Iáris Ramalho Cortês
Advogada e integrante da Assessoria Técnica do CFEMEA
O primeiro Encontro Feminista da América Latina e Caribe aconteceu em 1981, Bogotá, Colômbia. O segundo realizou-se em 1983, Lima, Peru. O Brasil (Bertioga), sediou o terceiro, em 1985 e em 1987 foi a vez do México. Na Argentina (San Bernardo), nos reunimos em 1990 e em 1993, na Costa del Sol, San Salvador. Cartagena, no Chile, acolheu-nos em 1996 e este ano, foi a vez da República Dominicana, praia de Juan Dolio.
São, portanto, oito encontros de feministas da América Latina e Caribe, nas últimas duas décadas.
Ligando os pontos desses encontros, formaremos uma rede em toda a América Latina e Caribe. Uma rede tecida pelas mulheres feministas desta região, em busca de um espaço onde possam compartilhar idéias, experiências, problemas, sonhos e aspirações.
Os encontros feministas são marcados, em sua essência, pela flexibilidade dos temas e pela liberdade de participação individual das mulheres. A organização, mínima necessária para não provocar o caos, deixa as participantes muito a vontade para que desfrutem à sua maneira, buscando suprir suas necessidades nos espaços de aprofundamento político-teórico, artístico-cultural, e afetivo.
Para o último encontro feminista do século foi escolhido o lema "Apostando na Construção de um Movimento Feminista Amplo, Diverso e Rebelde".
O eixo político foi seguido, em grandes espaços, com a discussão dos temas: "O feminismo frente aos velhos e novos modelos de dominação", "O feminismo como movimento social" e "Perspectivas do feminismo Latino-americano e Caribenho".
Além da programação política foram oferecidos mais de 50 espaços para atividades entre fóruns, oficinas, grupos de discussões e apresentação de projetos. Entre os temas podíamos escolher participar de debates sobre a violência, a saúde, o empoderamento político ou discutir o feminismo com grupos de jovens, o lesbianismo com grupos de lésbicas ou a autonomia feminista com grupos de autônomas.
Caminhando entre quase todos os grupos de debates, podíamos ver temas "balzaqueanos" do feminismo, como o aborto, a discriminação contra a mulher ou a violência.
Avaliações de feministas históricas é que, apesar de não ter avançado em termos concretos, estes temas são hoje discutidos pela sociedade, que não os tratam mais como se não existissem.
Um tema que ganhou grande espaço nos grupos foi a questão da comunicação entre as feministas e além das feministas. Ficou claro que a necessidade de se alcançar a grande mídia para tratar de temas de nosso interesse específico é essencial para o crescimento de nossas idéias. Para isto é preciso que as mulheres busquem dominar os artefatos da comunicação.
Outro tema também muito debatido foi a globalização. Atacada, defendida, conceituada e debulhada, a globalização tomou grande espaço em nossas discussões, para, ao final, não ter conclusão, a não ser da irreversibilidade da mesma e da necessidade de aprendermos a utilizar o que de bom ela oferece.
Podíamos contar também com oportunidades para trabalhos de corpo, dos sentidos, rituais e simbologias feministas, massagens e outras terapias alternativas.
Nenhum encontro feminista pode esquecer a parte lúdica. Em Juan Dolio o cenário ajudou as organizadoras, pois dispunha do mar azul, transparente e tépido do Caribe, de um céu ensolarado durante os dias e que às noites nos presenteava com uma maravilhosa lua cheia, presente perfeito para toda bruxa, seja sua vassoura de palha, de fibra, a motor ou supersônica.
Os seis dias do VIII Encontro Feminista da América Latina e Caribe - 21 a 26 de novembro -, passaram de forma prazerosa e produtiva, cheia de encontros e reencontros, falas e escutas, alguns desencontros naturais e impossíveis de serem evitados em todo grande evento. O importante é que aconteceu e continuará acontecendo apesar das dificuldades financeiras das feministas participantes, pois o feminismo é uma realidade irreversível na nossa sociedade e sua tendência é atingir todas as mulheres do Planeta, mesmo aquelas para quem o termo continua sendo tabu, mas que na prática, se conduzem como verdadeiras feministas "de carteirinha".
As brasileiras que foram e as que não foram, que pensem e comecem a azeitar suas vassouras para, no ano 2.002 estarmos juntas em Costa Rica, no IX Encontro Feminista da América Latina e Caribe e possamos aprofundar nossas experiências, dúvidas e sonhos do início do novo século.