Helena Basílio
Sou Helena Basilio Vieira, 17 anos e estudante do Colégio Pedro II, um colégio público tradicional no Rio de Janeiro. Acho muito importante citá-lo, pois a ele devo praticamente toda a minha formação política. Foi o espaço onde entrei em contato com os movimentos sociais e com outros estudantes que têm interesse pelo debate sobre a sociedade em que vivemos, além de grêmio, greves e aulas de ciências sociais e filosofia.
A experiência do primeiro voto pra mim foi muito excitante, o que é meio paradoxal pois eu penso que o estado das coisas não será mudado por meio do atual sistema de democracia representativa. Lembro das eleições da Dilma onde muitos, inclusive eu, se orgulharam de apoiá-la por conta de seu histórico na ditadura militar. Mas não me sinto representada quando ela corta R$ 3 bilhões da educação, sanciona parte do código florestal, quando não a ouço dizer uma palavra sobre a situação dos Guaranis Kaiowás. Há uma clara crise de representatividade.
Voltando às eleições de 2012: pude votar com muito orgulho e esperança. Votei em Marcelo Freixo, do PSOL. O conheci na minha escola, quando ele foi dar uma palestra. Me encantei com seu discurso. Depois, pude ouvi-lo ao vivo muitas vezes em eventos ligados a movimentos sociais, como a Cúpula dos Povos, assistir aos debates e ir a seu comício. O que me atraiu nele, principalmente, foi acreditar que pelo meio institucional não se fará a revolução, porém pode-se agir de modo a organizar a população e os trabalhadores. Este era o vetor de seu programa de governo: colocar o povo para fazer política, pois a política deve ser o lugar da população.
Por conta de nosso tão falho sistema “representativo”, a política vem tendo uma conotação muito negativa. Política é o instrumento que temos para mudar o mundo, para melhorá-lo. Política não é corrupção, não é aumentar o preço das passagens, não é permitir que ainda exista gente passando fome no mundo, pois nada disso melhora a nossa realidade. Os verdadeiros políticos são aqueles que militam em movimentos sociais, que ao sentar para jantar com a família discutem a sociedade e meios de melhorá-la, que um dia já pararam para se perguntar porque alguns têm tanto, outros tão pouco, e ainda aqueles que mesmo nunca o tendo feito (com certeza por falta de oportunidade), anseiam por um mundo mais feliz e justo.
Também acredito que o meio político institucional reflete a sociedade machista em que vivemos: a maioria dos candidatos eram homens. Me intrigou a estratégia da única candidata mulher à prefeitura do Rio, a mesma utilizada pela Dilma. Seu discurso era o da maternidade e do cuidado: cuidaria da cidade como se tivesse cuidando de um filho, pois somente a uma mulher caberia esse papel, como fica implícito em seu discurso.
Parece que há uma restrição ao papel e à capacidade da mulher. Claro que uma condição biológica pode interferir na nossa personalidade, porém isto não pode de maneira alguma cercear a nossa liberdade. Nós criamos anticoncepcionais, temos relações sexuais com pessoas de mesmo sexo e inúmeras outras atitudes que comprovam certa independência humana de nossas funções biológicas. A maioria das pessoas tem consciência da desigualdade de gêneros, porém, como institucionalmente e legislativamente esta desigualdade reduziu bastante por conta de lutas anteriores, parece que as pessoas pensam que não há mais o que melhorar.
Muitas me questionam quanto ao porquê de se lutar pela igualdade de gêneros se temos uma presidenta mulher no Brasil. Isso reflete quão primitivo está o debate do feminismo no Brasil e quão grande é o desafio do movimento feminista. A igualdade institucional é importante, mas as questões do dia a dia são anteriores. Por que em programas de auditório, os dançarinos que servem como objeto de decoração são sempre mulheres? Por que é socialmente inaceitável a uma mulher pedir um homem em casamento? Ou a uma mulher ser feliz sem casamento? Por que se uma mulher está ao volante o perigo é constante? Há ainda aqueles que pensam que o objetivo de tal movimento é a supremacia das mulheres sobre os homens. A estas pessoas uma célebre frase: quando a mulher avança, nenhum homem retrocede.
Helena Basílio tem 17 anos, é estudante do Ensino Médio do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Contato: