Na 7ª Marcha das Margaridas, permeando as lutas, garantindo as mulheres, firmou-se a presença do cuidado e do autocuidado
Cfemea
A marcha das margaridas é um dos momentos mais esperados dos movimentos sociais brasileiros, principalmente das mulheres do campo, das florestas, das águas e das cidades deste Brasil continental.
Em 2019, as margaridas marcharam imersas em uma atmosfera violenta, muitas vezes aterrorizante, sob a égide autoritária do governo fascista recém-eleito. A 7ª edição, teve um gosto especial! Em 2023 as margaridas floriram a Capital Federal exalando seus aromas, colorindo o asfalto quente, umedecendo a terra seca do serrado, com as vozes da resistência que saudavam os novos tempos de esperança para a vida das mulheres.
Mais de 100 mil mulheres vieram soprar novos ventos para democracia e bem viver. A disposição de reconstruir o Brasil ecoou na Esplanada como um grito de luta, um chamado coletivo das mulheres, para as mulheres, para o povo excluído que nunca teve acesso aos bens e riquezas que ajudam construir. E, marcharam na defesa dos bens comuns, da biodiversidade, de nossos rios, florestas e territórios e de tudo o que pode nos assegurar uma vida com dignidade livre das violências.
Vale lembrar que as margaridas iniciam sua semeadura muito antes da marcha em si, toda a preparação desse grandioso ato é um processo que demanda tempo, energia, esforços em todos os territórios. Toda a articulação empreendida para a chegada e partida das margaridas é uma ação que envolve o desejo de unir, resistir, fortalecer e transformar as duras realidades das mulheres de todos os cantos deste país.
É com este impulso de transformação que as mulheres se organizam das mais diversas formas para chegarem até Brasília, juntando a experiência das mais velhas com a efervescência das mais novas, as longas estradas com a felicidade de estar juntas desfrutando de quilômetros de prosas, compartilhando cuidados, sabedorias ancestrais, desgostos, prazeres, segredos e sonhos de um mundo com oportunidades, liberdade e respeito a todas as mulheres.
Nessa longa caminhada pelo Bem Viver o autocuidado e o cuidado coletivo é parte essencial do processo, pois só é possível seguir sendo flor se o cultivo de cada margarida for de si para si, e de todas para todas. Esse jardim lilás, roxo, feminista antirracista, anticapitalista, antilgbtqia+, decolonial também exala Cuidados e cultiva emoções, limites, vínculos, subjetividade e individualidade porque sabe da importância de cuidar de si para poder cuidar das outras e que uma não anula a outra, ao contrário disso, somam-se, crescem e expandem, e como as margaridas seus rizomas são o broto para nova florada.
O primeiro dia de debates dentre os temas estruturantes para o Bem viver das mulheres o autocuidado e o cuidado com as mulheres que lutam. Uma sociedade de cuidados, cuidadosa e solidária com as mulheres é centro do bem viver.
Nosso corpo, necessita de escutas delicadas, atenciosas. As mulheres que lutam, que marcham, muitas vezes não tem tempo ou são impedidas do cuidar-se, algo tão importante por se tratar de cuidado com nosso primeiro território nosso corpo que não é composto só de matéria, temos nossas emoções e, escutá-las é fundamental.
Nós do Cfemea, junto com a Articulação de Mulheres Brasileiras-AMB e a rede de Tecelãs do Cuidado compomos a tenda da cura, um espaço da marcha para cuidado e autocuidado.
É gratificante quando as marchantes percebem a importância do tempo de cuidar-se, do tempo do abraçar-se e dar vazão ao sentir e ao sentido do seu território em luta pelo bem viver, pelo viver bem!