O "outro mundo possível" se constrói desde já, aqui e agora, abrindo caminhos, fortalecendo a cidadania e ampliando as possibilidades para a prevalência de valores como a igualdade, a solidariedade, a liberdade, a diversidade e a justiça. Parece ser esta a convicção que mobiliza o processo do Fórum Social Mundial.
A pouco mais de dois meses da sua 5ª edição, em janeiro próximo, em Porto Alegre, constata-se que, muito mais do que um evento anual, o FSM já se constitui num processo contínuo de debate e articulação política, que a cada dia ganha em amplitude e profundidade. A preparação política e organizativa começou ainda no primeiro semestre e envolveu milhares de organizações numa consulta para definir os pólos (questões/propostas/temas) que vão aglutinar o debate político em 2005, que ficaram assim definidos:
Espaços temáticos do FSM 2005
- Afirmando e defendendo os bens comuns da humanidade e dos povos - como alternativa à mercantilização e ao controle das transnacionais.
- Artes e criação: construindo as culturas de resistência dos povos.
- Comunicação: práticas contra-hegemônicas, direitos e alternativas.
- Defendendo as diversidades, a pluralidade e as identidades.
- Direitos Humanos e dignidade para um mundo justo e igualitário.
- Economias soberanas por e para os povos - contra o capitalismo neoliberal.
- Ética, cosmovisão e espiritualidades - resistências e desafios para um mundo novo.
- Rumo à construção de uma ordem democrática internacional e integração dos povos.
- Lutas sociais e alternativas democráticas - contra a dominação neoliberal.
- Paz, desmilitarização e luta contra a guerra, o livre comércio e a dívida.
- Pensamento próprio, reapropriação e socialização dos saberes, conhecimento e tecnologias.
Temas transversais
- Emancipação social e dimensão política das lutas.
- Luta contra o capitalismo patriarcal.
- Luta contra o racismo.
A presença das mulheres
Como destaca Maria Betânia Ávila, do SOS Corpo, a presença das mulheres no Fórum Social Mundial é marcante, se vê as mulheres tão presentes quanto os homens, pelos vários lugares onde o movimento acontece, mas nas grandes mesas e painéis o desequilíbrio de gênero ainda existe. Na avaliação de Betânia, a presença do movimento feminista é evidente - o que significa algo diferente da presença das mulheres, mas para o qual a presença das mulheres importa. Para ela, o feminismo como pensamento e prática política é parte daquela construção, e parte dessa construção é a superação das relações desiguais de poder que ainda constituem o espaço político em movimento1.
Nessa mesma linha de análise, a peruana Virgínia Vargas, uma das coordenadoras da Articulación Feminista MarcoSur, avalia que estas tensões e ambivalências arrastam conflitos entre velhas e novas formas de fazer política, revelando o tamanho da dificuldade envolvida no processo de gerar novas formas de debate político, novos conteúdos para culturas políticas democráticas, de alimentar, em suma, um espaço e um pensamento global, de conteúdo plural e democrático radical2.
A participação das organizações do movimento de mulheres e feminstas neste processo, tão cedo quanto possível, abre a oportunidade de interagir com diversas experiências, diferentes movimentos sociais, várias redes e inúmeras articulações. A inscrição de atividades, a articulação com outras organizações que estão lidando com as mesmas questões, a participação nos debates que já está acontecendo em preparação ao FSM 2005 é um alimento político substantivo do feminismo ao processo do FSM, e vice-versa, do processo do FSM para o feminismo.
O processo do FSM vem fincando raízes em várias partes do Brasil. Basta dizer que, de outubro a dezembro, estarão se realizando seis fóruns sociais: capixaba, maranhense, baiano, nordestino, carioca e potiguar. Ao mesmo tempo, o processo se expande em nível internacional. Neste mesmo período, acontecerão outros 14 fóruns, em diferentes países das Américas, África, Ásia e Europa.
Para conhecer melhor o processo do FSM e para engajar-se na sua preparação acesse a página web www.forumsocialmundial.org.br.
(1) AVILA, Maria Betânia, Refleting on the World Social Forum from a Feminist perspective. Rev. Estud. Fem., jul/dic. 2003, vol. 11, nº 2, p. 644-651. (www.scielo.br)
(2) VARGAS, Virginia. El foro social mundial II y las tensiones en la construcción del pensamiento alternativo. (www.mujeresdelsur.org.uy)