9º ENCONTRO NACIONAL FEMINISTA - 1987

Por quase uma década esses encontros anuais vinham sendo espaços de reflexão, intercâmbio e formulação de estratégias do movimento feminista brasileiro, e cresciam no número de participantes e na diversidade de segmentos que aderiam ao evento. Mulheres negras sempre estiveram presentes, mas, em geral, suas relações com o conjunto das mulheres eram tensionadas, principalmente pelas críticas que faziam à identidade genérica e ao caráter homogêneo assumido pelo feminismo, que resultava excludente ao colocar sob o mesmo manto de opressão todas as mulheres.

Para este grupo, ignorar a especificidade das mulheres negras, com o peso que têm na balança demográfica, era uma prática que vinha alimentando o desconhecimento sobre graves questões que diariamente as atingem, com mais aguda marginalização social e econômica e uma lacuna social com relação às feministas brancas.

Neste sentido o 9º Encontro Nacional Feminista, que aconteceu entre os dias 04 a 06 de setembro de 1987, em Garanhuns (PE), representou um ponto de inflexão. Paralelamente aos debates sobre os mais diversos temas (saúde e direitos reprodutivos, trabalho e renda, violência, participação nos espaços de poder, corpo e sexualidade etc), ocorreram várias sessões promovidas pelas mais de 200 militantes negras vindas de diversos estados. O grupo recebeu reforço com a visita da recém-eleita deputada federal Benedita da Silva (PT/ RJ), que estimulou o aprofundamento deste debate. Como resultado, ficou decidido que era hora das militantes negras realizarem um encontro próprio, o que aconteceu no ano seguinte no Rio de Janeiro.

A Comissão Organizadora do 9º ENF era composta por um conjunto diverso de organizações de mulheres pernambucanas, e sua reunião para realizar esta empreitada resultou na fundação do Fórum de Mulheres de Pernambuco, que anos depois participou da criação da Articulação de Mulheres Brasileiras.