Aqui do Planalto Central, lançamos mão desses versos do candango Renato Russo, para expressar o nosso aprendizado com a partida inesperada e que deixa tantas saudades, da nossa amiga, ativista feminista, líder sindicalista, Ednalva Bezerra. Ela na presidência da Plenária Final da Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres e nós das cadeiras do auditório, simplesmente não podíamos imaginar que o amanhã não haveria.
A amizade e o companheirismo construíram muitos e diversos espaços de real encontro entre nós, desde que o CFEMEA foi criado, em 1989. Nos bares, nas pequenas reuniões, nas parcerias para a defesa dos direitos das mulheres no Congresso Nacional, nas grandes plenárias como as da Conferência Nacional de Mulheres Brasileiras, em 2002; ou nos encontros como o do Núcleo de Reflexão Feminista sobre o Trabalho Produtivo e Reprodutivo, como o último que aconteceu dias antes da sua partida; nossos vínculos eram tecidos em confiança, solidariedade, disposição de luta, respeito mútuo e compromisso feminista.
Sua atuação política começou ainda na década de 1980. Paraibana, professora, participou da organização da greve de 100 dias em seu estado, por melhores salários e condições nas escolas públicas. Além de sindicalista, Maria Ednalva também deu uma enorme contribuição para o fortalecimento do feminismo na Paraíba e em especial na organização Cunhã Coletivo Feminista, que ela integrou de 1991 a 1997.
Como integrante da Cunhã, fazia a articulação entre o feminismo e a militância no movimento sindical. Coordenou a Comissão Estadual de Mulheres da Central Única dos Trabalhadores do Estado da Paraíba de 1989 a 1994, sendo integrante da Comissão Nacional sobre a Mulher Trabalhadora da CUT nos anos 1989 a 1997. De 1997 a 2000 foi suplente da Direção Executiva Nacional da CUT e, paralelamente, coordenou o Núcleo Temático de Gênero, responsável por desenvolver subsídios e reflexões teóricas e metodológicas sobre capacitação em gênero para a política nacional de formação da CUT. A partir de 2003, com a criação da Secretaria Nacional sobre a Mulher Trabalhadora da Central, Ednalva assumiu o mandato que cumpriria até 2009.
Sempre convicta do direito de decidir das mulheres, levou a discussão da legalização do aborto para o interior da Central Única dos Trabalhadores, desenvolvendo várias campanhas. Em 2005, representou a CUT na Comissão Tripartite, criada pela Secretaria Especial de Políticas Mulheres para propor um projeto de lei de revisão da lei punitiva do aborto no país. Também enfrentou a problemática da violência contra a mulher de forma contundente e a defesa pela liberdade de expressão sexual das mulheres e a livre orientação sexual.
E é com esse mesmo espírito de luta que chega às mãos d@s leitor@s mais um número do jornal Fêmea. Nessa edição, uma análise do planejamento que o governo fará de suas ações para os próximos quatro anos. Entre as 56 metas prioritárias, apenas uma diz respeito especificamente às mulheres. Trata-se do combate à violência. Queremos mais. Para isso, propomos 22 emendas ao projeto de lei do Plano Plurianual 2008-2011. Elas estão especificadas nas páginas 8 e 9.
No ano de comemoração da Lei Maria da Penha, o Fêmea também avalia os ganhos dos últimos meses, desde a entrada em vigor em setembro de 2006, e o que ainda falta fazer para colocar, de fato, a legislação em prática, conforme pode ser visto nas páginas 6 e 7.
As páginas 10 e 11 trazem informações sobre vitórias das mulheres nas áreas de trabalho e previdência, ainda pouco divulgadas. Por fim, ainda é possível saber sobre a mobilização do Dia pela Legalização do Aborto na América Latina e no Caribe e sobre a II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres. Boa leitura.