Cerca de 90 lideranças sindicais feministas definiram a pauta que será levada ao 16º Congresso Estadual da CUT/RS
O Encontro Estadual de Mulheres Trabalhadoras da CUT/RS aconteceu no sábado (20) e reuniu cerca de 90 lideranças sindicais no auditório do SindBancários, no Centro Histórico de Porto Alegre.
Conforme explicou a secretária da Mulher Trabalhadora da central sindical, Mara Weber, o encontro definiu uma pauta do movimento sindical feminino e que será levada para o 16º Congresso Estadual da CUT/RS, que está marcado par o primeiro final de semana de agosto.
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“Tivemos uma grande escuta das mulheres, de trabalho remunerado ou não, e construímos juntas uma pauta para que sejamos ouvidas nos territórios, nas entidades sindicais, nas lutas, nas negociações coletivas e nos espaços de poder e decisão”, afirmou Mara.
A pauta foi definida a partir de grupos de trabalho realizados durante o encontro, organizando as mulheres em grupos de macrossetores, como indústria, comércio e serviços, transporte, serviço público, saúde, agricultura familiar, setor financeiro e educação, além das participantes do Projeto CUT com a Comunidade.
Após, os grupos se reuniram novamente no auditório para apresentar as conclusões, que apontaram questões como assédio sexual e moral no trabalho, nos sindicatos e na sociedade, machismo estrutural e sobrecarga de trabalho, dentre outras.
As mulheres apontaram várias propostas do que fazer e como fazer para mudar o mundo do trabalho pela visão das mulheres, como combate ao assédio e à violência, equidade de gênero, valorização do trabalho, revogação do Novo Ensino Médio, educação de qualidade, defesa do SUS, direito ao lazer e formação política. Todas as propostas foram sistematizadas para envio à Executiva da CUT/RS e posterior encaminhamento para debate no 16º CECUT.
Diversidade que fortalece
A dirigente sindical Mara Weber ainda lembrou que a CUT/RS está distribuindo, junto de diversos sindicatos e federações, o gibi "Mexeu com uma, mexeu com todas". Já foram impressos e enviados às bases mais de 60 mil exemplares, sendo que a história em quadrinhos pode ser acessada gratuitamente pela internet.
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Participaram do evento mulheres trabalhadoras representantes de diversas categorias e ramos de atuação, urbanas e rurais, dos setores público e privado. Também participaram mulheres do Projeto CUT com a Comunidade.
Segundo a secretária-geral da CUT/RS, Vitalina Gonçalves, o encontro evidencia a necessidade de “escutar as mulheres para que possamos fazer a nossa luta de emancipação, abrindo espaços para garantir paridade de fato na CUT e na sociedade”. Também destacou a pluralidade das mulheres que participaram, afirmando que essa diferença faz mais forte a luta sindical.
"Enquanto não tivermos uma sociedade radicalizada feminista, não teremos igualdade e justiça social”, apontou. “Mulheres nos espaços de poder, sim, com poder de decisão”, completou Vitalina.
O trabalho na vida das mulheres
A economista Lúcia Garcia, que trabalha há 32 anos no Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), fez uma exposição sobre “o trabalho na vida das mulheres”, refletindo sobre o conceito de trabalho e a crise da sociedade capitalista.
Ela frisou que “é preciso ir além dos limites do mercado de trabalho”, destacando que “trabalho é toda ação humana que gera sobrevivência”. Ou seja, “trabalho é tudo o que a gente faz e nós trabalhamos sempre. Trabalho não é somente o que eu faço na metalurgia ou na refinaria. É o ovo que eu frito, é a criança que eu cuido, é o pai e a mãe que eu cuido, é estar tricotando, é estar na horta, é estar fazendo absolutamente tudo”, explicou.
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Lúcia salientou os formatos do trabalho: os afazeres domésticos, os cuidados, os trabalhos voluntários (no sindicato, na associação, no partido, na igreja), os trabalhos de autoprodução (quando se produz algo que a pessoa ou a família irão consumir).
Segundo ela, só um trabalho realizado para o mercado ou para alguém a troco de dinheiro, que gera renda, “é o único que infelizmente dá cidadania. Todos os outros trabalhos são invisibilizados”.
A especialista comparou a sociedade capitalista a um iceberg. “Há uma ação orquestrada para olhar apenas o que está acima da linha do oceano para enxergar somente uma parte da sociedade”, disse, observando que “muitas vezes esse discurso copta lideranças populares e sindicais”.
Conforme Lucia, “a economia capitalista só funciona crescendo”, frisando que, quando isso não acontece, entra em crise. Ela alertou que “está aumentando o tempo de trabalho não pago”.
“A única saída é coletiva. O que fazer e como fazer? Nós temos que saber para onde chegar. Vamos debater”, concluiu a economista.
* Com informações da CUT/RS
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko