Brasília recebe Mostra Educativa gratuita em homenagem a Lélia Gonzalez

Programação começa nesta terça-feira (29), no CCBB, com seminário e exposição sobre legado da escritora e ativista

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Mostra celebra os 90 anos de nascimento e 30 anos de falecimento de Lélia Gonzalez - Januário Garcia

A partir do dia 29 de outubro, Brasília se tornará o palco da Mostra Educativa "Caminhos e Reflexões Antirracistas e Antissexistas", uma iniciativa que homenageia os 90 anos do nascimento e os 30 anos do falecimento de Lélia Gonzalez, ícone do feminismo negro e referência mundial nas discussões sobre raça e gênero no Brasil. O evento, realizado pela Associação dos Amigos do Cinema e da Cultura em parceria com a Fundação Banco do Brasil, acontecerá no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) até 8 de dezembro de 2024.

A mostra é uma continuação do Projeto Memória Lélia Gonzalez, que já passou por Belo Horizonte, Salvador e São Luís. A programação inclui uma exposição com 18 painéis que recontam a trajetória da escritora e ativista, além de seminários com palestras de renomadas autoras e ativistas que exploram o impacto do pensamento de Lélia.

Atividades abertas ao público

Os dias de abertura, 29 e 30 de outubro, serão marcados por seminários que abordarão temas como “A Influência de Lélia Gonzalez na Luta Antirracista e Antissexista” e “O Pensamento Decolonial de Lélia Gonzalez e sua Contribuição para a Educação”. Personalidades como a Ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, e Melina de Lima, neta de Lélia, estarão entre os palestrantes, ao lado de ativistas e educadores locais.

As atividades são gratuitas, mas os interessados em participar dos seminários devem garantir seus ingressos pelo site do CCBB Brasília, com reservas abertas 24 horas antes de cada evento. As vagas são limitadas, por isso, é recomendado que os participantes se inscrevam com antecedência.

Legado 

A Mostra Educativa não apenas reitera a relevância de Lélia Gonzalez, mas também promove um ambiente de reflexão sobre a luta antirracista e antissexista. Um documentário de 30 minutos sobre a vida e obra de Lélia será exibido, garantindo acessibilidade através de Libras, audiodescrição e legendas, para que todos possam se engajar e se beneficiar do conhecimento compartilhado.

Com a expectativa de atrair um público diversificado, a Mostra Educativa se destaca como uma oportunidade única de aprofundar discussões fundamentais sobre raça, gênero e direitos humanos, reafirmando o legado duradouro de Lélia Gonzalez na sociedade brasileira.

Programação

Terça-feira - 29 de outubro

18h • Abertura da Mostra Educativa
Foyer da Coleção de Arte Banco do Brasil

18h30 • Exibição de vídeo institucional (3min) e de vídeo documentário sobre a trajetória de Lélia Gonzalez (30min)
Teatro do CCBB Brasília

19h05 • Seminário
Teatro do CCBB Brasília

19h20 • Painel I: A influência de Lélia Gonzalez na Luta Antirracista e Antissexista

Mediadora: Melina de Lima - coordenadora de Articulação Interfederativa no Ministério da Igualdade Racial, diretora de cultura e educação do Instituto Memorial Lélia Gonzalez, co-fundadora do projeto Lélia Gonzalez Vive e neta de Lélia Gonzalez.

Convidadas: Macaé Evaristo - ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania; Lúcia Xavier - co-fundadora e coordenadora geral de CRIOLA, organização de mulheres negras; Edileuza Seles - quilombola e funcionária do Banco do Brasil e integrante do grupo auto-organizado BB Black Power.

21h30 • Apresentação cultura e coquetel

22h • Encerramento

Quarta-feira - 30 de outubro

18h • Visitação à Mostra Educativa
Foyer da Coleção de Arte Banco do Brasil

18h30 • Exibição de vídeo institucional (3min) e de vídeo documentário sobre a trajetória de Lélia Gonzalez (30min)
Teatro do CCBB Brasília

19h05 • Seminário
Teatro do CCBB Brasília

19h20 • Painel II: O Pensamento Decolonial de Lélia Gonzalez e sua contribuição para a Educação

Mediadora: Maíra de Deus Brito - jornalista, professora e diretora do Eixo de Comunicação do Instituto Memorial Lélia Gonzalez.

Convidadas: Amanda Motta Castro - professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e líder do grupo de pesquisa em estudos feministas Lélia Gonzalez/CNPq; Márcia Lima - socióloga e secretária de Políticas de Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo no Ministério da Igualdade Racial; Aline Carvalho - escritora e funcionária do Banco do Brasil e integrante do grupo auto-organizado BB Black Power.

21h30 • Apresentação cultural e coquetel

22h • Encerramento

Serviço

Mostra Educativa "Caminhos e Reflexões Antirracistas e Antissexistas"

Data: 29 de outubro a 8 de dezembro de 2024

Local: Centro Cultural Banco do Brasil - Brasília

Entrada: Gratuita - reserva de ingressos no site do CCBB

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Edição: Márcia Silva

fonte: https://www.brasildefatodf.com.br/2024/10/29/brasilia-recebe-mostra-educativa-gratuita-em-homenagem-a-lelia-gonzalez

 

CCBB recebe seminário e exposição sobre a vida de Lélia Gonzalez

Projeto Memória, sobre a trajetória e o legado da pensadora negra chega ao CCBB com seminário e exposição 

Nahima Maciel - Correio Braziliense - 30/10/2024
 
 
Autora de livros infantis com protagonistas negros, Aline Carvalho faz parte do BB Black, um grupo auto-organizado de servidores do Banco do Brasil -  (crédito: Divulgação)
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Autora de livros infantis com protagonistas negros, Aline Carvalho faz parte do BB Black, um grupo auto-organizado de servidores do Banco do Brasil - (crédito: Divulgação)
 

Lélia Gonzalez é uma dessas figuras que sempre esteve na proa, mas foi, durante muito tempo, ignorada pelos comandantes dos navios. Na última década, no entanto, ganhou protagonismo num cenário que costumava inviabilizá-la e passou a ser reconhecida como uma das pensadoras fundamentais do racismo estrutural no Brasil. Faz parte desse reconhecimento o Projeto Memória, que desembarca no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) com um seminário e uma exposição sobre a trajetória dessa ativista que levou para a academia as pesquisas sobre as lutas do movimento negro no Brasil e foi pioneira em fazer as universidades voltarem os olhos para o tema. 

O seminário teve início ontem, com as participações de Macaé Evaristo, ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, e Melina de Lima, neta de Lélia e coordenadora de Articulação Interfederativa no Ministério da Igualdade Racial e Lúcia Xavier, co-fundadora da ONG Criola. Hoje é a vez da escritora Aline Carvalho, da pesquisadora Amanda Motta Castro e de Márcia Lima, da Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo do Ministério da Igualdade Racial, com mediação de Maíra de Deus Brito.

Autora de livros infantis com protagonistas negros, Aline Carvalho faz parte do BB Black, um grupo auto-organizado de servidores do Banco do Brasil, e vai falar sobre a importância de Lélia na educação. "Hoje, nas escolas, a gente não tem referências negras, só as brancas. Acho que esse é um ponto importante. E a Lélia é uma intelectual, a gente não tem muitas pessoas negras denominadas intelectuais, ela conseguiu romper essa barreira e trouxe coisas importantes principalmente na questão da linguagem", explica Aline, que  também vai contar um pouco sobre a experiência do BB Black.

Organizadora, junto com Flávia Rios, do livro Por um feminismo afro-latino-americano, uma reunião de textos de Lélia Gonzalez lançada em 2020, Márcia Lima conta que se inspira diariamente na pensadora para o trabalho à frente da secretaria de Políticas de Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo, no Ministério da Igualdade Racial. "Ela nos faz pensar de maneira diferente a construção da identidade negra no Brasil e na Améfrica Latina, como ela diz, e inspira muitos dos trabalhos que a gente faz na secretaria", conta. "A gente tem o programa Caminhos Americanos, inspirado na Lélia, sobre a importância da decolonialidade da educação, que passa muito por desconstruir uma ideia de África e de uma visão ainda muito estereotipada sobre o continente  africano."

Para Márcia, uma das coisas que mais chamam a atenção na biografia da pensadora é o fato de ser uma mulher negra, brasileira, que, no final dos anos 1980, conseguiu rodar o mundo e construir as próprias experiências com essa circulação. "Ela tinha uma coisa muito interessante também que era essa postura de vanguarda com as feministas e mulheres negras, com o feminismo negro brasileiro, que tem muito a mão da Lélia", explica. Lélia foi, ainda, responsável por trazer para a academia, como objeto de estudo, termos como Améfrica e pretuguês, sendo este último baseado numa pesquisa das identidades construídas a partir da fusão linguística do português com as línguas africanas.

Trajetória multidisciplinar

Em cartaz até dezembro, a exposição Caminhos e reflexões antirracistas e antissexistas, mesmo título do seminário, reúne 18 painéis que trazem estampada, com textos e fotografias, a trajetória de Lélia Gonzalez. "A exposição é uma fotobiografia da minha vó com vários trechos da vida dela. É uma exposição super legal", avisa Melina, neta da pensadora. Lélia se formou em história, geografia e filosofia para dominar os instrumentos que permitiram os primeiros estudos acadêmicos sobre o racismo estrutural no Brasil. 

Foi professora da rede pública, fez mestrado em comunicação e doutorado em antropologia, foi docente de universidades como a PUC do Rio e ajudou a fundar o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro (IPOCN-RJ), em 1975, e o Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978. Gênero e etnia eram os alvos de suas pesquisas, que traziam uma perspectiva interseccional e visavam, principalmente, o impacto do sexismo e do racismo nas dinâmicas sociais. "A exposição fala muito sobre o tornar-se negra, um processo pelo qual a população negra passa para se reconhecer, sobre criar consciência e ter orgulho. Ela se especializou em várias áreas para apontar a estruturação do racismo. Estudou até linguística e psicanálise para apontar que o racismo é estrutural", explica Melina. 

A expectativa é que a exposição seja vista por mais de 14 mil estudantes da rede pública, que devem participar também de atividades programadas até dezembro. Um filme de 30 minutos sobre a pensadora foi produzido especialmente para a mostra e também será exibido nas grades das televisões públicas. É uma maneira, ainda que tardia, de colocar o pensamento de Lélia Gonzalez em evidência. "O racismo fez com que esse reconhecimento demorasse a chegar", lamenta Melina. "Ela teve reconhecimento nos movimentos negros, mas a grande maioria, ela não tinha conseguido alcançar." Foi a ativista norte-americana Angela Davis que, durante uma visita ao Brasil em 2019, falou que os brasileiros precisavam ler mais Lélia Gonzalez. "Ela não entendia por que Lélia não era referência, mas isso para as feministas bancas, porque no movimento negro, sempre foi celebrada", avisa Melina. "A gente está num bom momento de luta, de reconhecimento do racismo e Lélia tem tudo teorizado."

 

fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2024/10/6975936-ccbb-recebe-seminario-e-exposicao-sobre-a-vida-de-lelia-gonzalez.html