Quase lá: III Fórum Social Mundial

Carla Batista
Educadora do SOS Corpo e secretária adjunta da AMB

No seu terceiro ano de existência, o Fórum Social Mundial se afirma como um processo amplo e diverso de debates propositivos que se contrapõem ao modelo hegemônico de globalização centrado nos aspectos financeiros e econômicos. Institui-se também como um espaço de construção de novas formas de democracia, pela ação dos movimentos sociais e ativistas que dele participam, e se coloca como um interlocutor crítico aos que estão representados no Fórum Econômico de Davos.

A proposta de mundialização também se concretiza. Foram realizados Fóruns Sociais regionais ou temáticos como os da Argentina, Uruguai, Europa, e outros estão em construção. No Brasil, várias cidades também realizaram seus eventos preparatórios.

Redes e Articulações dos movimentos feministas vêm, a cada Fórum, ampliando a sua participação, realizando atividades diversas, desde mobilizações, oficinas, até seminários e painéis. Algumas delas estiveram integrando as instâncias de organização desde o I FSM. As feministas atuam, a partir de suas várias expressões em defesa da justiça econômica e da justiça de gênero. Buscam "posicionar-se frente aos desafios do novo milênio, (...) desenvolvendo uma rica reflexão sobre as dinâmicas macroeconômicas e macro políticas e sobre o processo de globalização, expandindo estratégias que articulem o global com o local. Os feminismos levam ao FSM uma prática intrínseca a sua existência e seu desenvolvimento: suas articulações internacionalistas, acumuladas ao longo de 30 anos de existência, em sua segunda onda. Como disse Waterman, não há dúvida do aporte dos feminismos dos anos 70 e 80 ao movimento de justiça global" (Virgínia Vargas).

Dentro da estrutura organizativa do Fórum, a Articulação de Mulheres Brasileiras - AMB está representada através da Articulação Feminista Marcosur - AFM, que integra o seu Conselho Internacional, cujo papel é de avaliação e construção de orientações políticas. Virgínia Vargas, do Peru e Lílian Celiberti, do Uruguai são as nossas representantes. No Comitê Brasileiro, estão Guacira Oliveira, do CFEMEA, e Jacira Melo, da Articulação de Mulheres de SP.

Se avaliarmos a participação desde o primeiro Fórum até este, podemos considerar um avanço no sentido de ampliar a presença dos movimentos feministas dentro da sua estrutura e nas atividades realizadas. Demonstração disso é que, em 2003, a Marcha Mundial das Mulheres está responsável - junto a outras organizações - pela estruturação do II eixo temático "Princípios e valores, direitos humanos, diversidade e igualdade"; e a Marcosur pelo IV eixo "Poder político, sociedade civil e democracia".

"Contra os Fundamentalismos, o Fundamental é a Gente"

Esta campanha, iniciada no II FSM, a partir da promoção da AMB dentro da AFM terá continuidade em 2003. "Religioso, econômico, científico ou cultural, o fundamentalismo sempre é político e prospera em sociedades que negam a humanidade na sua diversidade, e que legitimam mecanismos violentos de sujeição de um grupo sobre outro, de uma pessoa sobre a outra. Essencialmente excludentes e belicosos, os fundamentalismos minam a edificação de um projeto de Humanidade no qual todas as pessoas tenham o direito a terem direitos, sacrificando, num acúmulo de perversidade, a vida das mulheres". Esta campanha tem como objetivo ampliar as vozes que denunciem e se rebelem contra qualquer tipo de ação fundamentalista.

A AMB convida os movimentos de mulheres e feministas do País, que ainda não o fizeram, a se integrarem de forma ativa nesta campanha. Neste mês de janeiro, os fóruns e articulações estaduais estarão recebendo materiais para subsidiar a realização de atividades no período que antecede ao evento em Porto Alegre.

No FSM, estaremos marcando a nossa presença na passeata de abertura: onde for vista uma grande boca, nós estaremos aí (o slogan da campanha é: tua boca, fundamental contra os fundamentalismos). Haverá também evento de lançamento de um livro que registra as atividades da campanha em 2002, os testemunhos de mulheres que vivenciaram os efeitos de alguma forma de fundamentalismo, e textos das apresentações em oficinas.

Os testemunhos, em 2003, estarão sendo organizados por redes que aderiram à campanha como Católicas pelo Direito de Decidir, Rede Feminista Latino-americana e do Caribe de Saúde e Direitos Reprodutivos, Mulheres Vivendo Sob Leis Muçulmanas, DAWN, REPEM, IGLHRC, Campanha 28 de Setembro, Campanha por uma Convenção dos Direitos Sexuais e dos Direitos Reprodutivos.

Termino reforçando o convite: VENHA SE SOMAR A NÓS, VENHA SER MAIS UMA VOZ CONTRA OS FUNDAMENTALISMOS.


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