Quase lá: Uma mulher no Supremo

Numa solenidade concorrida, com a presença de parlamentares, representantes do Movimento de Mulheres e da área jurídica, foi empossada, no dia 14 de dezembro, a primeira mulher no STF- Supremo Tribunal Federal, a mais alta cúpula do Poder Judiciário. Ellen Gracie, 52 anos, carioca, ex-presidente do TRF- Tribunal Regional Federal da quarta região (SC, Pr e RS) é formada em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde fez também pós-graduação em Antropologia Social. Ellen é separada, tem uma filha e mora em Porto Alegre.

A nova ministra concedeu entrevista ao Fêmea antes da posse e falou da importância do Movimento Feminista na condução dos processos de ascensão das mulheres a cargos de poder.

Fêmea - Como será seu trabalho no STF? Quais as prioridades?

Ellen - Não sei como se dará o trabalho no Supremo. Ainda estou chegando e quando assumo algum cargo tenho sempre a postura de cautela, aprendizado e reserva. Tenho o privilégio, neste momento, de fazer parte de uma composição ilustre do Supremo que conta com ministros que participaram da Constituinte, professores universitários e profissionais que galgaram todos os postos da carreira jurídica. Destaco que as questões de Direitos Humanos que por ventura venham a ser apreciadas no Tribunal são importantes e de interesse da mulher.

Fêmea - A senhora já participou de algum Movimento Feminista?

Ellen - Fui presidente fundadora da Associação de Diplomadas Universitárias do RS e da Associação de Mulheres Magistradas. Tenho conhecimento de algumas atividades do Movimento de Mulheres, mas não tenho contato direto com os grupos. Reconheço, no entanto, sem a pressão do Movimento Feminista as mulheres não teriam a ascensão e a importância que têm hoje na sociedade brasileira. Na carreira jurídica, por exemplo, temos muitas mulheres em posição de poder. A Justiça Federal de primeira instância é composta, hoje, por 30% de mulheres. No TRF da Quarta Região, dos 23 juízes 8 são mulheres.

Fêmea - A senhora pretende, de alguma forma, trabalhar em parceria com o Movimento de Mulheres?

Ellen - Como juíza tenho uma atitude imparcial e de não adesão a qualquer questão. Tenho que ser isenta, mas estou de portas abertas para o Movimento Feminista e espero contar com subsídios dos grupos em alguns assuntos.

Fêmea - Quais os temas de interesse da mulher que a senhora considera importantes?

Ellen - Na minha opinião a violência doméstica é grave e deve ser combatida porque repercute diretamente nos filhos e na sociedade. Este assunto não tem recebido a devida atenção. A questão do aborto também é importante e polêmica porque envolve posições religiosas, mas os critérios jurídicos devem ser defendidos pelo Congresso. Acho, também, que as cotas na política ainda são indispensáveis neste primeiro momento, quando os partidos políticos não apóiam totalmente as mulheres, no entanto, vejo com cautela a manutenção das cotas por um longo tempo.

Fêmea - Qual a sua expectativa em relação ao fato de ser a primeira mulher a assumir o Supremo?

Ellen - É uma grande responsabilidade. Existe uma curiosidade em saber como será a atuação de uma mulher no Supremo. Sei que qualquer coisa que eu disser será analisada com rigor. Farei o possível para r0ealizar bem meu trabalho.

A página 10 do FÊMEA “ Mulheres na Política” foi padronizada durante este ano trazendo entrevistas, artigos e reportagens sobre a atuação das mulheres na política, principalmente nas eleições municipais. A partir de agora decidimos dar um novo nome à página: “Mulheres no Poder”. A página está aberta para quem quiser escrever sobre o empoderamento das mulheres e mandar notícias sobre o tema.


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