Quase lá: CFEMEA 15 anos: um trabalho em rede

Guacira Cesar de Oliveira
Socióloga, fundadora e diretora colegiada do CFEMEA

O CFEMEA está completando 15 anos de existência!!! Foram anos de desafios e conquistas. Olhando para trás, percebemos que tantas vitórias foram possíveis graças à uma maneira diferente de trabalhar, graças à experiência em rede.

Na década de 80, durante o período da Assembléia Nacional Constituinte, as cinco fundadoras do CFEMEA vivenciaram, no então recém-criado Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), a experiência do chamado "lobby do batom".

O Conselho foi um catalisador da vontade dos movimentos de mulheres e feministas no sentido de afirmarem-se na cena política de redemocratização do Brasil. Em torno da Assembléia Nacional Constituinte, estes grupos articularam-se numa ação política de resultados muito positivos.

Nós, fundadoras do CFEMEA, tivemos o privilégio de conhecer e de sermos reconhecidas por ativistas dos movimentos feministas e de mulheres de Norte a Sul do país. Por outro lado, desenvolvemos estratégias bem sucedidas para a promoção e a defesa dos direitos das mulheres, num trabalho sistemático e cotidiano, junto aos constituintes, especialmente junto à nova Bancada Feminina no Congresso Nacional.

Em 1989, logo após a promulgação da nova Constituição, a mudança de Ministro na Justiça, onde o Conselho estava, levou a uma crise que resultou no pedido de demissão de todas as conselheiras e de todo o corpo técnico do CNDM.

A regulamentação dos direitos constitucionais consagrados era uma tarefa urgente para que os Direitos pudessem passar da Lei para a Vida das mulheres. E foi então que decidimos criar o CFEMEA, fundado em 14 de julho de 1989, data que veio ao acaso, mas que tem um significado muito importante para todas e todos que lutam pela liberdade e pela justiça no mundo.

De lá para cá, percorremos uma trajetória em estreita articulação com diversas organizações de mulheres em todo o país. Nestes 15 anos, a legitimidade que o CFEMEA adquiriu é um testemunho de que o investimento no trabalho em rede potencializa a própria organização.

Desde seu início, o pensamento feminista posicionou-se contrariamente ao centralismo, defendendo a autonomia política, a horizontalidade das relações, a valorização pessoal e a solidariedade entre as mulheres. Trabalhar em rede num projeto feminista significa trabalhar em consonância com os princípios básicos deste movimento. É algo que se desenvolve de maneira muito mais fluida do que em outros movimentos sociais, onde estruturas federalizadas, centralizadas e hierarquizadas, com um alto grau de institucionalização, apresentam resistências às mudanças na arquitetura política.

Coerentemente com estes princípios, o plano de trabalho do CFEMEA é definido com a participação de toda a equipe. Sua estrutura é horizontal, estimulando a formação e consolidação de lideranças. Esta não é tarefa que se cumpra sem preparo. Foi necessário criar e aprimorar vários mecanismos de participação para o compartilhamento sistemático de experiências e impressões, para a cooperação coletiva na resolução de problemas, para manter vivo e contínuo o fluxo de informações, ou seja, efetivamente dando a luta cotidiana para superar a estrutura piramidal.

Evidentemente, para assegurar relevância e prioridade à afirmação e defesa dos direitos das mulheres, junto ao Congresso Nacional e em outros espaços políticos, exige-se mais do que uma equipe integrada e capacitada. A estratégia que vem sendo adotada pelo CFEMEA visa a reunião de esforços, de inteligências, de lideranças presentes em outras organizações. Ter um ator político coletivo refletindo, analisando e atuando sobre a realidade dá outra amplitude ao exercício ativo da cidadania.

O CFEMEA foi eleito, em diferentes oportunidades, para exercer a secretaria ou a coordenação de redes e articulações. Em 1998-1999, participou do Conselho Diretor da Rede Feminista de Saúde; de 2000 a 2002, foi responsável pela Secretaria Executiva da Articulação de Mulheres Brasileiras; é a atual Secretaria Executiva do Fórum Brasil de Orçamento, além de participar da Coordenação da Articulación Feminista Marcosur.

Estando à frente de coordenações ou secretarias, ou atuando como integrantes dessas redes, nossa estratégia tem se voltado para fortalecer o traço policêntrico e de horizontalidade dessas articulações. Entendemos que estas são características essenciais à vitalidade das próprias redes. Numa rede, tem poder quem tem iniciativa. Assim, a localização do poder muda constantemente.


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