interesse em realizar ações para melhorar as condições das mulheres e que a tão almejada igualdade não demora 300 anos para acontecer. "A justiça social estabelece que não podemos alcançar a igualdade e o trabalho decente se não garantirmos as mesmas oportunidades para todas as mulheres", disse Pedro Américo, diretor do escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para o México e Cuba durante o evento, apontado como Noite pela Igualdade, do qual participaram personalidades como a atriz Karla Souza ou a cantora Ximena Sariñana.
Apesar dos desafios que as mulheres enfrentam em sua luta pela igualdade, a ONU também mostrou dados para otimismo. No México, seis em cada 10 pessoas que se formam na universidade são mulheres. Em todo o mundo, quase todos os parlamentos integraram mulheres legisladoras em suas fileiras, uma situação impensável há apenas algumas décadas. As mulheres já representam 54% de todos os representantes locais nos parlamentos mexicanos. O percentual de mulheres em cargos de chefia na administração pública chega a 39,62% e nove estados do país são governados por mulheres. A razão para isso são as políticas de paridade que foram aprovadas nos últimos anos. Hoje há muitas mulheres na linha de frente política e pela primeira vez o Supremo Tribunal de Justiça é presidido por uma mulher.
A mensagem da noite de segunda-feira, porém, foi clara: o que foi conquistado até agora não é suficiente. “Vale a pena triplicar nossos esforços, porque levaremos 300 anos para alcançar a igualdade de gênero. E vamos continuar tentando!”, reiterou a jornalista Marion Reimers, embaixadora da boa vontade da ONU Mulheres.
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