Hildete Pereira de Melo
Professora da Faculdade de Economia da UFF (Universidade Federal Fluminense)
Nos últimos vinte anos houve uma crescente inserção produtiva das mulheres no mercado de trabalho. Esta inserção vem-se tornando mais diferenciada e o mercado de trabalho fica cada vez mais competitivo entre os dois sexos, embora ainda permaneçam diferenciais salariais importantes entre homens e mulheres: mantém-se um certo padrão de divisão sexual e social do trabalho, que segmenta atividades produtivas e reprodutivas na base do sexo. A taxa de atividade feminina aumentou, sobretudo nas coortes mais velhas (35 50 anos), ao contrário do padrão da década de setenta, onde ela ainda era mais alta nas mulheres jovens no início do ciclo de vida familiar, trabalhavam antes de casar e depois se retiravam do mercado de trabalho. Atualmente, quem foi para o mercado de trabalho não volta, seja casada com filhos ou não e essa dinâmica pode ser comprovada no período 1985/95, onde a taxa de crescimento da ocupação das mulheres foi de 3,68% ao ano, para uma taxa de crescimento da ocupação total de 2,37%. Assim, a expansão da PEA (população econômica ativa) feminina foi a marca do mundo do trabalho brasileiro.
Em todos os setores econômicos o peso da participação feminina aumentou e mesmo naqueles setores, onde houve uma retração da ocupação, tais como na indústria de transformação e na indústria extrativa mineral, as mulheres mantiveram suas antigas posições. É claro, que na primeira a reestruturação produtiva destruiu milhares de ocupações tipicamente masculinas e as mulheres foram beneficiadas neste processo devido a uma certa concentração em determinadas ocupações vinculadas a administração fabril e nas vendas, naqueles trabalhos ancilares, ou naqueles em que a mecanização favoreceu sua inserção pela diminuição da força física no processo produtivo propriamente dito. Onde este processo não foi tão intenso como na indústria da construção civil, a situação permaneceu sem muitas alterações.
Mas, aonde trabalham as mulheres? Olhando para a estrutura econômica, inequivocamente a grande absorção da mão-de-obra feminina, foi nas atividades do setor serviços, cerca de 78,16% das trabalhadoras estão alocadas nessas atividades. Segue-se as mulheres rurais com uma taxa de participação de cerca de 11,69% e as operárias industriais com 9,19% as indústrias extrativas, da construção e os serviços de utilidade pública (água/esgoto e energia elétrica) com o restante (PNAD/IBGE, 1998). A heterogeneidade que caracteriza as atividades de serviços explica essa absorção. Pois, estas tarefas permitem arranjos diferenciados nas relações de trabalho compatíveis com a dupla jornada de trabalho feminina. Este setor engloba desde a antiga mestra escolar, a assistência aos doentes, a tradicional trabalhadora doméstica, as profissionais da beleza. Todas estas são atividades secularmente atribuídas as mulheres, estereótipo feminino do cuidado com a família.
As mulheres invadiram o espaço público mas, não ficaram impunes as turbulências do mercado de trabalho nacional, devido ao aumento do desemprego, este também atingiu violentamente as mulheres. Até 1992, a taxa de desemprego para ambos os sexos variavam quase que na mesma intensidade. Nos anos subsequentes estas taxas se diferenciaram. A masculina apresenta uma tendência a cair mais do que as taxas femininas e o desemprego é ainda um fantasma mais sério para as mulheres.