Quase lá: Parto humanizado: mães e filhos saudáveis

Equipe do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Parto e Nascimento (NIPPN-UFSC)

No dia 28 de maio, estaremos comemorando o Dia Latino-Americano de Redução da Mortalidade Materna. O falecimento durante a gestação, aborto, parto e pós-parto é, em sua maioria, evitável. Estima-se que o Brasil apresenta uma taxa de mortalidade materna próxima de 110 mortes por cem mil nascidos vivos. O tipo de parto é um fator relevante que pode evitar ou contribuir para o óbito da gestante. Hoje, sabe-se que o parto por cesariana expõe a mulher a um maior risco de complicações e morte. A contemporânea "epidemia" de cesarianas retrata uma cultura que demanda tecnologia, bem como intervenções desnecessárias e potencialmente danosas. Também forma profissionais sem consciência da alta complexidade envolvida nos processos fisiológicos da gestante e do bebê.

Inúmeros trabalhos vêm demonstrando a correlação do processo de gestação, parto e nascimento com o desenvolvimento do potencial humano para um comportamento mais agressivo ou mais amoroso. A fim de resgatar as vantagens e garantias de um parto saudável, profissionais da saúde estão empenhados em disseminar uma nova alternativa: o parto humanizado.

Além de priorizar o método natural de nascimento, o atendimento humanizado busca acolher com carinho os que nascem, colaborando para a construção de uma sociedade amorosa e ética, já que os primeiros momentos do bebê definem traços de sua personalidade. O parto humanizado também promove relações de confiança mútua, de cooperação, que incluem a todos com suas singularidades e diferenças. Este é, portanto, um momento primordial para desenvolver a nossa capacidade de amar.

O parto não precisa ser solitário

Este período de transição na vida da mulher deve ser considerado um evento tanto fisiológico quanto social. O apoio das pessoas mais próximas é fundamental para uma vivência tranqüila e saudável da maternidade. A presença do companheiro ou de outra pessoa, no momento do parto, é um fenômeno recente nos países industrializados.

Geralmente, o sentimento que as mulheres desenvolvem com profissionais de saúde não pode ser comparado com o já construído anteriormente com a pessoa escolhida para acompanhá-la. Elas confiam no/a acompanhante para desempenhar tarefas de apoio emocional e para o aumento do conforto físico. O reconhecimento de que a mulher necessita de apoio fez com que, gradativamente, os hospitais abrissem as portas para maridos, companheiros, mães, cunhadas etc. Em um período de 20 anos, a presença do/a acompanhante durante o parto passou de uma colaboração permitida para bastante necessária.

Experiência local

Desde sua inauguração, em novembro de 1995, a Maternidade do Hospital Universitário da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) permite a presença de um/a acompanhante. A experiência tem se revelado muito bem-sucedida, tanto no que diz respeito à satisfação das parturientes e suas famílias, quanto da própria equipe de saúde.

Fruto de prolongada e calorosa discussão, inicialmente os obstretas se colocaram contrários à implantação desta política. Alegavam que o/a acompanhante iria atrapalhar a rotina ou aumentaria o índice de infecção. Além disso, poderia ter condutas inadequadas, dada sua não-familiaridade com as rotinas médicas.

Hoje, passados mais de seis anos, existe um consenso institucional entre a equipe: o/a acompanhante nunca prejudicou o trabalho de parto. O contrário pode ser observado. Independente da classe social ou nível de escolaridade, a verdade é que esta "nova figura" nas salas de parto veio colaborar, melhorando, inclusive, a avaliação que as mulheres fizeram do parto:

"Adorei o acompanhamento do meu esposo na sala de parto. Assim ele soube do meu sofrimento, aprendeu a ficar mais sensível e amoroso." (parturiente atendida no HU-UFSC)

"Acho que a presença de uma acompanhante facilita a passagem do tempo, alivia a ansiedade e abrevia o período do parto." (parturiente atendida no HU-UFSC)

Num estudo recente, buscamos analisar as motivações que faziam as mulheres da região escolherem o HU. Observou-se que, ao lado do critério "bom atendimento", figura a possibilidade de ser acompanhada por alguém de sua confiança. O estudo também revelou que há diferenças quanto ao acompanhante que não é, necessariamente, o pai biológico. Mães e cunhadas também estão entre as pessoas mais escolhidas pelas gestantes para o acompanhamento. Boa parte das mulheres preferem a companhia de parentes mulheres que, além de compartilharem da mesma identidade de gênero, geralmente já passaram pela experiência do parto. As pacientes vêem nelas pessoas com melhores condições de prestar apoio e aconselhamento já que, quase sempre, os companheiros estão distanciados deste universo feminino.


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