Em comentário para o CEE Podcast, a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, a vice-diretora de Pesquisa e Inovação da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fiocruz, Luciana Dias, e a representante da Ensp no Grupo de Trabalho Mulheres e Meninas na Ciência, Vera Lucia Marques, destacam como pensar o futuro da sociedade brasileira a partir da equidade de gênero, pelas comemorações do Mês da Mulher.
A reportagem é de Daiane Batista, publicada por Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho, 29-03-2023.
De acordo com Cristiani, historicamente, as mulheres são sub-representadas em diversos campos do conhecimento. Para a pesquisadora, existe “uma divisão de trabalho na sociedade que sobrecarrega as mulheres e as coloca em desvantagem, em comparação com os homens”, destaca.
Para Cristiani, podemos estar perdendo talentos, isso porque muitas mulheres acabam desistindo de determinadas áreas, pela invisibilidade e pela dificuldade de seguir uma carreira diante das condições desfavoráveis impostas. “Uma perda para sociedade”, considera. “A inclusão, além de ser um direito, traz contribuições diferenciadas para Ciência, pois pode transformar a própria Ciência, trazendo uma reflexão teórica e uma produção de conhecimento mais próximas das necessidades variadas que a sociedade tem”, completa.
Corroborando, a pesquisadora Luciana Dias enfatiza a importância fundamental de termos uma ciência inclusiva e plural para que a produção de conhecimento não subsidie apenas grupos sociais e econômicos mais favorecidos. “Sabemos que uma ciência inclusiva e plural é essencial para se criar um ambiente propício à geração de novas ideias, à inovação tecnológica, ao desenvolvimento e à justiça social”, pontuou.
Para Luciana, essa construção deve ser emancipatória, a fim de possibilitar “a construção de uma sociedade mais justa e pautada na defesa da vida e da dignidade humana”.
Já a pesquisadora Vera Lucia ratifica a urgência de pensar a equidade de gênero em sua essência. “É pensar em ciências plurais, em que a pluralidade de mulheres atravessadas por múltiplos sistemas de opressões como de gênero, raça e classe social possam ter lugar e reconhecimento na produção de conhecimentos que, apenas, quem vivencia os efeitos da intercessão entre essas opressões é capaz de produzir”, analisa.
De acordo com Vera, a segregação das mulheres no campo científico é marcada socialmente pela divisão sexual do trabalho e possui dimensões horizontais e verticais. Nesse sentido, temos “de um lado a segregação horizontal, que é legitimada por estereótipos de gênero, que ligam as mulheres as ciências associadas ao cuidado como educação e saúde, majoritariamente femininas, enquanto as ciências exatas e tecnológicas são tidas como masculinas”, explica.
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