Em comemoração ao Dia da Visibilidade Lésbica (29 de agosto), esta edição do jornal Fêmea traz uma entrevista com Marisa Fernandes, do Coletivo de Feministas Lésbicas. Confira os desafios para os movimentos de direitos humanos e para toda a sociedade em relação às mulheres lésbicas.
Fêmea - No dia 29 de agosto é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. Como tem sido a repercussão da data nos últimos anos? Quais as expectativas para 2005?
Marisa Fernandes - Tem havido uma ampliação do reconhecimento da data e conseqüente ampliação das atividades comemorativas. Inicialmente nossas ações eram tímidas (uma atividade realizada por um grupo de lésbicas, às vezes era a publicação de um folheto, uma exibição de vídeo ou filme, um debate ou uma festa). Hoje, todos os grupos de uma mesma cidade ou Estado realizam várias atividades, havendo mesmo semanas inteiras de comemoração. Estamos obtendo apoios de diferentes órgãos governamentais e não-governamentais e também financiamentos, o que significa um reconhecimento da importância da data. Na Frente Parlamentar Pela Livre Expressão Sexual da Assembléia Legislativa de São Paulo, estamos discutindo a inclusão da data na agenda como Sessão Solene. Agora precisamos ganhar espaços nos meios de comunicação de massas. Em 2005, nas 4 (quatro) regiões do território nacional, estamos realizando atividades diversas, sendo a de maior visibilidade a que acontecerá em Porto Alegre, uma Caminhada Lésbica.
Fêmea - Que limites as reivindicações das lésbicas encontram dentro do próprio movimento LGBTT?
Marisa Fernandes - A verdadeira conquista de espaços de poder; o reconhecimento da opressão patriarcal e do machismo reproduzidos dentro do Movimento LGBT.
Fêmea - O 10º Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, que acontecerá no Brasil, tem como tema a radicalização do feminismo e da democracia. Como posicionar as demandas do movimento de lésbicas a partir dessa temática?
Marisa Fernandes - Por radicalização entendo assumir os dois pontos fundamentais do feminismo: a autonomia do movimento e a heteronormatividade/heterossexualidade obrigatória como um pilar da opressão patriarcal para todas as mulheres. As demandas das lésbicas são intimamente ligadas a essas duas questões. Esperamos que os diálogos complexos que ocorrerão no 10º Encontro sejam capazes de formular questões que reflitam e encaminhem para a superação das dificuldades apontadas pelas lésbicas no interior do movimento feminista.
Fêmea - Qual a situação das representações lésbicas no cenário latino-americano? Há uma articulação entre os movimentos desses países?
Marisa Fernandes - No cenário nacional há duas associações nacionais de lésbicas: a Liga Brasileira de Lésbicas, com aproximadamente 30 grupos organizados e lésbicas independentes. A outra, a Associação Brasileira de Lésbicas, sócia colaboradora da ABGLT. Ambas estão em fase de construção, inclusive internamente existindo diferentes níveis de organização e articulação. Na LBL, cada região está com um nível de desenvolvimento de ações e de organicidade. Essa fase na qual encontram-se as duas representações das lésbicas no Brasil tem dificultado articulações para encaminhamento das questões importantes como o 10 Encontro Feminista Latino Americano e do Caribe, o Seminário Nacional de Lésbicas, o dia 29 de Agosto, o Encontro Brasileiro de GLT ou mesmo a implantação e implementação do Programa Brasil sem Homofobia. Em relação a América Latina, conheço a existência da ILGA LAC, uma associação mista que tem representantes gays, trans e lésbicas, mas desconheço articulações para os mesmos encaminhamentos importantes da região.