Atividades acadêmicas e culturais promovem debates e reflexões em ano que marca as duas décadas de instituição da lei de cotas no ensino superior
- Júlia Cerejo*
Em 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra. A data, instituída pela Lei n° 12.519/2011, faz referência a Zumbi dos Palmares, figura histórica na reivindicação dos direitos da comunidade negra. Na UnB, durante todo o mês acontecem atividades voltadas à conscientização da luta por garantias de igualdade racial para a população negra.
A Coordenação da Questão Negra da Secretaria dos Direitos Humanos (Coquen/SDH), responsável por promover políticas para o acolhimento dos discentes negros, reúne a programação sob o tema Novembro Negro na UnB: Por uma educação antirracista.
Participam da iniciativa o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab/Ceam), o Grupo de Estudos e Pesquisa Sobre Políticas, História, Educação e Relações Raciais e Gênero (Geppherg/FE), o Comitê Permanente de Acompanhamento das Políticas de Ação Afirmativa (Copeaa/Cepe) e discentes da UnB.
“Essa agenda interativa foi uma ação iniciada em junho pela Coquen com o Geppherg, e foi muito positivo, porque várias pessoas que estavam realizando ações sobre as cotas começaram a nos procurar, e assumiram essa agenda como sendo o canal para divulgação das suas atividades”, explica a professora Renísia Garcia, coordenadora da Coquen e líder do Geppherg.
A agenda segue recebendo indicações por parte de organizadores que estejam realizando atividades antirracistas. A ideia é unificar e ampliar a divulgação e o compartilhamento, favorecendo a participação da comunidade.
"Se o dia 20 de novembro é o dia em que se comemora o Dia da Consciência Negra, ter um mês em que grande parte da Universidade mergulha no eixo central das desigualdades – a articulação entre raça, classe e gênero – é seguir sendo farol", enfatiza Renísia.
Uma das programações já previstas na agenda coletiva é a aula aberta sobre Interseccionalidade de Gênero, Raça e Classe em Políticas Públicas e Transvestilidades Negras, no dia 27. Assessora de comunicação no Ministério da Igualdade Racial e mestranda em Direitos Humanos na UnB, Raio Gomes será umas das debatedoras.
Ela destaca que a participação de estudantes e pesquisadores nas atividades traz um impacto positivo para os estudantes. “Esse reconhecimento histórico de ações de inclusão de pessoas negras na sociedade como política pública é uma das vertentes do que tratamos na pós e que iremos abordar durante a aula aberta", antecipa.
LUTA ANTIRRACISTA – No dia 20, a Biblioteca Central (BCE) sediará o IV FLAME: Ações de Reexistência na Luta Antirracista, evento organizado pelo Núcleo de Escritoras Pretas Maria Firmina dos Reis (Nepfir), grupo de pesquisa do Instituto de Letras (IL), que busca dar destaque a obras produzidas por escritoras negras.
“O objetivo do evento é contribuir para a visibilidade das escritoras pretas na Universidade. Historicamente, no campo literário e, por consequência, nas Universidades, essas escritoras têm sido negligenciadas”, observa a docente do IL Norma Hamilton, co-fundadora do Nepfir.
"Uma das ações antirracistas do evento é a divulgação de um projeto desenvolvido pela bibliotecária Fernanda Cordeiro, que pretende viabilizar no acervo da BCE, obras de escritoras pretas”, acrescenta a professora.
>> Conheça mais sobre o projeto Visibilidade na BCE
O evento terá mesa de abertura, roda de conversa, sarau e exposição de livros. As inscrições são gratuitas e feitas na entrada do evento.
TEATRO – Neste Novembro Negro, apresentações do projeto Solos Negros nas Escolas estendem o espaço de reflexão para além da Universidade. A iniciativa leva peças teatrais sobre racismo, negritude, história e cultura dos povos negros ao público jovem e foi criada em 2023 pelo docente José Jackson Tea Silva, do Instituto de Artes (IdA).
“Criei esse projeto justamente para pautar duas coisas. A primeira é a inclusão desses professores pretos e pardos do IdA que estão se formando, do protagonismo do processo pedagógico deles. O segundo ponto é fomentar e dar visibilidade a essa capacidade que os alunos negros têm de se transmutar, e apresentar performances cênicas de excelência”, destaca.
O projeto está relacionado aos vinte anos da Lei n° 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, e que em 2004, por meio de um parecer do Ministério da Educação, determinou que as instituições de ensino superior incluíssem em seus conteúdos a Educação das Relações Étnico-Raciais.
Jackson explica que a intenção não é fazer uma homenagem, mas “lembrar a existência da lei e que precisamos nos deter sobre ela”.
O Solos Negros nas Escolas é composto por quatro discentes, que se apresentam, cada um, com um espetáculo próprio. Entre os monólogos apresentados estão Farinha e Açúcar, que aborda a história da formação do homem negro na sociedade e o Pequeno Príncipe Negro, uma releitura da obra lançada em 1943, que debate a infância negra a partir das reflexões presentes no livro.
O projeto visita escolas em diferentes regiões administrativas do Distrito Federal, com o intuito de não concentrar as ações nas áreas centrais de Brasília. Há apresentações marcadas para unidades como CED 08, do Gama, CEF 801, do Recanto das Emas, CED, 1, do Itapoã e CEM 04, de Ceilândia.
“A minha ideia para o próximo ano, é que esses espetáculos sejam apresentados nas escolas no decorrer de todo o ano, e não apenas nessa data do Novembro Negro. Para nós, é interessante ter essa visibilidade desperta durante o ano inteiro, e não somente em uma ocasião específica”, ressalta o professor.
*estagiária de Jornalismo na Secom/UnB.
fonte: https://noticias.unb.br/112-extensao-e-comunidade/6965-programacao-celebra-o-novembro-negro-na-unb