O sistema de cotas por sexo beneficiou ou não as mulheres? Para as feministas, senadoras, deputadas e alguns partidos a resposta é sim. Para outros políticos e partidos as dúvidas persistem. Dos 11 partidos consultados pelo FÊMEA nenhum possui ainda o levantamento oficial sobre o preenchimento das cotas. Alegam que é cedo para ter este número. No entanto, alguns afirmam que foi difícil encontrar mulheres candidatas. E as candidatas, por outro lado, dizem que os partidos é que não apóiam as mulheres.
Na opinião da senadora Emília Fernandes (PDT-RS) a primeira mulher a assumir a vice-presidência nacional do PDT, no caso das cotas existe uma divisão de responsabilidade. Os partidos investem tardiamente nas mulheres, principalmente no financiamento de campanhas e as mulheres culturalmente ainda não se colocam como candidatas afirma, ressaltando que não basta os partidos catarem mulher para disputar as eleições. É preciso que os partidos procurem assimilar seriamente as candidaturas femininas porque o crescente número de candidatas a cada eleição comprova que a Lei de Cotas representa uma caminhada vitoriosa para as mulheres.
Emília Fernandes reconhece que o seu partido, o PDT , teve dificuldade em preencher o mínimo de 30% de mulheres em todos os municípios como prevê a Lei de Cotas 9504/97. A senadora garante que o partido vai fazer um levantamento oficial sobre as cotas. Lembrou, também, que o PDT, antes das eleições, através da instância feminina do partido - Ação da Mulher Trabalhista- realizou cursos de capacitação e treinamento em alguns estados e municípios para as candidatas.
O PC do B nas últimas eleições não fez um levantamento da participação das mulheres na disputa. Desta vez o partido tem interesse em ter uma avaliação deste quadro. Por enquanto o PC do B não chegou a uma conclusão sobre o sistema de cotas por sexo,no entanto, Jairo José da Silva Junior, da Comissão Nacional do Partido, ressalta que o PC do B tem a convicção que qualquer política que incentive a mulher é importante, o partido só não definiu se o sistema de cotas é o ideal.
O PPB também não tem uma posição formada sobre o sistema de cotas e não realizou levantamento nas últimas eleições municipais sobre as candidaturas femininas no partido. O vice-presidente do partido, deputado federal Pedro Correia (PPB-PE) disse que apesar de ter votado a favor das cotas, no Congresso, hoje tem dúvidas sobre o resultado da Lei. Não sei se estou certo ou errado mas a realidade é que encontramos dificuldade em achar mulheres candidatas e acredito também, que as cotas discriminam as mulheres porque o partido acaba convidando uma candidata para preencher uma vaga e não se preocupa, na escolha, com a liderança eleitoral dela. Com esta Lei acho que as mulheres se sentem discriminadas porque são obrigadas a participar da eleição. O deputado lembra que a Ação Mulher Progressista, a instância feminina do partido, tem mulheres na executiva nacional e estadual do partido e recebe a quantia de R$ 15.000,00 para aplicar em suas atividades políticas. O deputado disse que a partir dessas eleições o partido vai fazer um levantamento das cotas.
O PL criou, pela primeira vez este ano, o Conselho Feminino do Partido. Não houve tempo hábil para organizar e orientar as mulheres candidatas, mas segundo a presidente do Conselho, Ana Karen Quental, o partido é favorável à política de cotas e vai fazer, após a eleição, um levantamento oficial do preenchimento das cotas.
O 1º Secretário Nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirma que as mulheres são valorizadas no partido. Num levantamento preliminar o PSB já contabilizou cerca de 500 mulheres candidatas à prefeita. Três delas são de grandes capitais como Luiza Erundina de São Paulo, Wilma Faria de Natal e Kátia Born de Maceió. Em maio o PSB realizou um Encontro de Mulheres Candidatas em Alagoas para discutir e informar sobre as eleições. Carlos Siqueira acha que a participação das mulheres na política ainda é pequena mas afirma que o partido é favorável ao sistema de cotas.
O PT foi um dos primeiros a instituir o sistema de cotas dentro do partido, em 1991. Hoje a direção nacional, municipal e estadual reserva 30% das cotas para as mulheres. As cotas também foram ampliadas em todas as situações onde há disputa de vagas, como em cursos de formação e delegações, por exemplo. Em relação às eleições deste ano o PT ainda não possui um levantamento oficial de cotas. Ivo Bucareski, membro da direção nacional do partido adiantou que na capital de São Paulo o PT já preencheu as cotas. Disse ainda que nas eleições de 96 o partido não chegou a preencher as cotas para as mulheres. As candidatas representaram 15 a 16% das vagas. Segundo Bucareski o PT apóia as cotas e acredita que o sistema deve ser mantido.
O PPS também é favorável ao sistema de cotas por sexo e desde 1988 a direção do partido instituiu cotas para a composição do diretório nacional. Francisco Almeida, secretário geral do PPS, afirma que as mulheres ainda têm uma participação tímida na política. O partido teve dificuldade em preencher as cotas por sexo nessas eleições. O partido distribuiu circulares para os diretórios e também um manual de eleição chamando a atenção das candidatas para a importância da disputa eleitoral.
Apesar de ainda não ter um levantamento oficial o PFL não cumpriu as cotas por sexo. A avaliação é da senadora Maria do Carmo Lara (PFL-SE) presidente do PFL-Mulher. Ela alega que as mulheres ainda não se motivaram efetivamente para a política e o partido encontrou dificuldade em encontrar nomes para a disputa. Nós já somos mais de 50% do eleitorado no Brasil e ainda não acordamos para essa realidade ressalta a senadora.Por outro lado,os partidos, na opinião de Maria do Carmo, historicamente, se tornaram indiferentes à participação da mulher na política e agora começam a querer mudar essa realidade. O Partido realizou reuniões e seminários nos Estados para orientar as mulheres candidatas e após a eleição haverá um grande Seminário com a participação de mulheres para avaliar o quadro das eleições e recomeçar o trabalho de incentivo à participação das mulheres na política.
O PSDB ofereceu um - curso de formação política para mulheres tucanas - em 4 estados acompanhado de uma cartilha com o objetivo de orientar as candidatas. Em Porto Alegre, a deputada federal Ieda Crusius (PSDB-RS) afirmou que o partido preencheu as cotas. Em relação a outros Estados a assessoria de imprensa da Executiva Nacional do PSDB informou que ainda não foi possível realizar tecnicamente o levantamento sobre o preenchimento das cotas. São muitos os candidatos e candidatas. Para vereador, o partido tem 30 mil candidatos disputando a eleição.
E o PMDB também não tem o levantamento oficial das cotas. A deputada federal Maria Elvira (PMDB-MG) disse que, em Belo Horizonte, seu partido cumpriu as cotas. Ela considera que o apoio que falta para o incentivo das mulheres na política está relacionado, principalmente, ao financiamento das campanhas.