Quase lá: Setembro Amarelo

O "Setembro Amarelo" é o mês dedicado à campanha de prevenção ao suicídio, cujo o lema de 2024 é "Se precisar, peça ajuda"!

Sílvia Ester Orrú

 

O "Setembro Amarelo" é o mês dedicado à campanha de prevenção ao suicídio, cujo o lema de 2024 é "Se precisar, peça ajuda"!. A prevenção ao suicídio deve ser levada a sério todos os dias do ano ininterruptamente.

Importante dizer que as pessoas estão dizendo em alto e bom som, como também em seu silêncio gritante: EU PRECISO DE AJUDA! – contudo, os ouvidos sociais estão tapados pela indiferença quanto ao sofrimento psíquico do Outro, principalmente em razão da ganância e do poder que corroem o sentimento mais nobre que um humano pode abrigar em si: o Amor Fraternal. Amor este que não se traduz em romantismo e não diz respeito ao afeto pelos filhos, mães/pais, amigos próximos ou animais de estimação, mas ao amor para com O PRÓXIMO, este ser que se encontra em um não-lugar na maior parte do tempo de nossas vidas, um ser costumeiramente des-conhecido. O Amor Fraterno alcança o nosso semelhante a partir do respeito e do acolhimento às suas demandas, simplesmente por serem tão parecidas com as de qualquer outro ser humano, tão parecidas com as minhas e as suas: calor humano, viver em autenticidade, acesso à alimentação, saúde, moradia, segurança, educação, trabalho, lazer, alegrias – VIDA DIGNA SENDO QUEM SE É EM SUA PRÓPRIA DIFERENÇA.

O desrespeito e a indiferença quanto às necessidades e às dores do Próximo têm levado um sem-número de pessoas a pensarem em "desistir da vida" e outros a consumarem este pensamento tão triste. Na realidade, elas não querem desistir da vida, mas, sim, cessarem a dor insuportável do sofrimento psíquico que sufoca a vida e o sentido da vida que é: viver a própria vida cheio de vida. Não é uma questão de fraqueza, de falta de fé, de capricho, de intolerância à frustração. É adoecimento profundo e dolorido que abate a saúde mental e que precisa de atenção e cuidado.

Ainda existe muito preconceito quanto a buscar apoio junto a profissionais da saúde mental (psiquiatras, psicólogos, psicanalistas). Esse é um estigma a ser vencido, pois todos nós nos encontramos adoecidos pelas relações insalubres às quais estamos submetidos em nossa sociedade altamente tóxica e hipócrita. Romper com este ciclo violento deve ser uma escolha de tod@s nós! Escolher fazer o bem, escolher não entristecer o outro (se assim for possível), já é um bom caminho para transformarmos nossas relações sociais e nosso mundo social em "lugares" melhores para TOD@S existirmos e vivermos com mais alegria.

O sofrimento psíquico não deve ser ignorado, é preciso oferecer apoio à saúde mental das pessoas em todos os espaços sociais. É preciso que busquemos novos modos de compreender AS VIDAS para que vivamos melhor conosco mesmos e com as outras pessoas, pois nosso tempo na Terra é precioso tanto quanto é curto e segue ligeiro.

Por todo o planeta as Mulheres têm sido vítimas das mais horrendas formas de violência: de gênero, psicológicas, físicas, sexuais, domésticas, patrimoniais, jurídicas, obstétricas, entre tantas. Tamanha violência têm gerado indescritível sofrimento psíquico nas mulheres com altas taxas de ideações suicidas bem como de suicídio. As mulheres da América Latina, África e Ásia são aquelas que se encontram em maior vulnerabilidade socioeconômica e, portanto, mais suscetíveis à situações de risco que podem levar a profundo adoecimento da saúde física e mental. Lamentavelmente, também não é incomum encontrarmos mulheres que ao ocuparem posições e lugares de privilégio e exercício do poder, repetem o mesmo ciclo de violências ao reproduzirem as mais distintas formas de opressão às outras mulheres, servindo assim ao sistema hediondo do patriarcado.

Neste sentido, compartilho gratuitamente o PDF do livro Mulheres em Águas de Piratas: vozes insurgentes da América Latina, África e Ásia em luta contra o patriarcado, publicado em julho de 2023, semifinalista do Prêmio Jabuti Acadêmico de 2024. O livro em seu formato físico e em e-book pode ser adquirido pela Amazon. Trata-se de histórias de mulheres destes continentes e de suas lutas e movimentos contra os diversos tentáculos do patriarcado que se articulam em opressão ao feminino por meio de atrocidades tais como: racismo, casamento infantil, exploração sexual e tráfico de mulheres, estupros corretivos, mutilação genital feminina, opressão religiosa, assédio e violência sexual, violência de gênero no esporte e no trabalho, dentre tantas outras faces do patriarcado que foram tecidas ao longo desta obra.

Desejo por menos discursos hipócritas sobre prevenção ao suicídio e por mais ações coletivas de atenção e cuidado à saúde mental de tod@as pessoas.

 

 


Sílvia Ester Orrú é professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Aprendizagem e Inclusão (Lepai). Doutora em educação. 

fonte: https://noticias.unb.br/artigos-main/7542-setembro-amarelo

 


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