Este mês, temos uma data especial para refletir. O 25 de novembro, desde 1981, tornou-se o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher. A data foi instituída em 1960, durante o 1° Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, em homenagem às irmãs Mirabal, brutalmente assassinadas na República Dominicana, durante o regime do ditador Trujilo.
Mesmo que estejamos já no século XXI, o problema desta data ainda permanece grave. Inúmeras mulheres, no mundo todo, continuam sendo assassinadas por maridos, ex-maridos, namorados, governos fundamentalistas, entre outros. Milhares são rotineiramente espancadas e perseguidas por homens acostumados a dominar e a impor poder sobre a mulher. Mas quem são essas mulheres? Onde estão? Elas são negras, brancas, amarelas, ricas, pobres, ou melhor, são de todas as raças, etnias, idades e classes sociais. Podem ser vizinhas, amigas, nossa mãe ou a gente mesma. O problema mora ao lado ou dentro da nossa casa. Acontece com mais freqüência nas relações conjugais e já está mais que na hora de propagarmos a idéia de que o casamento não é sinônimo de uma relação hierárquica no sentido homem/mulher, e que não dá àqueles o direito de impor-se através de pressões psicológicas e agressões físicas.
Tanto essa violência de dentro de casa, como a outra cometida na rua por estranhos, em forma de abusos sexuais, são fenômenos graves, com conseqüências múltiplas para as mulheres, seus filhos e sociedade em geral. Na economia do país, a violência pode afetar a produção, pois a mulher rotineiramente afetada por agressões falta mais ao trabalho, produz menos e pode ganhar abaixo daquelas que não sofrem maus-tratos, significando uma perda estimada de salário regional de 1,6 a 2% do PIB. Segundo o Banco Mundial, o Brasil também perde 10,5% do seu PIB (cerca de R$ 84 bilhões anuais) com os problemas da violência, incluindo gastos com aparelho policial, sistema judiciário, serviços de saúde e sociais em geral.
A situação de maus tratos vivida pela mulher também atinge múltiplos patamares. A violência exerce um tipo específico de opressão sobre a mulher, na medida em que a submete a um constante estado de medo, insegurança e vulnerabilidade, muitas vezes limitando sua vida social, amorosa e sua autonomia pessoal. A crise psicológica costuma caracterizar-se pela perda de auto-estima, depressão, fobias, crises de angústia, psicoses, medo de relações sexuais e tentativas de suicídio.
Diante disso, podemos afirmar que já está mais que na hora de reagir individual e coletivamente para romper esta escalada de abusos contra a mulher. O desafio de se erradicar a violência de gênero está fervilhando na pauta do movimento feminista, na mídia e assembléias legislativas. No entanto, a reação individual das próprias mulheres violentadas também é essencial neste processo. A denúncia nas delegacias, a retomada dos estudos, a busca de um novo emprego, a separação conjugal, a divisão de tarefas no lar e a não submissão aos papéis tradicionais do casamento são alguns dos caminhos que já podem ser traçados pelas mulheres de hoje. O trabalho de erradicação do conflito exige não só a criação de mecanismos de apoio e tratamento, como também a tentativa de mudança nos padrões culturais sexistas que tendem a subordinar a mulher ao homem.
Nunca é demais lembrar que a violência contra a mulher deve ser tratada como um problema de segurança pública. E o Estado deve oferecer as condições legais, os mecanismos institucionais e os recursos financeiros para que esse problema seja enfrentado. Além disso, precisamos valorizar o diálogo, buscar a solução prática dos conflitos, promover a cultura da paz.
Todas e todos podem ajudar! Que tal começarmos a pensar em formas de reações cidadãs? Que tal começarmos a meter a colher na briga do casal que mora ao lado? Chamar a polícia! Bater na porta! Gritar para o mundo que nenhum homem tem o direito de espancar ou abusar sexualmente de uma mulher!