FÊMEA ESPECIAL SOBRE AS JORNADAS DE JUNHO DE 2013

A edição especial do Jornal Fêmea, número 175, de novembro a dezembro de 2013, trouxe a pulsação que as Jornadas de Junho imprimiram ao país, apontando o novo cenário político com um misto de “alívio, surpresa e euforia”. A edição destaca o desafio de voltar a dialogar com a sociedade:

“Nossa luta dos últimos 25 anos por direitos e políticas para as mulheres tinha que se reposicionar para ser capaz de entabular esse diálogo. As jornadas de junho forçaram esse movimento e nos jogaram nesse novo lugar”.

Neste novo cenário salta aos olhos a cisão entre a sociedade brasileira e as instituições públicas. Para além de insatisfações com os governos, as multidões que foram às ruas naquele momento – e seguiram neste movimento daí por diante – ecoam “uma insatisfação com a forma como nosso Estado está estruturado: em legislações ora ultrapassadas, ora não implementadas; com a sistemática violação de nossos direitos humanos, econômicos, políticos, culturais, sociais e ambientais; com um sistema político patrimonialista, patriarcal e racista, incapaz de garantir a representatividade democrática que deveria”.

Embora as manifestações tenham sido um sinal de alerta para a classe política, não houve escrúpulos em retroceder a 30 anos da história brasileira, recorrendo à repressão policial que “jurou-se nunca mais repetir”:

“O poder, até ali tão sólido, parece que se desmanchou no ar e nossos ilustres poderosos ficaram com medo”.

Paralelamente o Governo Federal apresentou uma agenda positiva e um conjunto de pactos nacionais. Voltou-se a discutir a tarifa zero para o transporte público “como se dela dependesse a contenção do terremoto”.

A equipe do CFEMEA avaliou a mudança de cenário também para os movimentos sociais:

“Nós, que há tanto tempo estamos nas ruas, nós que não dormíamos, mas que também fomos despertad@s pelas multidões. Nós também fomos surpreendid@s por elas. E nos cabe agora nos juntar a essas multidões, formar parte dessa pluralidade e dialogar para tentar construir o que queremos. Voltar às ruas e aos territórios, recuperar a concretude dos direitos, das lutas e dos sentidos políticos das transformações que queremos alcançar. Encontrar ativistas, debater e buscar nexos entre tantas e diferentes lutas”.

Para o CFEMEA as Jornadas de Junho “trouxeram para as ruas formas vivas de fazer política”. E o jornal ressalta o que denomina “nova estética, polifônica, sem palanque, nem carro de som”, uma estética que traduz a diversidade dos grupos que saíram às ruas para interpelar o Estado e a sociedade:

“Cadê o Amarildo? Meu corpo, minhas regras! O corpo é meu, a cidade é nossa! Da Copa eu abro mão, quero dinheiro pra saúde e educação! Tarifa Zero! Não são só R$ 0,20! Abaixo o Estatuto do Nascituro! Não nos representam! Fora Feliciano! Fora Renan! Reforma Política já! Sem violência! Abaixo a corrupção!”