Iáris Ramalho Cortês
Advogada e Assessora Técnica do CFEMEA
Encontrei no dicionário que Amazonas eram mulheres guerreiras da Antigüidade que habitavam a Ásia Menor. Essa designação foi dada também no século XVI, a mulheres com as mesmas características, que combateram os conquistadores ibéricos na região depois chamada Amazônia. Essas duas existências de mulheres Amazonas na história da humanidade são por muitos consideradas lendárias, ou seja, não puderam provar suas existências. Uma coisa, entretanto, não se discute: o sinônimo de mulher Amazonas é mulher guerreira, aguerrida, corajosa, afoita, valente e muito mais.
Aurélio - o do Dicionário, não sabe, entretanto, que existem, de verdade, mulheres Amazonas. Elas estão lá no Norte do nosso país e eu encontrei muitas delas durante o IV Congresso da Associação das Organizações de Mulheres Trabalhadoras do Baixo-Amazonas - AOMT-BAM.
E isto num cenário idílico, onde o verde se esparramava em nuanças inimagináveis e a exuberância das outras cores chegava a ofuscar nossos olhos pouco acostumados com tamanha coloração. Para chegarmos à cidade de Alenquer (Estado do Pará), viajamos toda a noite em uma "gaiola", com dezenas de redes armadas e em cada uma delas uma mulher Amazona que ia para o Congresso. Chegamos ao nosso destino quando o sol surgia. O mais maravilhoso nascer do sol do Planeta: o vermelho rivalizando com o laranja para mostrar qual das duas cores predominaria naquele céu de um azul infinito, onde não se via uma única nuvem para encobrir sua nudez estonteante. Os pássaros festejaram o surgimento do dia com gorjeios orquestrados pelos próprios raios solares. Tantos pássaros, tanto canto que nosso coração desejou explodir de felicidade. Felicidade por existir e assistir tamanha beleza da natureza. O verde das árvores, projetado nos caudalosos rios, tornava gêmeos todo aquele deslumbramento. As mulheres de Alenquer e as dos outros municípios que já se encontravam na cidade, vieram para o cais nos receber, cantando e soltando fogos, com faixas de reivindicações e boas vindas.
Nos dias 9, 10 e 11 de julho mais de 300 mulheres - amazonas guerreiras (alguns homens também presentes, de forma participativa e solidária) discutiram e planejaram a plataforma de ação da AOMT-BAM, para os próximos três anos. Foram trabalhos de reflexões, apresentação de propostas, discussões em grupos, intercalados com muita alegria e animação, com apresentação de cantigas, compostas por elas mesmas, poemas, danças, encontros e reencontros.
Além dos temas oficiais: Mulheres e seu auto-sustento; Trabalhando a Violência e a Segurança de Mulheres; Saúde da Mulher - um bem que se quer; Mulheres e o Empoderamento Político; e Prostituição, um caso de Prevenção e Organização, nas horas vagas, as mulheres no bate-papo informal, conversavam sobre os conhecimentos acumulados da terra, das plantas, das ervas, como bem utilizá-las para produzir uma alimentação sadia ou para evitar ou curar doenças.
Muitas histórias surgiam e eram transmitidas feito corrente. Histórias de amores, desamores e, como era de se esperar, histórias de terror. A mais impressionante é daquela mulher - também uma Amazona, que vive há 17 anos presa em uma corrente por ser considerada "louca" pelo seu próprio pai. Toda a cidade conhece a história, algumas pessoas tentaram intervir, mas até hoje ninguém, nem mesmo as autoridades locais, conseguiu reverter a situação. O impressionante é que, durante este período em que se encontra presa, acorrentada dentro de casa, engravidou e pariu dois filhos, que o pai diz desconhecer a paternidade... Será esta história uma lenda, como lenda é considerada a existência das Amazonas?
O CFEMEA aguarda o Relatório Final do Congresso, para democratizar a riqueza de conteúdo que foi o IV Congresso da Associação das Organizações de Mulheres Trabalhadoras do Baixo-Amazonas - AOMT-BAM.