Movimentos de mulheres e feministas do Distrito Federal e Entorno vão realizar um grande ato unificado pelo Dia Internacional da Mulher na próxima quarta-feira (8). A ação – cuja concentração está marcada para as 16h em frente ao Museu da República – retoma para esta data o sentido de luta por direitos. Em Brasília, mais de 50 organizações feministas, de mulheres e ativistas autônomas constroem o ato contra a perda de direitos que o atual momento político do país representa.
“Num contexto agravado pelo golpe parlamentar, jurídico e midiático, a união das mulheres se mostra ainda mais urgente. Em vez de ser solução para a crise econômica, o ajuste fiscal proposto pelo governo aprofunda a concentração de renda, aumenta a desigualdade e promove o desemprego. O governo golpista também avança nas privatizações, corta investimento nas políticas sociais e retira direitos, atingindo diretamente nossas vidas”, diz o documento assinado pelas brasilienses.
No que diz respeito à Reforma da Previdência, o movimento compreende que ela aprofunda as desigualdades entre homens e mulheres, porque retira do Estado seu papel proteção social, aumentando a sobrecarga de trabalho de cuidado das mulheres. “Além disso, ao defender a mesma idade e o mesmo tempo de contribuição para homens e mulheres desconsidera as jornadas de trabalho que acumulamos diariamente e as dificuldades que temos para contribuir com a previdência ao longo da vida”, explica o texto.
No mundo, o 8 de Março será marcado pela Parada Internacional de Mulheres, que acontecerá em 30 países, de todos os continentes. Com essa movimentação mundial, as mulheres se reconhecem como centro da resistência contra retrocessos de direitos.
A LUTA NO BRASIL RECENTE – Em 2015, a “Primavera Feminista” ocupou as ruas do País para dizer não ao machismo, ao assédio e ao projeto conservador de Eduardo Cunha que dificultava o acesso ao aborto legal por vítimas de estupro. Em Brasília, mais de 70 mil mulheres do campo e da floresta fizeram a Marcha das Margaridas. A cidade também foi enegrecida pela Marcha Nacional das Mulheres Negras, composta por mais de 50 mil mulheres unidas contra a combinação do racismo e do machismo, que faz das mulheres negras as maiores vítimas do feminicídio, da violência, do subemprego, da pobreza e da falta de acesso à saúde e à educação.
É importante lembrar que o Brasil tem uma das piores índices de representatividade de mulheres na política. São menos de 10% de deputadas e menos de 15% de senadoras – é cerca de dez pontos percentuais menor que a média mundial. Não fosse a participação social das mulheres provocando as estruturas políticas, os direitos ainda estariam no século passado.
Veja os principais pontos de luta das mulheres do Distrito Federal:
Por que paramos?
* Basta de feminicídio: o Brasil está entre os cinco países com maior índice de homicídios de mulheres, segundo o Mapa da Violência 2015. No DF, a taxa desse crime cresceu 41,1% entre 2006 e 2013. Seis cidades do Entorno estão entre as cem onde mais se matam mulheres no País. As vítimas preferenciais são as negras, jovens e com baixa escolaridade.
* Contra a cultura do estupro: no Brasil, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada. No DF, 60% dos estupros em 2016 vitimaram jovens com menos de 14 anos de idade. É comum culpar a vítima pela violência sofrida e tratar a agressão dos homens como algo normal. Cantadas de rua, piadas sexistas, ameaças, assédio moral e sexual dão formato à cultura do estupro, cuja violência tem consequências seríssimas para nossas vidas.
* Pela legalização do aborto: o aborto está entre as principais causas de morte de mulheres no Brasil. A cada dois dias, uma mulher morre em decorrência de aborto clandestino. Esse grave problema de saúde pública mata sobretudo as mulheres em situação de vulnerabilidade: por não ter como pagar, mulheres pobres, negras e com menos escolaridade recorremos a métodos que ameaçam nossas vidas.
* Pelo fim do racismo cotidiano contra as mulheres negras: nosso passado escravocrata e ausência de políticas, ao longo dos séculos, voltadas às mulheres negras nos colocam em posição subalterna, como objetos sexuais, tirando-nos o acesso a direitos fundamentais e reforçando desigualdades baseadas em gênero e raça/cor. Mulheres e meninas negras enfrentamos desproporcionalmente a combinação de múltiplas formas de discriminação e somos a maioria das vítimas em diversos indicadores de violações de direitos, inclusive nos feminicídios, forma mais grave de violência contra as mulheres.
* Pelo fim da lesbofobia e da bifobia e pela vida das mulheres trans: o Brasil é onde mais se matam LGBTs. A sobreposição de preconceitos aumenta o risco e faz com que a violência dentro e fora de casa seja real para lésbicas, mulheres bissexuais, trans e travestis. O preconceito e o machismo institucionais (em escolas, serviços de atendimento de saúde, segurança e justiça) negam-nos o acesso ao mercado de trabalho e o direito à nossa identidade.
* Pelos direitos das mulheres com deficiência: aproximadamente 40% das mulheres com deficiência no mundo já sofreram violência doméstica. No Brasil, somos mais de 25 milhões de mulheres com deficiência, a maioria negras. Pelo isolamento social e pelo silêncio que circunda nossos corpos e nossas vidas, ficamos ainda mais expostas a todo tipo de violência e de abuso.
* Pela vida das mulheres em privação de liberdade: o sistema carcerário reproduz as desigualdades de gênero, restringindo as oportunidades de estudo e de trabalho para as mulheres.
* Pelo fim da violência contra indígenas, quilombolas e mulheres do campo: principais responsáveis pela agricultura familiar e pela pecuária, somos as que mais sofremos com a atuação de grandes empresas em nossos territórios e as desigualdades trazidas por esse modelo de crescimento econômico.
A luta a que as mulheres se propõem é por outra sociedade, mais justa e solidária, que saiba valorizar todos os conhecimentos, em especial os ancestrais e tradicionais. É também por relações que não se pautem nos ganhos individuais, na exploração e no lucro. “Lutamos pela desconstrução da lógica da casa grande e da senzala. Pelo fim da cultura machista. Pela construção de uma cultura política que valorize as diferenças e não as transforme em desigualdades”. É por um sociedade em que todos os corpos, etnias, religiões e crenças, todas as sexualidades e gêneros, no campo e na cidade, tenham as mesmas oportunidades.
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Ismália Afonso
Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA)
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Tati Magalhães
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