Quase lá: Paternidade: é desejo, é direito, é compromisso!

Jorge Lyra e Benedito Medrado
Coordenadores do Instituto PAPAI

O dia dos pais tornou-se uma data puramente comercial, quando a mídia bombardeia mensagens e propagandas em que "amor paterno" aparece como mais um produto, entre muitos. Num movimento contrário, desde 1997, durante a semana do dia dos pais, o Instituto PAPAI tem promovido, em Recife e outras cidades, atividades que buscam estimular a reflexão sobre o cuidado infantil, valorizando a participação dos homens na educação e no cuidado dos filhos.

Em nossa sociedade, o cuidado infantil é uma experiência pouco valorizada e atribuída normalmente às mulheres. Pouco se pergunta aos homens sobre seu desejo de ser pai e pouco se informa sobre os direitos e compromissos relativos ao exercício da paternidade.

Não podemos esquecer que o cuidado é, antes de tudo, uma habilidade que se aprende ao longo da vida. Desde criança, as mulheres praticam o cuidado infantil. São estimuladas, por exemplo, a brincar de boneca, exercitando o que supostamente as espera pela frente: a vida doméstica. Quando um menino resolve incluir, entre suas brincadeiras, peças ou jogos relacionados ao lar, geralmente é recebido com chacotas e censura.

Assim, raras vezes presenciamos um homem adulto executando tarefas associadas ao cuidado de um bebê. Do mesmo modo, o cuidado das pessoas idosas e dos doentes, na família, também costuma ser desempenhado por mulheres. Enfim, em nossa cultura, "a arte de cuidar" aparece quase como uma condição natural de ser mulher. Ser mulher é ser, naturalmente, uma boa cuidadora.

Entretanto, pesquisas, reflexões e intervenções indicam o que é óbvio para alguns, mas novidade para muitos: a importância do homem na vida reprodutiva e o desejo de certos homens dela participarem.

Estudos também têm destacado que o exercício da paternidade pode gerar satisfação para as crianças, para as mulheres e para os próprios homens. Ampliar a aceitação do cuidado desempenhado pelo pai pode expandir seu papel junto aos filhos, o que faz com que os homens tenham mais facilidade em prover as necessidades das crianças, e desenvolver outros tipos de cuidado.

A maior participação dos homens nos cuidados para com seus filhos pode, por fim, dinamizar as relações de gênero na medida em que as crianças poderão observar com-portamentos de seus pais nestas atividades, possibilitando, assim, uma ampliação de seus repertórios quanto a papéis masculinos e femininos.

Um outro aspecto muito importante é o grande debate, no mundo todo, sobre a educação de filhos de pais ou mães homossexuais. As condições emocionais, econômicas e a disponibilidade para uma relação afetiva são muito mais importantes e determinantes do que qualquer outro fator para se ter filhos e poder educá-los em condições satisfatórias. Entendendo pai e mãe como função paterna e materna e não literalmente desempenhadas por homens e mulheres, não há "contradições" específicas, além das que existem para quaisquer pessoas, independentemente de sua orientação sexual.

Não podemos nos esquecer que a Constituição brasileira coloca como base para a igualdade de oportunidades, a necessidade em se promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Por fim, é importante lembrar que um homem pode ser perfeitamente feliz sem ter filhos, assim como uma mulher pode sentir-se plenamente realizada sem ser mãe. A paternidade e a maternidade não devem ser vistas como um dever, uma obrigação.

Para outras informações sobre o Instituto PAPAI, acesse www.papai.org.br, envie um e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. ou ligue (81) 3271 4804.


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